Produção indireta

Em economia, produção indireta (em alemão: Umwegproduktion ou em inglês: roundaboutness) é o emprego deliberado de trabalho em etapas produtivas antecedentes e temporalmente distantes à da obtenção final de bens de primeira ordem, ou bens de consumo, com vistas ao aumento da quantidade ou ao aprimoramento da qualidade desses bens, à diminuição dos seus custos ou à viabilização da sua produção.[1]

Visão geral editar

Toda atividade de produção tem como objetivo o atendimento final das necessidades e vontades das pessoas, ou seja, a obtenção de objetos e serviços para consumo imediato, os assim chamados bens de primeira ordem ou bens de consumo.[2] A produção desses bens de consumo em uma só etapa é, muitas vezes, perfeitamente factível. Quando se colhe uma jaboticaba silvestre com as mãos, por exemplo, ela torna-se um bem de consumo capaz de satisfazer imediatamente o apetite. Fenômeno similar acontece quando mãos são postas em forma de concha para coletar a água que brota de uma bica natural. A água torna-se um bem de consumo capaz de aplacar a sede de imediato. Nesses casos, os bens de consumo (jaboticabas, água) tornam-se disponíveis imediatamente após empregar-se o trabalho das mãos nuas na sua obtenção. Pode-se optar por ir até a jaboticabeira e colher jaboticabas a cada vez que se sente fome. Ir até a bica e coletar sua água sempre que se tem sede. Esse se constituiria num método direto de produção.

Há também a alternativa, no entanto, de empregar trabalho não na obtenção direta de bens de consumo, mas na confecção de bens de ordem superior, ou bens de produção. Pode-se trabalhar na confecção de vasilhames de cerâmica, por exemplo, que permitam o transporte e armazenamento das jaboticabas e da água em maior quantidade, em local de mais fácil acesso. A produção desses artefatos (bens de produção) demandaria um montante significativo de tempo e, quando da sua conclusão, os vasilhames, por si só, não seriam capazes de satisfazer a sede e o apetite. Seria necessário empregá-los no transporte e armazenamento dos frutos e do líquido para só então, por fim, desfrutar desses bens de consumo. Esse processo de produção seria, portanto, mais longo, mais "indireto" na sua satisfação das necessidades humanas. Daí o nome "produção indireta".

Certos bens de consumo somente podem ser obtidos por "produção indireta".[3] Por exemplo, não seria factível para um protético construir de uma só vez, com suas mãos nuas, a partir de argila e minérios metálicos coletados na natureza, uma prótese dentária para reconstituir a coroa natural de um dente humano fraturado. Um montante significativo de trabalho precisa ser aplicado a etapas de produção anteriores à da manufatura da prótese final e o processo produtivo completo requer um extenso período de tempo para ser adequadamente concluído.

A experiência prática cotidiana demonstra que a "produção indireta" traz resultados melhores que os métodos diretos de produção.[4] A "produção indireta" resulta em maiores quantidades de bens de consumo dada a mesma quantidade de trabalho aplicado, requer menos trabalho dada a mesma quantidade de bens de consumo produzidos ou, o que talvez seja ainda mais importante, viabiliza a produção de bens impossíveis de serem obtidos por métodos diretos.

Origem do termo editar

O termo "produção indireta" (Umwegproduktion) foi concebido pelo economista da Escola Austríaca Eugen von Böhm-Bawerk e publicado em seu livro Die Positive Theorie Des Kapitals, de 1889, traduzido para o português com o título de "Teoria Positiva do Capital".[5]

Referências

  1. Eugen von Böhm-Bawerk, "The Positive Theory of Capital", p.17-19, G. E. Stechert & Co., New York, 1930.
  2. Eugen von Böhm-Bawerk, "The Positive Theory of Capital", p.17, G. E. Stechert & Co., New York, 1930.
  3. Eugen von Böhm-Bawerk, "The Positive Theory of Capital", p.19, G. E. Stechert & Co., New York, 1930.
  4. Eugen von Böhm-Bawerk, "The Positive Theory of Capital", p.20, G. E. Stechert & Co., New York, 1930.
  5. Eugen von Böhm-Bawerk, "Teoria Positiva do Capital", Nova Cultural, São Paulo, 1986.