Orly Castel-Bloom

escritora israelita

Orly Castel-Bloom (Tel Aviv, 26 de novembro de 1960) é uma escritora israelense contemporânea.

Orly Castel-Bloom
Orly Castel-Bloom
Orly Castel-Bloom (2017)
Nascimento 26 de novembro de 1960 (63 anos)
Tel Aviv
Nacionalidade Israelita
Ocupação Escritora
Principais trabalhos An Egyptian Novel
Prémios Prêmio Sapir (2015)

Biografia

editar

Nasceu em Tel Aviv, em 26 de novembro de 1960, foi criada numa família de judeus sefaraditas do Egito, que imigraram a Israel em 1949, inspirados pela ideologia sionista. Por conta disso, até os três anos aprendeu apenas o francês, idioma que era falado em sua casa.

Ingressou na Universidade de Tel Aviv para estudar Cinema, mas saiu depois de um ano. Passou um ano na Universidade Beit-Tsvi estudando Teatro. Em 1987 publicou seu primeiro livro, uma coleção de histórias Lo Rahok Mimerkaz Hair (Não Muito Longe do Centro da Cidade). O sucesso veio à tona com seu quarto livro, Dolly City (1992). A partir dessa obra, Orly Castel-Bloom foi considerada uma das 50 mulheres mais influentes de Israel (1999), uma das mais originais escritoras da atual geração e uma das representantes da prosa pós-moderna em seu país.

O livro Dolly City também compôs a galeria das “obras literárias mais representativas”, elaborada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1997, e foi aclamado como um dos dez livros mais importantes já publicados desde a criação de Estado de Israel.

Nele a escritora traz à tona uma realidade fantástica, uma fábula de horror cômico da vida urbana moderna. O cenário é Dolly City, uma cidade sem base, sem passado, sem uma infraestrutura, “a cidade mais demente do mundo". Nela vive a médica paranoica, Dolly, que encontra um bebê recém-nascido em um saco plástico preto e decide tornar-se mãe. O complexo de “iídiche mame” é levado ao extremo. Dominada por um exagerado impulso maternal, a médica utiliza seu “laboratório privado de descoberta de doenças raras” para abrir o filho todos os dias com um bisturi e ter certeza de que todos os órgãos da criança estão funcionando perfeitamente. Dolly quer tentar protegê-lo de doenças da vida moderna, ainda que ele seja deformado pelo corte e costura diário do corpo. A mãe percebe que, “sem querer”, nesse trabalho diário com o bisturi, esculpiu o mapa de Israel nas costas do filho, ampliando suas fronteiras, à medida que ele crescia. A autora apresenta quais são as implicações no trabalho de criação de uma nação, pois, nessa sátira grotesca, a maternidade, obsessiva e alienante, é comparada ao patriotismo. O filho superprotegido, defendido, costurado e deformado é a metáfora do Estado de Israel.

Castel-Bloom recebeu vários prêmios, entre eles o “Tel Aviv Foundation Award” (1990), o “Alterman Prize” (1993), por duas vezes o “Prime Minister`s Prize” (1994, 2001), o “Newman Prize” (2003), o “French WIZO Prize”, pela obra Partes Humanas (2005), o “Leah Goldberg Prize” (2007), entre outros. A autora teve sua produção literária traduzida para mais de dez idiomas.

Em novembro de 2011, Orly Castel-Bloom recebeu indicação ao Prêmio Sapir de Literatura e usufruiu do momento de exposição na mídia para manifestar publicamente um pedido para que o governo israelense ajudasse a ela e a outros escritores --financeiramente, pois em Israel “não é possível fazer a vida só com o que se recebe dos direitos autorais”[1].

Para a escritora, Israel deveria deixar claro se quer em seu território escritores e artistas, pois caso a resposta seja negativa, ela saberia que deveria partir dali. Em caso positivo, o governo deveria apoiá-los com uma “mesada” fixa de incentivo à cultura.

Castel-Bloom alegou que não conseguia manter-se com o que recebia da venda de seus 14 livros publicados e com a gratificação financeira oferecida nas premiações literárias. Por causa disso, acumulou dívidas que somadas chegaram à quantia de um milhão de shekels (aproximadamente R$ 500 mil) e se viu forçada a vender a casa onde morou por mais de 20 anos, em um bairro nobre de Tel Aviv, para viver em um apartamento alugado.

Sobre a relação com o Estado de Israel, Castel-Bloom afirmou que não ama mais o país e está com ele “em crise conjugal”. A solução seria “uma terapia de casais – porque precisamos de ajuda profissional para superar a crise de confiança. Nessa relação, só eu me doava e nada recebia em troca”.

Em suas entrevistas, é comum ela relatar a iminência de sua morte, pois acredita que a vida de um escritor ou poeta israelense deveria ter uma duração de 60 anos. Ela, que já passou dos 50 (nasceu em 1960), admitiu o desejo “perturbador” de comprar uma arma de segunda mão ou uma espingarda, para cometer suicídio.

Características literárias da autora

Orly Castel-Bloom, uma das representantes da geração de autores que eclodiu entre as décadas de 1980 e 90, ao lado de outros nomes consagrados, como Etgar Keret, Gadi Taub, Uzi Weill e Gafi Amir, adotou características literárias marcantes do “novo estilo” da literatura hebraica contemporânea. Para o crítico literário Gershon Shaked, a autora tem mais afinidade com as histórias grotescas que as autoras das gerações anteriores: “As metáforas em seu trabalho têm uma função cômico-absurda, e a maioria delas cria um contraste incongruente”[2].

Castel-Bloom apresenta nessa nova fase da literatura hebraica uma vertente urbana que ocorre especialmente em Tel Aviv; uma linguagem carregada de expressões que fazem parte da realidade do cotidiano, como “pigu’á” (atentado); e um humor negro, absurdo e grotesco. A cidade perdeu seu significado e se tornou um reflexo da realidade das personagens que nela vivem. Todas as protagonistas de Castel-Bloom apresentam um enorme vazio existencial, ausência de amor e/ou um sentimento mais profundo pelo próximo, que é expresso pelo desespero. “Como resultado disso, o enredo dos romances não é um ‘drama de dor’, mas um desagradável encontro existencial que precisa ser aceito como é”[3].

Adia Mendelson-Maoz, em On the Human Parts: Orly Castel-Bloom and the Israel extreme(“Em Partes Humanas: Orly Castel-Bloom e Israel radical”), apontou os traços da autora que a inserem nessa geração pós-moderna: o esforço rumo à desintegração coerente da visão de mundo; mudança de um narrador autoritário para um narrador sem autoridade; estilo coloquial e utilização de uma gramática básica; achatamento da complexidade psicológica e emocional das personagens; dissolução das fronteiras entre o que pertence ao corpo privado e o que pertence aos seus arredores; e renúncia da linearidade, que cria o implausível na descrição do mundo ficcional.

O escritor Gadi Taub, seu contemporâneo, destaca a aspiração da autora de causar um choque em todos os que são íntimos das cidades israelenses e dos seres humanos que nelas residem: [4]” (TAUB, 2000: 98). Shaked corrobora esse pensamento e afirma que o que é mais interessante na escrita da autora é sua apresentação “semigrotesca” de estabelecer paralelos próximos com o contexto extraliterário: “O leitor que está consciente da situação social acaba familiarizado com as personagens retratadas pelos estereótipos, seus costumes, estilos de vida e valores”[5]. Para esse crítico literário, os efeitos alcançados pela autora não “borram” a realidade, e os fatores realísticos são refletidos nas entrelinhas.

Para Adia Mendelson-Maoz, esse “novo estilo” utilizado por Castel-Bloom é capaz de produzir uma poética considerada radical, que viola agressivamente qualquer harmonia, unicidade e valor, e, por ser provocadora, gera uma problemática entre o físico e o político: “Ela desintegra o mundo que constrói e severamente prejudica o corpo humano em um ato de terror, em paralelo com a situação política” [6]

Uma vez que essa fronteira entre as pessoas e o mundo não está clara, a agressão política invade o aspecto pessoal, como se seus “delírios sádicos” (MENDELSON-MAOZ, 2006: 164) encontrassem uma realização concreta (e física) em seus textos.

Em suas obras, Castel-Bloom utiliza, de forma recorrente, uma poética radical para ilustrar sua perplexidade política, seus questionamentos sobre valores essenciais e sua posição crítica sobre o período em que vive da história israelense.

Referências

  1. GOLDEN, Shai. Ithala. Emtza. VeSof: Orly Castel-Bloom Merosheshet (Início. Meio. E fim: Orly Castel-Bloom quebrou). Maariv, Israel, Tarbut, 25, nov, 2011. Disponível em: <http://www.nrg.co.il/ online/47/ART2/309/301.html>
  2. SHAKED, Gerson. Thoughts on Orly Castel-Bloom. In: HIRSCHFELD, Ariel et al. Modern Hebrew Fiction: Women in Words. 4. ed. Londres: Toby Press, 2008. p. 17.
  3. SHAKED, Gerson. Thoughts on Orly Castel-Bloom. In: HIRSCHFELD, Ariel et al. Modern Hebrew Fiction: Women in Words. 4. ed. Londres: Toby Press, 2008. p. 17.
  4. TAUB, Gadi. Three Talks on Castel Bloom’s Free Radicals. Mikarov , 2000. pp. 85-99.
  5. SHAKED, Gerson. Thoughts on Orly Castel-Bloom. In: HIRSCHFELD, Ariel et al. Modern Hebrew Fiction: Women in Words. 4. ed. Londres: Toby Press, 2008. p. 24-25
  6. MENDELSON-MAOZ, Adia. “On Human Parts: Orly Castel-Bloom and the Israeli Extreme”. In: DURAND, Alain-Philippe; MANDEL, Naomi. Novels of the contemporary extreme. Grã-Bretanha: MPG Books, 2006. p.163-164.