O homem dos ratos foi o pseudônimo dado por Sigmund Freud para o seu paciente Ernst Lanzer. Ernst era advogado e procurou Freud em 1907 com queixas típicas de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Temia que caso ele não se comporte de uma determinada maneira, então seus entes queridos serão feridos. Não resistia a fazer contagens e reflexões inúteis mesmo ciente da inutilidade delas. Freud usou as suas interpretações desse caso como base de sua teoria sobre sexualidade, racionalização e neurose obsessiva.[1]

Ernst tinha medo recorrente de que ratos ferissem seus entes queridos.

As interpretações de Freud sobre "O homem os ratos" foram publicadas como "Notas sobre um caso de neurose obsessiva" em 1909 e foi apresentado por Freud em quatro congressos da Sociedade Psicanalítica de Viena e no primeiro congresso psicanalítico internacional em Salzburgo. Relatar que sua melhora foi completa foi uma notável exageração e a história mostra que em diversos pontos críticos Freud mentiu, por exemplo sobre a duração do tratamento (foram poucos meses, mas ele disse que foram vários anos).[1]

Sintomas

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Após ouvir de um capitão cruel sobre uma tortura asiática em que colocava-se esquentavam um pote com ratos para que os ratos penetrassem o ânus das vítimas, Ernst imaginou como seria se fizessem essa tortura com sua namorada ou com seu falecido pai e repudiou esse pensamento como algo absurdo e horrível.

Ernst afirmou que fantasiava sobre assassinato e suicídio e desenvolveu uma série de padrões compulsivos de comportamento irracional. Por exemplo, ele mencionou seu hábito de abrir a porta para seu apartamento entre 12 da meia-noite e 1:00 da manhã, aparentemente para que o fantasma do pai pudesse entrar.

Seu primeiro esforço em masturbar-se foi apenas aos 20 anos.

Ao ver um raio, Ernst não conseguia resistir a contar os segundos até o barulho. Quando estava sozinho e viu uma pedra em um caminho ele removeu-a com medo que eventualmente a carruagem de sua namorada passasse sobre a pedra e virasse ferindo sua namorada, mas depois de refletir sobre o quanto essa ideia era absurda colocou-a de novo no mesmo lugar. Ele ocasionalmente dividia palavras em sílabas e refletia sobre o significado de cada uma delas em outro idioma. Essas compulsões e obsessões estavam prejudicando a vida social e profissional de Ernst e por isso ele procurou a psicanálise.[2]

Depois da psicanálise casou-se com sua namorada e seguiu seu trabalho como advogado até morrer na primeira guerra mundial, 5 anos depois.

Interpretação Freudiana

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Freud interpretou que os sintomas de Ernst eram causados por um desejo inconsciente de ferir sua namorada e seu pai. O conflito entre feri-la e protege-la seria a raiz de seus problemas. Ele contava o tempo entre a luz e o som do raio como forma de acalmar seus impulsos. E tirar e recolocar a pedra no caminho era um momento de conflito entre feri-la e protege-la. Refletir sobre as sílabas era um reflexo de sua profunda dúvida e descrença pelas outras pessoas. O desejo de ferir sua namorada seria por dúvida se ela o amava e por não desejar casar-se com ela. Em relação ao pai ele tinha sentimentos ambivalentes por desejar receber a herança de seu pai e ao mesmo tempo considerar repulsivo esse tipo de pensamento. Os sintomas seriam assim sentimentos ambivalentes inconscientes objetivando adiar o casamento.[3]

Freud baseou-se nesse caso para formular suas teorias sobre a fase anal, erotismo infantil, racionalização, deslocamento e ambivalência. Existem diversas críticas a essas interpretações de Freud, inclusive por parte de seus colegas psicanalistas.[4][5]

Referências

  1. a b Thomson Gale. 'Notes Upon a Case of Obsessional Neurosis' (Rat Man). International Dictionary of Psychoanalysis 2005. http://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/notes-upon-case-obsessional-neurosis-rat-man
  2. Freud, Sigmund. (1909d). Notes upon a case of obsessional neurosis. SE, 10: 151-318.
  3. Guy Thompson. The Truth About Freud's Technique: The Encounter With the Real. NYU press, 1994.
  4. Peter Gay, Freud: A Life for our Time (1989) p. 266
  5. DANIEL GOLEMAN (1990-03-06). "As a Therapist, Freud Fell Short, Scholars Find". New York Times. Retrieved 2008-08-08.