Mycena adonis
Mycena adonis é uma espécie de fungo da família de cogumelos Mycenaceae. Produz pequenos corpos de frutificação com chapéus em forma de sino que atingem 1,2 cm de diâmetro. Sua cor varia com a umidade, sendo vermelho quando úmido e alaranjado a cor de couro se estiver mais seco. O chapéu é sustentado por uma frágil estipe de apenas 2 milímetros de espessura e que cresce até 4 centímetros de altura. O cogumelo não tem qualquer odor ou sabor, e é considerado pelos especialistas como não-comestível. A espécie pode ser confundida com várias outras do gênero Mycena, incluindo M. acicula, com a qual só pode ser distinguida de modo confiável pelas características microscópicas.
Mycena adonis | |||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Mycena adonis (Bull.) Gray | |||||||||||||||
Sinónimos | |||||||||||||||
Agaricus adonis Bull. Hemimycena adonis (Bull.) Singer |
Foi descrita pela primeira vez em 1792 por Jean Bulliard, sendo batizada na época de Agaricus adonis. Mais tarde, em 1821, foi transferida para o gênero Mycena por Samuel Frederick Gray, formando assim seu nome atual. Os cogumelos crescem na primavera e no outono, solitários ou agrupados, em florestas de coníferas, próximos a abetos e cicutas. Na natureza, o M. adonis é encontrado no oeste da América do Norte, em alguns países da Europa e nas Ilhas Canárias. A espécie já foi registrada também no vale do rio Ussuri, no nordeste da China. Próximo a Amsterdã, nos Países Baixos, corpos de frutificação do fungo foram encontrados crescendo em árvores decíduas como Acer granatense e salgueiro (Salix alba). Acredita-se que a casca destas árvores se tornou mais ácida nos últimos anos devido ao aumento da poluição atmosférica (especificamente, os aumentos nos níveis de ácido sulfúrico e nítrico provenientes da fumaça industrial), proporcionando assim um substrato mais adequado para o fungo.
Taxonomia
editarA espécie foi descrita cientificamente pela primeira vez em 1792 pelo botânico Jean Baptiste Pierre Bulliard, sendo batizada na época de Agaricus adonis.[1] Mais tarde, em 1821, foi transferida para o gênero Mycena por Samuel Frederick Gray, formando assim a nomenclatura binominal aceita hoje: Mycena adonis.[2] Apesar do micologista alemão Rolf Singer ter movido o cogumelo para outros gêneros, tais como o Hemimycena (1943)[3] e Marasmiellus (1951),[4] ele mesmo mudou de ideia e em sua obra Agaricales in Modern Taxonomy, de 1968, trouxe a espécie de volta para os Mycena,[5] corroborando assim com a classificação de Gray feita no século anterior. Os outros nomes atribuídos ao fungo são hoje sinônimos obrigatórios.[6]
Nos países de língua inglesa, o cogumelo é popularmente conhecido como "scarlet bonnet".[7] Samuel Frederick Gray chamou-a de "Adonis high-stool" na sua obra Natural Arrangement of British Plants, de 1821;[2] enquanto Mordecai Cubitt Cooke se referiu ao fungo como "delicate Mycena".[8]
Descrição
editarO píleo (o "chapeú" do cogumelo) tem a princípio uma forma acentuadamente cônica, mas a medida que o fungo cresce fica mais estreito e com formato de sino ou de cone largo na maturidade, tipicamente atingindo 0,5 a 1,2 centímetros de diâmetro. A margem do píleo é inicialmente comprimida contra a estipe e de tonalidade opaca ou quase opaca. Quando fresco, é úmido e de cor vermelho escarlate, tornando-se laranja ou laranja-amarelado antes de ir perdendo a umidade. O cogumelo muda de cor conforme a umidade, e quando seco fica da cor de couro. A carne é fina e frágil, da mesma cor do píleo, e sem qualquer gosto ou odor característico. As lamelas são adnatas ascendentes (ou seja, se anexam à estipe em ângulo agudo, parecendo fazer uma curva ascendente em direção ao tronco) ou fixadas por um "dente", com 14 a 16 lamelas atingindo o tronco. Além disso, existem duas ou três camadas de lamélulas, que são lamelas curtas que não se estendem completamente a partir da borda do píleo até a estipe. As lamelas são estreitas, e de cor amarelada ou com um tom avermelhado quando o fungo ainda é jovem; suas margens são mais pálidas e da mesma cor que suas faces. A estipe tem de 2 a 4 cm de comprimento e de 1 a 2 mm de espessura, sendo aproximadamente igual em toda a extensão. É tubular e frágil, inicialmente coberta com um pó fino, e fica polida e lisa com o passar do tempo; tem cor amarelo pálido, tornando-se depois esbranquiçada, com a base muitas vezes com um tom amarelo "sujo" ou marrom.[9] Os cogumelos M. adonis não são comestíveis.[10]
Características microscópicas
editarOs esporos têm formato estreitamente elipsoide, não são amiloides, e medem de 6 a 7 por 3 a 3,5 micrômetros (µm). Os basídios (as células que carregam os esporos) possuem quatro esporos cada e medem de 20 a 22 por 6 a 7 µm. Tanto os queilocistídios como os pleurocistídios (cistídios encontrados, respectivamente, nas bordas e nas faces das lamelas) são abundantes e têm formatos e detalhes parecidos. Eles medem de 40 a 58 por 10 a 15 µm, afilando-se ligeiramente em cada extremidade e geralmente com um "pescoço" comprido em forma de agulha (ramificado em algumas células). Os cistídios são geralmente lisos, mas quando o cogumelo seco é fixado com hidróxido de potássio para observação ao microscópio óptico, uma substância amorfa aparentemente detém os esporos e detritos ao redor do "pescoço" ou do ápice, fazendo-os parecerem incrustados. A carne das lamelas se cora muito fracamente de marrom-vináceo quando corada com iodo. Já a carne do píleo tem uma película fina e pouco diferenciada com uma região de células ligeiramente alargadas abaixo dela; o restante é filamentoso, e a parte filamentosa se mancha de castanho-vináceo quando lhe é aplicado iodo.[9]
Espécies semelhantes
editarExistem vários outros cogumelos do gênero Mycena com os quais o Mycena adonis pode ser confundido. M. acicula é um cogumelo geralmente menor, com um chapéu de cor laranja-vermelho intenso ao invés da tonalidade rosa-salmão brilhante típica do M. adonis. Já que as cores e tamanhos de M. acicula e M. Adonis são semelhantes, é necessário usar um microscópio para fazer a distinção entre essas espécies de forma confiável, pois os tamanhos e formatos dos esporos são diferente. M. strobilinoides pode ser diferenciado do M. Adonis por seus chapéus laranja e esporos amiloides. M. aurantiidisca pode ser distinguido do M. Adonis pela falta de tons rosados e escarlate no píleo e pela ausência de hifas corticais gelatinizadas. Mycena oregonensis difere do M. Adonis por seu chapéu de cor laranja a amarelo e falta de tons rosados e escarlate.[11] M. roseipallens tem um corpo de frutificação menor, esporos mais largos, um píleo menos cônico e menos intensamente colorido, e cresce sobre restos de madeira caídos de árvores como ulmeiros e amieiros.[12]
Ecologia, habitat e distribuição
editarOs corpos de frutificação do Mycena adonis crescem solitários ou agrupados em florestas de coníferas, e aparecem na primavera e no outono. Os cogumelos se desenvolvem próximos uns dos outros ou espalhados sobre uma camada de abetos e cicutas de florestas úmidas de coníferas, no litoral ou em montanhas mais altas, onde não é incomum nos meses da primavera e outono. Por exemplo, os corpos de frutificação do fungo foram encontrados crescendo em árvores decíduas como Acer granatense e o salgueiro (Salix alba), perto de Amsterdã, nos Países Baixos. Levantou-se a hipótese de que a casca destas árvores se tornou mais ácida nos últimos anos devido ao aumento da poluição atmosférica (especificamente, os aumentos nos níveis de ácido sulfúrico e nítrico provenientes da fumaça industrial), proporcionando assim um substrato mais adequado para o fungo.[13]
Na natureza, o M. adonis é encontrado no oeste da América do Norte,[10] na Europa (Grã-Bretanha,[14]Alemanha,[15] Países Baixos e Escócia)[13][16] e nas Ilhas Canárias.[17] Em 2007, foi publicada a coleta da espécie no vale do rio Ussuri, no nordeste da China.[18] O especialista em cogumelos Mycena Alexander H. Smith encontrou as espécies nos estados de Washington, Oregon e Califórnia.[9]
Referências
- ↑ Bulliard JBF, Ventenat EP. (1792). Histoire des champignons de la France, compl., pl. 369-372, 509-540 (em francês). 2. Paris: [s.n.] pp. 445–46. Consultado em 1 de junho de 2010
- ↑ a b Gray SF. (1821). A Natural Arrangement of British Plants. [S.l.: s.n.] p. 620. Consultado em 24 de setembro de 2010
- ↑ Singer R. (1943). «Das System der Agaricales. III». Annales Mycologici. 41: 123
- ↑ Singer R. (1949). «The Agaricales in modern taxonomy». Liloa. 22 (2): 123
- ↑ Singer R. (1986). The Agaricales in Modern Taxonomy 4th ed. Koenigstein: Koeltz Scientific Books. p. 413. ISBN 3-87429-254-1
- ↑ «Mycena adonis (Bull.) Gray 1821». MycoBank. International Mycological Association. Consultado em 24 de setembro de 2010
- ↑ «Recommended English Names for Fungi in the UK» (PDF). British Mycological Society. Consultado em 24 de setembro de 2010. Arquivado do original (PDF) em 16 de Julho de 2011
- ↑ Cooke MC. (1871). Handbook of British fungi, with full descriptions of all the species, and illustrations of the genera. London: Macmillan and co. p. 66. ISBN 978-1-110-35673-7. Consultado em 27 de setembro de 2010
- ↑ a b c Smith, pp. 177–78.
- ↑ a b Miller HR, Miller OK. (2006). North American Mushrooms: a Field Guide to Edible and Inedible Fungi. Guilford, Conn: Falcon Guide. p. 167. ISBN 0-7627-3109-5. Consultado em 24 de setembro de 2010
- ↑ Wood M, Stevens F. «Mycena adonis». California Fungi. MykoWeb. Consultado em 24 de setembro de 2010
- ↑ Smith AH. (1936). «Studies in the genus Mycena. III». Mycologia. 28 (5): 410–30. JSTOR 3754114. doi:10.2307/3754114
- ↑ a b Reijnders J. (1977). «Mycena adonis as a deciduous tree epiphyte». Coolia (em holandês). 20 (4): 109–10
- ↑ Anonymous (1913). «Additions to the Wild Fauna and Flora of the Royal Botanic Gardens, Kew.: XIV». Bulletin of Miscellaneous Information (Royal Gardens, Kew). 6: 195–99. JSTOR 4115004
- ↑ Straus A. (1959). «Beiträge zur Pilzflora der Mark Brandenburg II». Willdenowia. 2 (2): 231–87. JSTOR 3995350
- ↑ Kirk PM, Spooner BM. (1984). «An sccount of the fungi of Arran, Gigha and Kintyre». Kew Bulletin. 38 (4): 503–97. JSTOR 4108573. doi:10.2307/4108573
- ↑ Dennis RWG. (1990). «Fungi of the Hebrides: supplement». Kew Bulletin. 45 (2): 287–301. JSTOR 4115687. doi:10.2307/4115687
- ↑ Bau T, Bulakh YM, Zhuang JY, Li Y. (2007). «Agarics and other macrobasidiomycetes from Ussuri River Valley». Mycosystema. 26 (3): 349–68. ISSN 1672-6472
Bibliografia
editar- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Mycena adonis», especificamente desta versão.
- Smith AH (1947). North American Species of Mycena. Ann Arbor, Michigan: University of Michigan Press
Ligações externas
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