Produção microbiológica de aminoácidos

Os aminoácidos podem ser produzidos industrialmente por três processos: extração por meio de hidrolisados, síntese química e produção por métodos biotecnológicos. Considerando os métodos biotecnológicos, a produção microbiológica de aminoácidos possui enfoque na fermentação direta de aminoácidos, na conversão de produtos intermediários baratos via biossíntese e no uso de enzimas ou células imobilizadas [1].

A fermentação é um processo ao qual fungos e bactérias são capazes de transformar açúcares em outros produtos e energia. Na fermentação direta de aminoácidos, diversas fontes de carbono podem ser utilizadas, entre elas glicose, frutose, hidrolisados de amido, melaço, glicerol, etc. Aquelas que utilizam o metanol como matéria prima têm sido muito estudadas, pois esse substrato apresenta um baixo custo, porém possui um baixo rendimento, fazendo com que não possua utilização industrial [1]. Ao final da fermentação, o aminoácido pode ser recuperado por precipitação, através de coluna de troca iônica, eletrodiálise ou extração com solventes orgânicos. Assim sendo, a fermentação possui diversas vantagens, entre elas o fácil escalonamento e a utilização de matéria-prima barata [2].

Já a biossíntese, é um processo no qual há a produção de compostos químicos por meio de seres vivos. Na conversão de produtos intermediários baratos via biossíntese, há como exemplo a glicocola (ou glicina), considerada o mais simples dos aminoácidos encontrado em diversas proteínas, possui baixo custo e pode ser convertida em L-serina [1].

Ainda, na produção envolvendo enzimas ou células imobilizadas, uma vez que processos contínuos implicam em reatores de enzimas unidas a membranas, há a produção de compostos considerados opticamente puros, entretanto precisam de matéria prima específica, devido à alta especificidade das enzimas ao seu substrato [3]. Entre as reações mais comuns envolvendo esse processo, estão a utilização de aminoacilases específicas de Aspergillus oryzae para clivar seletivamente um D, L aminoácido sintetizado e a produção de L – α – aminoácidos a partir de α – cetoácidos, utilizando aminoácidos desidrogenases [4].

Um exemplo: Produção de glutamato editar

Em 1907, o pesquisador japonês Kikunae Ikeda iniciou um projeto de pesquisa visando identificar a substância que era responsável pelo sabor único observado em algumas sopas no Japão. Ikeda, acreditava que esse sabor único não pudesse ser categorizado como salgado, azedo, doce ou amargo, e por isso nomeou o suposto quinto sabor básico como umami, traduzido como “saboroso”. A partir disso, sua intenção era isolar a substância responsável pelo sabor umami, para que tivesse um efeito comercial, como um tempero, de forma a contribuir para a melhoria da alimentação e nutrição humana [5].

Em 1908, Ikeda conseguiu através da utilização da extração com água isolar o composto a partir da alga Kombu, sendo este identificado como sendo o ácido L-glutâmico. Dessa forma, em parceria com o empresário Saborosuke Suzuki, patenteou o processo de produção de um tempero, consistindo principalmente de um sal de ácido L-glutâmico, registrando-o sob o nome de Aji-no-moto [5].

Com o desenvolvimento do processo de produção do glutamato monossódico, veio a fermentação, de forma a trazer diversos benefícios para o processo, sendo hoje a forma de produção mais comumente empregada. Na fermentação há a produção de glutamato em larga escala, onde microrganismos são selecionados e cultivados com carboidratos e amônia [6].As células são capazes de produzir glutamato por meio de ácido 2-oxo-pentanodióico pela fixação redutora da amônia que utiliza a enzima glutamato desidrogenase, constituinte natural da célula. No cultivo, são normalmente empregadas bactérias do gênero Corineformes, podendo-se destacar Corynebacterium glutamicum, Brevibacterium lactofermentum, e Brevibacterium flavum. Essas bactérias são gram-positivas, não formam esporos e geram a acumulação de glutamato apenas em condições de restrição de biotina, contudo métodos foram desenvolvidos como a adição de surfactante ou penicilina, por exemplo, de forma que as bactérias produzissem grandes quantidades de glutamato sem que houvesse limitação de biotina [6].

O processo de produção industrial de glutamato monossódico por meio da fermentação continua sendo desenvolvido de forma a melhorar o rendimento na conversão dos açúcares em glutamato e na velocidade de produção. Além disso, a fermentação permite que o isolamento do L-glutamato seja simples, constituindo em uma importante vantagem do método. Ainda, um novo método para a purificação dos cristais de ácido L-glutâmico foi desenvolvido por meio da recristalização da forma b (17) e subsequente conversão para glutamato monossódico, onde o licor-mãe excedente da cristalização pode ser utilizado para a produção de fertilizante. Então, após os processo de filtração, purificação, conversão e cristalização, o glutamato monossódico adquire forma de cristal branco pronto para uso [7].

Dessa forma, criação do método de fermentação melhorou grandemente o processo de produção de glutamato monossódico, permitindo que sua produção acompanhasse demanda do mercado [6].

Referências

  1. a b c LIMA, Urgel de Almeida et al. Biotecnologia industrial. Editora Blucher, 1 de jan. de 2002, p.155-159. Disponível em: <https://academic.oup.com/ajcn/article/90/3/728S/4597145>. Acesso em: 15 nov. 2019.
  2. BUCCO, Ricardo Dall’oglio. A produção de aminoácidos e sua aplicação na fertilização foliar. 2013. Monografia apresentada à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo (USP). Disponível em: <https://sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MBI13016.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2019.
  3. ROSALIN, Cibele et al. AMINOÁCIDOS: ESTRUTURA E PROPRIEDADES. 2016. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2274184/mod_resource/content/0/Resumo_09_Gr07.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2019.
  4. PRODUÇÃO DE AMINOÁCIDOS. Disponível em: <https://lilianecabral.files.wordpress.com/2011/07/producao-de-aminoacidos.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2019.
  5. a b SANO, Chiaki. History of glutamate production. The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 90, Issue 3, September 2009, Pages 728S–732S. Disponível em: <https://academic.oup.com/ajcn/article/90/3/728S/4597145>. Acesso em: 15 nov. 2019.
  6. a b c CAMPOS, Camila Dalben Madeira. DESENVOLVIMENTO DE UM LAB-ON-A-CHIP PARA DETERMINAÇÃO DE GLUTAMATO EM ALIMENTOS. 2016. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/304878>. Acesso em: 15 nov. 2019.
  7. SOBRINHO, Romeu Schvarz et al. Contribuição da cadeia produtiva da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) no sabor dos alimentos. 2010. Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 6 N. 1. Disponível em: <https://revistas.unicentro.br/index.php/ambiencia/article/view/973/981>. Acesso em: 15 nov. 2019.
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