Métrica (poesia)
Índice
- 1 Tipos de canções, versos e poesias
- 2 Métrica antiga e clássica
- 3 Métrica medieval
- 4 Referências
- 5 Ver também
Metro é a medida do verso. O estudo do metro chama-se metrificação e escansão é a contagem dos sons dos versos[1]. As sílabas métricas, ou poéticas, diferem das sílabas gramaticais em alguns aspectos.
Tipos de canções, versos e poesiasEditar
Para contar corretamente as sílabas poéticas, deve-se seguir os seguintes preceitos:
- 1) Não se contam as sílabas poéticas que estejam após a última sílaba tônica do verso
- 2) Ditongos têm valor de uma só sílaba poética.
- 3) Duas ou mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem fundir-se entre uma palavra e outra, formando uma só sílaba poética.
Às várias orações dividindo as sílabas métricas em determinado verso podem ser atribuídos nomes:
MonossílaboEditar
Verso com uma sílaba métrica, como na balada Gentil Sofia, de Bernardo Guimarães[2]:
1 | — |
---|---|
Ma | (nha), |
DissílaboEditar
Verso com duas sílabas métricas, como os presentes em A valsa, de Casimiro de Abreu[3]:
1 | 2 | — |
---|---|---|
Na | dan | (ça) |
TrissílaboEditar
Verso com três sílabas métricas, tendo como exemplo o presente no poema Trem de Ferro, de Manuel Bandeira[4]:
1 | 2 | 3 | — |
---|---|---|---|
Voa, | fu | ma | (ça) |
TetrassílaboEditar
Verso com quatro sílabas métricas, como em um poema de Almanaque das Musas, de Caldas Barbosa[5]:
1 | 2 | 3 | 4 | — |
---|---|---|---|---|
Ou | ço_al | to | can | (to) |
PentassílaboEditar
Verso com cinco sílabas métricas, também conhecido como redondilha menor, presente na quarta parte de I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias[6]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 |
---|---|---|---|---|
Dei | xa- | me | vi | ver! |
HexassílaboEditar
Verso com seis sílabas métricas, também conhecido como heroico quebrado, encontrado no poema A Canção de Romeu, de Olavo Bilac[7]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | — |
---|---|---|---|---|---|---|
A | bre_a | ja | ne | la ... a | cor | (da!) |
HeptassílaboEditar
Verso com sete sílabas métricas, também conhecido como redondilha maior, como em Cantiga sua partindo-se, de João Roiz de Castel-Branco[8]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Se | nho | ra, | par | tem | tão | tris | (tes) |
OctossílaboEditar
Verso com oito sílabas métricas, presente em O bestiário ou cortejo de Orfeu, de Guillaume Apollinaire[9]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ad | mi | rem | o | po | der | no | tá | (vel) |
EneassílaboEditar
Verso com nove sílabas métricas, presente ao longo do Hino ao Senhor do Bonfim, de Arthur de Salles e João Antônio Wanderley[10]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nos | sos | pais | con | du | zis | te_à | vi | tó | (ria) |
DecassílaboEditar
Verso com 10 sílabas métricas, como em Alma minha gentil, que te partiste, de Luís de Camões[11]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Não | te_es | que | ças | da | que | le_a | mor | ar | den | (te) |
HeroicoEditar
Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 6 e 10, como ao longo d'Os Lusíadas, também de Luís de Camões[12]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
As | ar | mas | e_os | ba | rões | as | si | na | la | (dos) |
SáficoEditar
Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 4, 8 e 10, tendo como exemplo este verso de O Uraguai, de Basílio da Gama[13]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Po | rém | o | des | tro | Cai | tu | tu | que | tre | (me) |
MarteloEditar
Decassílabo heroico com tônicas nas posições 3, 6 e 10, como em versos da canção Procissão, de Gilberto Gil[14]
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Mas | se_e | xis | te | Je | sus | no | fir | ma | men | (to) |
Gaita GalegaEditar
Decassílabo com tônicas nas posições 4, 7 e 10, que recebe esse nome em função das muinheiras galegas, cantadas com acompanhamento de gaita de foles, cuja metrificação era ritmada com o instrumento, como em um dos cantares de Dom Fernan Rodrigues de Calheiros[15]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ma | car | m'el | viu, | sol | non | quis | fa | lar | mi | (go) |
HendecassílaboEditar
Verso com 11 sílabas métricas, presente na guarânia Índia[16].
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ín | dia | teus | ca | be | los | nos | om | bros | ca | í | (dos) |
Galope à beira-marEditar
Hendecassílabo com tônicas nas posições 2, 5, 8 e 11, que recebeu esse nome em função da parecença de seu ritmo com o galope e as ondas do mar, tendo seu nome sido inspirado no poema Galope à beira-mar para a mulher amada, de Artur Eduardo Benevides[17]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Can | tan | do_um | ga | lo | pe | na | bei | ra | do | mar! |
DodecassílaboEditar
Verso com 12 sílabas métricas, como os do poema Domínio Régio, de Jorge de Lima[18]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ins | pi | ra | do_a | pen | sar | em | teu | per | fil | di | vi | (no) |
AlexandrinoEditar
Verso dodecassílabo que possui tônicas na sexta e na décima segunda sílaba, formando dois hemistíquios, como no poema Spleen, de Baudelaire[19].
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | — |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Do | bu | fão | fa | vo | ri | to_a | gro | tes | ca | ba | la | (da) |
BárbaroEditar
Verso com 12 ou mais sílabas métricas[20], como vários versos da canção Back in Bahia, de Gilberto Gil[21]:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Di | go | num | ba | ú | de | pra | ta | por | que | pra | ta_é_a | luz | do | lu | ar |
(frise-se que, como no exemplo, o caso de 16 sílabas métricas também admite a nomenclatura hexadecassílabo[22][23] - sistema de numeração hexadecimal)
Métrica antiga e clássicaEditar
Na poesia grega e latina[24], a métrica conta-se em função da quantidade das sílabas, consoante sejam breves ou longas. Ao conjunto de sílabas chama-se pé. Entre os mais divulgados contam-se o iambo, com uma sílaba breve seguida de uma longa (U—); o espondeu, com duas sílabas longas (— —); o dáctilo com uma sílaba longa e duas breves (—UU).
Dos diversos tipos de verso usados, destacam-se o hexâmetro, com seis pés, e o pentâmetro, com cinco pés. O hexâmetro classifica-se segundo o tipo do penúltimo pé: hexâmetro dactílico com o quinto pé dáctilo, e hexâmetro espondaico com o quinto pé espondeu.
Um par formado por um hexâmetro e um pentâmetro designa-se dístico elegíaco.
Métrica medievalEditar
Na Idade Média continuou a usar-se o pé como unidade métrica. Mas nessa época a noção de quantidade já não era aplicável às sílabas na generalidade das línguas. Assim, o pé passou a contar-se em função das sílabas tônicas[25].
- Tipos de pé:
- Troqueu - Uma sílaba tônica e uma átona;
- Jambo - Uma sílaba átona e uma tônica;
- Dáctilo - Uma sílaba tônica e duas átonas;
- Anapesto - Duas sílabas átonas e uma tônica.
Na prosa também se contava a métrica, com base igualmente nas sílabas tónicas, contadas a partir do final do verso.
- O "cursus planus" era acentuado na 2.ª e na 5.ª (a contar do fim);
- O "cursus dispondaicus" tinha acentos na 2.ª e 6.ª;
- O "cursus velox" contava as tónicas na 2.ª e 7.ª;
- O "cursus tardus" era acentuado na 3.ª e na 6.ª sílabas.
Esta técnica, embora já fosse de uso corrente, foi explicitada no século XII por Alberto Morra, que viria a ser o Papa Gregório VIII, numa obra intitulada "Forma dictandi quam Rome notarios instituit magister Albertus qui et Gregorius VIII, papa".
Referências
- ↑ DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. «Recursos da linguagem poética». Português (R7). Consultado em 17 de setembro de 2015
- ↑ «Sobre versificação em língua portuguesa (2)». Curso Gratuito de Português. Consultado em 14 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ FIORIN, José Luiz (2003). «Três questões sobre a relação entre expressão e conteúdo». Revista Itinerários, n. especial (Universidade Estadual de São Paulo). Consultado em 14 de setembro de 2015. Arquivado do original em 8 de dezembro de 2015
- ↑ OLIVEIRA, Isa Maria Marques de (2013). «Percepções da Performance da Linguagem na Ciberpoesia» (PDF). CEFET - MG. Consultado em 14 de setembro de 2015
- ↑ RENNÓ, Adriana de Campos (2005). Caldas Barbosa e o pecado das orelhas. [S.l.]: Arte e Ciência. 464 páginas. página 112
- ↑ SILVA, Arnós Coelho da. «A agonística em Gonçalves Dias». Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Consultado em 13 de setembro de 2015
- ↑ «Sobre versificação em língua portuguesa (5)». Curso Gratuito de Português. Consultado em 17 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ «Humanismo Renascentista». Jornal das Tribos. 7 de agosto de 2013. Consultado em 13 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ GUILLAUME, Apollinaire (trad. Álvaro Faleiros) (1997). Bestiário ou Cortejo de Orfeu. [S.l.]: Iluminuras. 125 páginas. páginas 15 e 27
- ↑ ANDRADE, Enzio Gercione Soares de (2011). «"Essas pessoas na sala de jantar": espaços históricos em canções tropicalistas» (PDF). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. p. 167. Consultado em 12 de setembro de 2015
- ↑ «Camões, Dinamene e Os Lusíadas - Escolhas». Homo literatus. Consultado em 14 de setembro de 2015
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- ↑ LIMA, Renira Lisboa de Moura; MOREIRA, Fernando Otávio Fiúza; SILVA, Valéria Ribeiro (s/d). A anteposição do adjetivo em A morte de Lindoia, fragmento de O Uraguai. [S.l.]: Editora UFAL. páginas 53-54 Verifique data em:
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(ajuda) - ↑ TAVARES, Bráulio. «Os martelos de Trupizupe». Jornal de Poesia. Consultado em 16 de setembro de 2015
- ↑ SPINA, Segismundo (2003). Manual de Versificação Românica Medieval. [S.l.]: Ateliê Editorial. 231 páginas. página 54
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- ↑ «Hexadecasílabo (Octonario) (verso) - Escribir Canciones». Escribir Canciones (em espanhol). 16 de maio de 2015
- ↑ MOURA, Fernanda (s/d). «Para uma tradução em verso do dístico elegíaco: Propércio, I, 14». Universidade de São Paulo. Consultado em 17 de setembro de 2015
- ↑ MONTAGNER, Airto Ceolin. «Carmina Arundelliana: enquanto resplandescente brilha». Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Consultado em 17 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016