Públio Sextílio
Públio Sextílio (em latim: Publius Sextilius) foi um político e general romano no século I a.C. que foi pretor (92 a.C.) e governador da África durante a guerra civil entre Sula e Mário na década de 90 a.C.. Como propretor em 88 a.C., Sextílio recusou o pedido de exílio de Caio Mário e seus aliados na África[1][2][3][4].
Mário na África
editarPlutarco apresenta uma versão fortemente romanceada sobre como Sextílio rejeitou Mário e apresenta inclusive uma lição de moral[5]:
“ | O governador romano da África nesta época era Sextílio, um homem que não havia recebido nem bem e nem mal pelas mãos de Mário, mas que, como seria de se esperar, apenas a pena o moveria a ajudar alguém. Nem bem Mário havia desembarcado com uns poucos companheiros quando um oficial foi encontrá-lo, se postou diante dele e disse: «Sextílio, o governador, te proíbe, Mário, de pisar na África; e se tu desobedecerdes, ele declara que irá fazer cumprir os decretos do Senado e irá tratá-lo como um inimigo de Roma.» Ao ouvir isto, Mário ficou mudo pelo pesar e indignação, e por um longo tempo permaneceu quieto, encarando firmemente o oficial. Então, quando perguntado por ele o que ele tinha a dizer e qual resposta deveria levar ao governador, ele respondeu com profundo suspiro: «Diga-lhe, então, que tu vistes Caio Mário um fugitivo sentado entre as ruínas de Cartago.» E não foi de forma inábil que ele comparou o destino daquela cidade com a reversão de sua própria sorte. | ” |
Pouco se sabe deste Sextílio. É provável que ele tenha pertencido à gente Sextília, que utilizava o prenome "Públio", entre os quais um pretor do século II a.C. de cuja autoria um fragmento de uma carta sobreviveu[7]. Antigamente, uma moeda era interpretada como tendo sido cunhada por Sextílio como pretor e propretor, mas ela foi datada depois como sendo do período augustano[8].
Antes da chegada de Mário na África, Sextílio vinha assumindo uma posição neutra na guerra civil. Ele havia permitido que alguns dos aliados de Mário se juntassem a Hiempsal II, rei da Numídia, que na época estava tentando conquistar a confiança dos marianos em nome de Sula. Se Sextílio de fato estava falando sério sobre levar adiante a ameaça de tratar Mário como inimigo público — um decreto que sancionava sua execução de imediato — ele provavelmente teria deixado Mário desembarcar primeiro e não teria alertado-o antes. A dificuldade da posição de Sextílio pode ser inferida pelas consequências de sua decisão: como ele não assumiu nenhum outro cargo conhecido, é bastante provável que ele tenha conseguido desagradar ambos os lados do conflito[a].
Data do pretorado
editarCícero escreveu[10] sobre um "Públio Sextílio Rufo"[11] que alegava estar obrigado pelo seu juramento de ofício a seguir a Lex Voconia e privar uma jovem de sua herança. E. Badian defendeu que este Sextílio é o mesmo que foi governador da África e data seu pretorado em 92[b].
Interesses literários
editarHá alguns indicativos de que Públio Sextílio tenha sido um patrono da literatura. Quando Cássio Dionísio, de Útica, traduziu o grande tratado agrícola de Magão, o Cartaginês, para o grego, ele dedicou a obra a Sextílio[12][13].
Notas
editar- ↑ Carney argumenta que tanto Hiempsal quanto Sextílio estariam tentando manter a aparência de cumprimento do decreto do Senado enquanto não tomavam nenhuma ação direta contra Mário[9].
- ↑ Broughton datou o pretorado em 89 ou 88 em MRR2 (1952); in vol. 3 (1986), p. 198; ele preferiu o argumento de Badian em Journal of Roman Studies 55 (1965), p. 113.
Referências
- ↑ Plutarco, Vidas Paralelas, Vida de Mário 40.3–4
- ↑ Apiano, Guerra Civil 1.62
- ↑ Varrão, De re rustica 1.1.10 com o título de pretor
- ↑ T.R.S. Broughton, The Magistrates of the Roman Republic, vol. 2 (New York 1952), pp. 41, 49, 620.
- ↑ See T.F. Carney, "The Flight and Exile of Marius," Greece & Rome 8 (1961) 98–121
- ↑ Plutarco, Vidas Paralelas, Vida de Mário 40.3–4, Loeb Classical Library translation, Bill Thayer's edition at LacusCurtius
- ↑ E. Badian, “A fundus at Fundi,” American Journal of Philology 101 (1980), p. 111; D.R. Shackleton Bailey, “The Roman Nobility in the Second Civil War,” Classical Quarterly 10 (1960), p. 263, note 1.
- ↑ T.R.S. Broughton, The Magistrates of the Roman Republic, vol. 2 (New York 1952), p. 45, note 4.
- ↑ T.F. Carney, "The Flight and Exile of Marius," Greece & Rome 8 (1961), pp. 113–114.
- ↑ Cícero, De finibus 2.55
- ↑ Sobre o cognome e a [[tribo (Roma Antiga)|]] de Sextílio, veja T.P. Wiseman, New Men in the Roman Senate (Oxford University Press, 1971), p. 261.
- ↑ Varrão, De re rustica 1.1.10
- ↑ Robert E.A. Palmer, Rome and Carthage at Peace (Franz Steiner Verlag, 1997) p. 46.