Almaleque Almançor Ceifadim Calavuno Alalfi Assali Anájemi Alalai (em árabe: الملك المنصور سيف الدين قلاوون الألفى الصالحى النجمى العلاءى; romaniz.: al-Malik al-Mansur Saif ad-Din Qalaun al-Alfi as-Salihi an-Najmi al-Alai, melhor conhecido como Calavuno (em latim: Calavunus; em árabe: قلاوون; romaniz.: Qalawun, Qalaʾun ou Kalavun), foi um sultão mameluco da dinastia Bahri que reinou no Egito entre 1279 e 1290.

Calavuno
Sultão do Egito
Reinado 1279-1290
Antecessor(a) Solamish
Sucessor(a) Axerafe Calil
 
Nascimento c. 1222
Morte 10 de novembro de 1290 (68 anos)
  Constantinopla
Herdeiro(a) Axerafe Calil
Dinastia Bahri
Filho(s) Axerafe Calil
Anácer Maomé
Sale

Ascensão ao poder

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Calavuno era um quipchaco que se tornou um mameluco na década de 1240 após ter sido vendido por 1 000 dinares de ouro para a casa do sultão Sale Aiube. Por este motivo, ele ficou conhecido como al-Alfi ("Homem mil"). Ele mal falava árabe, mas mesmo assim ganhou poder e influência até se tornar um emir sob Baibars, que casou seu filho Baraca Cã com a filha de Calavuno.

Baibars morreu em 1277 e foi sucedido por Baracá. No início de 1279, quando o sultão e Calavuno invadiram a Armênia Cilícia, houve uma revolta que obrigou o Baracá a renunciar em nome do irmão Solamish, que tinha apenas sete anos, tendo Calavuno como regente. Após alguns meses, o poderoso atabegue argumentou que o Egito precisava de um adulto e não de uma criança, exilando Solamish em Constantinopla no final do mesmo ano, efetivamente tomando o poder num golpe de estado[1][2].

O governador de Damasco, Sungur, não concordou com a ascensão de Calavuno ao poder e se declarou sultão. A reivindicação de Sungur, porém, foi repelida em 1280, quando Calavuno o derrotou[3][4][5]. Em 1281, os dois adversários se reconciliaram, principalmente por causa da invasão do ilcã Abaca na Síria. Os dois juntos conseguiram repelir o invasor na Segunda Batalha de Homs[6].

Saíde Baracá, Solamish e o irmão deles, Cadir, foram exilados em Caraque, o antigo castelo dos cruzados. Baracá morreu ali em 1280 (diz-se que envenenado por Calavuno) e Cadir tomou posse do castelo até 1286, quando o sultão o retomou.

Diplomacia mameluca

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Da mesma forma que Baibars havia feito antes dele, Calavuno firmou tratados com os estados cruzados remanescentes, com as ordens militares e com senhores poderosos que gostariam de se manter independentes. Ele reconheceu Tiro e Beirute como independentes do Reino de Jerusalém, sediado em Acre na época[7][8]. É importante ressaltar que os tratados firmados sempre foram favoráveis a Calavuno, como o de Tiro, que ditava que a cidade não reconstruiria suas fortificações, ficaria neutra em conflitos entre os mamelucos e os cruzados e daria ao sultão metade dos impostos coletados. Em 1281, Calavuno também negociou uma aliança com o imperador bizantino Miguel VIII Paleólogo para reforçar sua resistência contra Carlos de Anjou, que estava ameaçando tanto o Império Bizantino quanto o Reino de Jerusalém. Em 1290, ele também firmou tratados com a República de Gênova e o Reino da Sicília.

Ofensiva contra os estados cruzados

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Sem se preocupar com os termos dos tratados recém-firmados, Calavuno saqueou a "inexpugnável" fortaleza hospitalária de Margate em 1285 e a guarneceu com tropas mamelucas. Ele também capturou e destruiu o castelo de Maracleia, capturou Lataquia (1287) e Trípoli (27 de abril de 1289), destruindo o Condado de Trípoli. O cerco da cidade foi estimulado pelos venezianos e pisanos, que se opunham ao crescente poderio genovês na região. No ano seguinte, reforços do rei Henrique chegaram em Acre e os soldados, embriagados, massacraram comerciantes e camponeses, muçulmanos e cristãos. Calavuno enviou uma embaixada para pedir uma explicação e, acima de tudo, para exigir que os assassinos fossem entregues para julgamento e punição. A resposta dos francos se dividiu entre os que buscavam apaziguar o sultão e os que queriam uma guerra. Sem receber informação nenhuma e nem uma resposta à sua exigência, Calavuno decidiu que a trégua de dez anos que ele acordara com Acre em 1284 foi violada pelos francos. Ele cercou a cidade no mesmo ano, mas morreu em 10 de novembro antes de tomá-la. A honra coube ao seu filho, Axerafe Calil[9].

Apesar da desconfiança de Calavuno em relação ao seu filho, Calil o sucedeu e manteve a política do pai, de substituir os mamelucos turcos por circassianos, o que, tempos depois, levaria a um conflito que encerraria o domínio da dinastia Bahri entre os mamelucos. Calil terminou morto pelos turcos em 1293, mas o legado de Calavuno continuou quando seu filho mais novo, Anácer Maomé tomou para si o poder.

Referências

  1. Dobrowolski, J. 2001. The Living Stones of Cairo. American Univ in Cairo Press, p. 18. ISBN 977-424-632-2.
  2. Crawford, P. 2003. The Templar of Tyre: Part III of the "Deeds of the Cypriots". Ashgate Publishing, Ltd., p. 77. ISBN 1-84014-618-4.
  3. Chamberlain, M. 1994. Knowledge and Social Practice in Medieval Damascus, 1190-1350. Cambridge University Press, p. 99. ISBN 0-521-52594-2.
  4. Abu Al-Fida, pp.66-87/ ano 697H.
  5. Xameçadim Suncur Alascar era um proeminente emir e um dos mais devotos Bahri desde a época de Baibars. Ele foi aprisionado pelos armênios e liberado em troca de Leão, o filho do rei Hethum I, que fora capturado durante a invasão do Reino Armênio da Cilícia em 1266. Durante o reino do filho de Baibars, Solamish, ele foi o segundo em comando do sultão em Damasco. Durante o reinado de Calavuno, ele se proclamou sultão em Damasco, tomando o nome real de Maleque Camil. Ele lutou umas poucas batalhas contra os emires de Calavuno, mas foi perdoado após ter se juntado ao exército do sultão contra os mongóis (Almacrizi, p.51, 121, 127, 131-133, 145/vol.2 )
  6. (Abu Al-Fida, pp.66-87/ ano 688H ) - (Shayyal, p. 165/vol.2 )
  7. Crawford, p. 61.
  8. Holt, P.M. 1995. Early Mamluk Diplomacy (1260-1290): Treaties of Baybars and Qalāwūn with Christian Rulers. BRILL, pp. 106-117. ISBN 90-04-10246-9.
  9. Abu Al-Fida, pp.66-87/ ano 690H

Ver também

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Calavuno
Nascimento: 1222 Morte: 1290
Precedido por:
Solamish
Sultões do Egito
1279-1290
Sucedido por:
Axerafe Calil

Bibliografia

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Ligações externas

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