Pontos e Vírgulas (Semana Ilustrada)

Pontos e Vírgulas foi uma coluna publicada pela revista Semana Ilustrada de 4/11/1866 a 13/6/1869, assinada pelo pseudônimo coletivo Dr. Semana, que encobria vários colaboradores, entre eles Machado de Assis. Antes essa mesma seção havia se chamado "Novidades da Semana" (24/4/1864 a 28/10/1866) e posteriormente passou a se chamar "Badaladas" (20/6/1869-19/3/1876). Como vários escritores compartilhavam o mesmo pseudônimo, fica difícil saber quem escreveu cada texto.

A coluna, diária, geralmente aparecia na segunda página do jornal, podendo se estender até a terceira. Em 23 de dezembro de 1866 a coluna excepcionalmente saiu com outro nome, "Carros e Carretas", mas na edição subsequente voltou ao nome costumeiro. Teriam os editores do jornal resolvido mudar o nome da coluna e depois voltado atrás?[1]

Atribuição de crônicas a Machado de Assis

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A primeira edição póstuma das Obras Completas de Machado de Assis, de 1937, em 31 volumes, pela Editora W. M. Jackson, atribui uma só crônica dessa seção a esse autor, a de 12/5/1867,[2] que começa assim:

Os carrancas clamam contra o progresso, e os céticos esfalfam-se em negá-lo.
Negar o progresso, que heresia!

O pesquisador Raimundo Magalhães Júnior atribuiu mais dez crônicas da coluna "Pontos e Vírgulas" a Machado de Assis — de 10 de novembro e 1o de dezembro de 1867; 5 e 12 de julho, 13 e 20 de dezembro de 1868; 3, 24 e 31 de janeiro, 7 de março de 1869 — incluindo-as em seu Contos e Crônicas, um de seus sete livros publicados entre 1956 e 1958 com textos de Machado até então inéditos em livro.[3] Em notas de rodapé, esse pesquisador procura justificar a atribuição da crônica, assinada pelo Dr. Semana, a Machado de Assis, por exemplo, mostrando como certos trechos ou ideias são também abordados em obras (crônicas, contos, romances) sabidamente escritas pelo autor.

Trechos de crônicas

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Acho triste que certo gênero de arte ande muito em moda entre nós, e que se perdessem as tradições das boas obras e do bom gosto. (10/11/1867)

Ó Bom Senso! ó desterrado do século! quando voltarás a este mundo para repor as coisas nos seus eixos? Sem ti matam-se e descompõem-se os homens, fazem-se desfazem-se governos, cruzam-se os interesses, campeia a vaidade, domina a força, sob todas as formas, da espada e do número, sem ti andamos em perpétuo conflito, sem ti vamos ter a política-xadrez, a política-uniformidade, a política-alinhamento. Quando voltarás a este mundo, ó Bom Senso, ó meu amigo? (13/12/1868)

Os Vitrúvios do século querem fazer da política uma arquitetura, e esquecem justamente que a arquitetura compõe-se de linhas curvas e linhas retas. (13/12/1868; Vitrúvio foi um arquiteto romano antigo)

Referências

  1. «Semana Ilustrada, "Carros e Carretas"». Consultado em 19 de julho de 2024 . A crônica tem indícios que permitem associá-la a Machado de Assis, como o trecho de nonsense no quarto bloco e a citação aos versos de Malherbe (Rose, elle a vécu ce que vivent les roses / L'espace d'un matin), mas não são provas incontestáveis da autoria machadiana. Paira a dúvida!
  2. No livro, consta erradamente a data de 12/5/1864, como observa Ubiratan Machado no verbete "Dr. Semana" de seu Dicionário de Machado de Assis, um absurdo, já que a coluna começou em 1866. Até hoje o erro grosseiro se reproduz em edições de crônicas do autor, por exemplo, no volume "Crônicas do Dr. Semana" em PDF no site «Machado de Assis: Vida e Obra». Consultado em 20 de julho de 2024 . A crônica pode ser acessada em «Pontos e Vírgulas de 12 de maio de 1867». Consultado em 20 de julho de 2024 
  3. Ubiratan Machado, Dicionário de Machado de Assis, Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, 2a edição, 2021, verbete "Pontos e Vírgulas". Ver também verbete Obra de Machado de Assis, seção "Publicações Póstumas".