O Jeca Macumbeiro

filme de 1974 dirigido por Pio Zamuner

O Jeca Macumbeiro é um filme brasileiro do gênero comédia, produzido em 1974 e lançado em 1975, dirigido por Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi, que também estrela o filme e assina o roteiro.[1] Considerado um dos grandes sucessos de bilheteria de Mazzaropi, o filme consolidou sua popularidade e seu estilo único de humor caipira, dialogando com questões sociais e culturais do Brasil da época.

O Jeca Macumbeiro
Brasil
1975 •  cor •  87 min 
Género comédia
Direção Pio Zamuner
Amácio Mazzaropi
Produção Amácio Mazzaropi
Roteiro Amácio Mazzaropi
Elenco Amácio Mazzaropi
Joffre Soares
Selma Egrei
Gilda Valença
Ivan Lima
Felipe Levy
Música Hector Lagna Fietta
Catulo da Paixão Cearense
Amácio Mazzaropi
Distribuição PAM Filmes
Lançamento
Idioma português
Receita Cr$ 18 578 277,24[2]

Sinopse

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Pirola (Amácio Mazzaropi) é um caboclo simples e ingênuo que vive com seu filho Zé (José Mauro Ferreira) em uma modesta casa na fazenda do Coronel Januário (Joffre Soares), um homem aparentemente rico e poderoso, mas que secretamente enfrenta a falência. A filha de Pirola, Filomena (Selma Egrei), é casada com Mário (Ivan Lima), filho do coronel.

A vida de Pirola muda quando um velho amigo à beira da morte lhe entrega uma sacola cheia de dinheiro. Sem saber como lidar com a fortuna repentina e temendo ser roubado, Pirola busca o conselho de seu patrão. Vendo a oportunidade de salvar suas finanças, o Coronel Januário elabora um plano ardiloso: finge ser um pai de santo com supostos poderes mediúnicos para convencer Pirola a lhe entregar o dinheiro, prometendo "protegê-lo" espiritualmente.[3][4]

Elenco

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Fonte: Cinemateca Brasileira[1]

  • Amácio Mazzaropi como Pirola
  • Joffre Soares como Coronel Januário
  • Selma Egrei como Filomena
  • Gilda Valença como Ignácia (esposa do Coronel)
  • Ivan Lima como Mário
  • José Mauro Ferreira como Zé (filho de Pirola)
  • Maria do Roccio como Ester
  • Aparecida de Castro
  • Felipe Levy como Padre
  • Broto Cubano
  • Araken Saldanha como Prefeito
  • Jair Talarico como Tonhão
  • Pirolito como Seu Nhô Nhô (amigo de Pirola que lhe dá o dinheiro)
  • José Velloni como Delegado
  • Miltinho
  • Netinho

Produção

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Produzido pela PAM Filmes, produtora de Mazzaropi, O Jeca Macumbeiro foi filmado em 1974.[1] A direção foi compartilhada entre Pio Zamuner, parceiro habitual de Mazzaropi na direção de fotografia e, posteriormente, na direção, e o próprio Amácio Mazzaropi, que também escreveu o roteiro, mantendo total controle criativo sobre a obra.[5]

A trilha sonora do filme inclui canções populares e composições originais, como:

O filme foi rodado em cor (Eastmancolor) e em película de 35mm, com formato de tela 1.37:1.[1]

Lançamento e Recepção

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Lançamento

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O Jeca Macumbeiro teve seu lançamento em São Paulo no dia 24 de fevereiro de 1975.[1]

Bilheteria

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O filme foi um estrondoso sucesso de público, alcançando a marca de 3 021 248 espectadores e uma renda de 18 578 277 cruzeiros e 24 centavos.[2] Com esses números, O Jeca Macumbeiro figurou em primeiro lugar na lista das dez maiores rendas de filmes nacionais no ano de 1975,[2] reafirmando a força popular do cinema de Mazzaropi. Algumas fontes indicam que o filme já era a maior bilheteria nacional em 1974, possivelmente devido a um lançamento limitado no final daquele ano, mas seu impacto principal e a liderança nas bilheterias se consolidaram em 1975.[6]

Crítica

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Assim como a maioria dos filmes de Mazzaropi, O Jeca Macumbeiro obteve grande apelo popular, mas enfrentou certa indiferença ou mesmo desprezo por parte da crítica especializada da época.[7] Os críticos frequentemente apontavam para a simplicidade de suas tramas, o humor considerado ingênuo e a estética que fugia aos padrões do Cinema Novo e outras correntes mais valorizadas intelectualmente.

No entanto, análises posteriores e estudos acadêmicos têm reavaliado a obra de Mazzaropi, reconhecendo sua importância como fenômeno cultural e sua habilidade em criar um cinema genuinamente brasileiro, que dialogava diretamente com as classes populares e migrantes, refletindo seus valores, anseios e críticas sociais de forma acessível.[8] A figura do Jeca, embora cômica, frequentemente carregava críticas veladas à modernização excludente, à exploração do homem do campo e às desigualdades sociais.

Contexto e Temas

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O Jeca Macumbeiro se insere no contexto do regime militar brasileiro, um período de modernização conservadora e forte controle ideológico. O cinema de Mazzaropi, com seu humor popular e sua aparente despretensão política, conseguia circular amplamente, muitas vezes abordando temas sensíveis de forma indireta.

Os principais temas explorados no filme incluem:

  • A ingenuidade do caipira versus a malícia urbana/dos poderosos: Um tema recorrente na obra de Mazzaropi, onde a pureza e honestidade do Jeca (Pirola) são postas à prova pela ganância e esperteza de figuras de autoridade ou mais "esclarecidas", como o Coronel Januário.
  • Crítica à falsa religiosidade e à exploração da fé: A trama central gira em torno da farsa montada pelo Coronel, que se aproveita da crença e do desespero de Pirola para enganá-lo. Isso pode ser visto como uma crítica à instrumentalização da fé para fins egoístas.
  • Questões de classe e desigualdade social: A disparidade entre a simplicidade de Pirola e a opulência (mesmo que decadente) do Coronel Januário evidencia as tensões sociais e a vulnerabilidade dos mais pobres.
  • Valores familiares e comunitários: Apesar das adversidades, os laços familiares e a solidariedade entre os personagens simples são frequentemente valorizados nos filmes de Mazzaropi.

É importante notar que, ao contrário do que algumas fontes iniciais indicavam (incluindo a primeira versão deste artigo), a sátira direta ao filme O Exorcista (1973) não ocorre em O Jeca Macumbeiro, mas sim em outro filme de Mazzaropi, Jeca Contra o Capeta, lançado posteriormente (1975/1976).[9]

Legado

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O Jeca Macumbeiro permanece como um dos títulos mais emblemáticos e bem-sucedidos da vasta filmografia de Amácio Mazzaropi. Sua imensa popularidade na época de lançamento atesta a conexão profunda do cineasta com o público brasileiro, especialmente as camadas populares que se viam representadas na tela.

O filme, assim como outros de Mazzaropi, contribuiu para a consolidação do gênero "cinema caipira" e para a manutenção de uma indústria cinematográfica nacional independente e lucrativa, focada no mercado interno. A figura de Pirola, como uma das variações do Jeca, é parte fundamental do imaginário cultural brasileiro.

Atualmente, o filme continua a ser exibido em canais de televisão, plataformas de streaming e retrospectivas dedicadas à obra de Mazzaropi, como as realizadas pela Cinemateca Brasileira e outras instituições culturais, demonstrando seu valor histórico e seu apelo duradouro.

Ver também

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Referências

  1. a b c d e f «FILMOGRAFIA - O JECA MACUMBEIRO». Consultado em 3 de junho de 2025 
  2. a b c «O Jeca Macumbeiro: Curiosidades». AdoroCinema. Consultado em 1 de junho de 2024 
  3. «Filme O Jeca Macumbeiro - Filmes no Cinema». www.filmesnocinema.com.br. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  4. a b «O jéca macumbeiro (col. mazzaropi vol. 6)». Livraria da Travessa. Consultado em 1 de junho de 2024 
  5. «O Jeca Macumbeiro». AdoroCinema. Consultado em 1 de junho de 2024 
  6. «As Maiores Bilheterias de Mazzaropi: Os Filmes que Levaram Milhões ao Cinema». Museu Mazzaropi. Consultado em 1 de junho de 2024 
  7. GOMES, Paulo César; ALBUQUERQUE, Roberta Kelly Lima de (set–dez. 2015). «Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira para a cinematografia brasileira». Novos Cadernos NAEA. pp. 293–307. Consultado em 1 de junho de 2024 
  8. SANTOS, Kauê Dos (2024). «A cinematografia de Amácio Mazzaropi no auge na ditadura do governo Médici». Mosaico (FGV). pp. 84–100. doi:10.29327/265848.15.24-5. Consultado em 1 de junho de 2024 
  9. «Jeca Contra o Capeta É Sátira do Filme Exorcista?». Museu Mazzaropi. 1 de março de 2022. Consultado em 1 de junho de 2024