Os Piaroa ou wöthüha são um grupo indígena sul americano, um dos grupos étnicos que vivem ao longo das margens do Orinoco e seus afluentes, ainda em nossos dias na Venezuela, Amazonas[3] e em alguns locais na Colômbia com uma população de aproximadamente 20.500 indivíduos, (19.300 na Venezuela - censo de 2011)[4]

Piaroa
Piaroa trançando palha
População total

~ 20.500

Regiões com população significativa
 Venezuela 19.293 (2011) [1]
 Colômbia 1.127 (2018) [2]
Línguas
piaroa
Religiões
cosmovisão tradicional
Grupos étnicos relacionados
Wirö, Sáliba
Localización de la etnia Piaroa

O idioma falado por esse grupo étnico que abrange o dialeto dos Piaroa-Maco (não confundir com Macu) é também chamado Guagua, Kuakua ou Quaqua) As comunidades de falantes encontram-se dispersas em um território compreendido entre Punta Piaroa no Alto Orinoco e Los Pijiguaos na Bacia do Rio Suapure.

Integram-se ao grupo lingüístico Saliban (Salivan) que compreende as tribos extintas dos Saliva, Ature e os povos Maco e Piaroa. Os saliva viviam na margem oeste do Orinoco entre os rios Vichada e Guaviare. A área dos Macus atualmente se restringe aos diversos rios da região do Rio Ventuari no estado do Amazonas também habitado pelos Piaroa, à exceção dos Macus e dos Hiwi cujos territórios tem fronteiras com o os Piaroa são cercados por povos dos grupos etno-lingüísticos Caribe e Aruaque

Área cultural editar

Sua história inclui 300 anos de contato com o Ocidente, ocupam a área cultural do Norte Amazônico entre B (Savana) e C (Rio Negro) proposta por Galvão enfrentando a frente pioneira nacional (brasileira) de base extrativista sendo borracha e castanha os produtos mais procurados desde o séc XVII e o núcleo de pecuária na região do Rio Branco[5]

Para Melatti[6] incluem-se na área etnográfica denominada “Maciço Güianense Ocidental”, área compreende as terras altas situadas no sul da Venezuela e nas fronteiras desse país com o Brasil e com a Güiana. Segundo esse autor, que também destaca as influências dos holandeses e espanhóis na região, não se trata de um ambiente homogêneo, dispondo-se as sociedades indígenas em diferentes altitudes, bem como diferentes vegetações. O que nos inclina a tomá-la como uma área etnográfica é a extensa rede de comércio que liga entre si essas sociedades.

Segundo Melatti (oc.) o grupo caribe dos iecuanas (maiongong ou maquiritare) de localização mais ocidental ofereciam zarabatanas aos piaroas a troco de curare (antes da influencia do comercio e valor atribuído as armas de fogo) oferciam canoas, remos e caniços para zarabatanas em troca de cerâmica (feita apenas por alguns grupos dos piaroa) amuletos de dentes de onça e paricá. As alianças comerciais influenciam e são influenciadas pela liderança Piaroa.

O corpo social Piaroa mostra os traços de sua resistência. Eles são a expressão da fusão dos sobreviventes dos grupos indígenas que habitaram o território atual cujos sobrevivente foram se agregando nos grupos de população mista Piaroa das terras altas, face a sua dispersão demográfica e a dificuldade de acesso dos seus territórios.

Um dos perfis mais marcantes da sua formação cultural, portanto, é uma mistura de traços, que em algum momento ter pertencido a outros grupos que já desapareceram de seu território atual como Maipuri, Avani, Sereu, Mabu, Atures e Quiruba e, para citar apenas os mais importantes. Em resumo, Piaroa são herdeiros de um patrimônio cultural que é seu e, ao mesmo tempo, todos os grupos vizinhos destruídas pela colonização.

Segundo Galvão (o.c.) é característico dessa área cultural, o cultivo da mandioca, a cerâmica, tecelagem de redes (fibras de tucum e algodão), uso do curare (sem zarabatana), arcos e flecha pequenos, religião de fundo monoteísta com xamanismo desenvolvido.

Eles também são considerados uma das mais pacíficas sociedades do mundo.[7] A expressão do poder em sua hierarquia social, mesmo de dominação masculina é mínimo, Eles tem sido descritos como uma organização social de tipo anarquista[8]

Xamanismo editar

Há dois tipos de xamãs (Piache) na sociedade piaroa os “menyeruâ” (homens de canto) e os “märitû” (matadores de “märitü”, espíritos causadores de doença ou causadores de doença por feitiço). As doenças podem ser causadas por contágio com animais e ingestão de sua carne como por meio dos invisíveis cristais enviados por märitûs, alguns lugares da floresta concentram milhares deles, os cristais atingem diferentes órgãos do corpo, formando-se de restos de alimentos. Os piaches podem distinguir as espécies, extrair a causa da doença defender a sociedade de ambas as formas dessa agressão invisível por cânticos mágicos, rituais que possibilitam a utilização da caça, amuletos e percepção da sua presença.[9]

Para Rodd, 2004 (o.c.) o xamanismo Piaroa é uma forma sofisticada de interpretar a relação entre as forças ecológicas e processo emocional no interesse em minimizar o estresse da sobrevivência. Um sistema que harmoniza o self (o si mesmo, a individualidade) a sociedade, o ecossistema, e o cosmos.

Suas prática xamânicas incluem a utilização de diversas plantas psicoativas o “yopo” (“yuhua”) - Anadenanthera peregrine; o “capi” (tuhuipä) - Banisteriopsis caapi de qual distinguem cinco variedades (“yurina”, “mäe”, “kohö”, “duhui huioka” e a espécie cultivada: “kunahua”); Tabaco (“jatte”) Nicotiana tabacum e a “dada” (Malouetia flavescens ou M. schomburgkii). Alguns xamãs referem-se também à preparação de bebidas com a “ameu” (uma variedade das Psychotrias, P. erecta ou P. poeppingiana) Rodd, 2004 (o.c.) [10] A Malouetia tamaquarina é utilizada como timbó|veneno de pesca ao longo do Amazonas e nas terras de várzea do Peru e Colômbia[11]

A utilização dessas substancias especialmente o capi é o que permite melhor perceber o invisível e restabelecer a ordem natural das coisas. Segundo Monod, 1976 o yopo permite a separação do espírito “ti’are ta’kwarua” (lit. imagem do olho) do corpo, para que o espírito voe e penetre dentro das rochas onde se podem ver as coisa escondidas. O “dä’dä” e “tuipä hä”, as misturas alucinógenas, produzem uma transformação mais drástica da mente, a qual convertida em maripä, (transe) o espírito mágico, pode ver coisas que nunca existiram, por ter acesso a mundos que estão além do limite dos céus. O yopo capacita o homem a adquirir consciência dos eventos passados: o dädä permite a criação de novas coisas. Dá ao homem o poder de deuses. (o.c p. 21)

Ver também editar

 
Rio Orinoco, Estado do Amazonas.

Referências

  1. INE (2011). «Resultados Población Indígena» (PDF). Caracas: Instituto Nacional de Estadística. XV Censo de Población y Vivienda 2011. Consultado em 4 de agosto de 2020 
  2. DANE (2019). Población Indígena de Colombia (PDF). Censo 2018. Bogotá: Departamento Nacional de Estadística, 16 de setembro de 2019. Consultado em 28 de julho de 2020 
  3. RODD, Robin The biocultural ecology of piaroa schamanic practice. Thesis for the degree of Doctor of Philosophy of the University of Western Austrália, 2004
  4. LEWIS, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version Fev. 2011 - Piaroa, A language of Venezuela (ISO 639-3: pid)
  5. GALVÃO, Eduardo. Índios do Brasil, áreas culturais e de subsistência. Ba Centro Editorial e Didático da UFBA, 1973
  6. MELATTI, Julio Cezar. Índios da América do Sul - Áreas Etnográficas. DF Curso de extensão / Universidade de Brasília, Revisto em 7-8-97 Cap. 3 - Maciço guianense ocidental. Arquivado em 20 de agosto de 2010, no Wayback Machine. Fev. 2011
  7. OVERING, Joanna. Elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma comunidade amazônica. MANA 5(1):81-107, 1999 PDF Fev. 2011
  8. GRAEBER, David Fragments of an Anarchist Anthropology. Chicago, Prickly Paradig Press, 2004 PDF Fev. 2011
  9. MONOD,Jean. Os Piaroa e o invisível. in: COELHO, Vera Penteado (org). Os alucinógenos e o mundo simbólico. SP, EPU, Ed. USP, 1976
  10. RODD, R. J Reassessing the cultural and psychopharmacological significance of Banisteriopsis caapi: preparation, classification and use among the Piaroa of Southern Venezuela. Psychoactive Drugs. 2008 Sep;40 (3): 301-7.
  11. BISSET, Norman G. Uses, chemistry and pharmacology of Malouetia (Apocynaceae, subf. Apocynoideae) Journal of Ethnopharmacology Volume 36, Issue 1, February 1992, Pages 43-50

Ligações externas editar