A Quinta do Vinagre, no lugar do mesmo nome em Colares, entre a estrada de Sintra e a estrada velha, junto à Eugaria, é um importante conjunto arquitetónico, magnífico exemplar de casa nobre rural portuguesa, situada num dos locais mais pitorescos da zona, onde uma represa da Ribeira de Colares forma um pequeno lago.

Quinta do Vinagre

A sua fundação remonta a meados do séc. XVI, altura da sua construção pelo Bispo de Silves e Lamego, D. Fernando Coutinho. Na fachada principal conserva duas inscrições datadas de 1586.

Os sucessores deste Bispo venderam a quinta a Gaspar de Sousa de Lacerda, de quem descendia Afonso Dique de Sousa, que instituiu o Morgadio do Vinagre, o qual morreu sem geração, sucedendo-lhe seu primo João Bollaert Dique.

Pouco antes do Terramoto de 1755, a Morgada de então, D. Mariana Joaquina de Paula Bollaert Dique, casou-se com Custódio José Bandeira, senhor de avultados meios, que fez na quinta consideráveis melhoramentos e lhe deu a traça setecentista que hoje mantém.

Aqui se produziu vinho, que foi comercializado e exportado para o Brasil durante alguns anos com o nome de Colares Dique.

Os monarcas e a família real visitavam regularmente a Quinta do Vinagre desde o tempo de D. João V, havendo notícias escritas das visitas deste rei e da Rainha D. Maria Ana em 1708 e da Rainha D. Maria I em 1777.

A Rainha D. Amélia, nas suas estadias em Sintra, ia muitas vezes passear, a pé ou de trem, pela estrada velha e parava para pintar no açude da Quinta do Vinagre, contando-se na família que era frequente, nas belas tardes de Verão, ouvir-se de repente a sua voz perguntando: Morgadinha, dás-me de merenda?

O rei D. Carlos, que pintou uma vista da quinta, chamava à Morgada D. Maria José Dique Bandeira Nobre (1855-1932) a Morgada dos cabelos de ouro. Esta era filha de José Maria Dique Bandeira Nobre (1817-1884), antigo morgado e descendente dos primeiros proprietários.

Depois da morte desta última Morgada do Vinagre, as suas duas sobrinhas e herdeiras, por falta de meios que lhes permitissem saldar as inúmeras dívidas e hipotecas a que a quinta estava sujeita, venderam-na ao Estado.

Na Quinta do Vinagre foi instalado em 1926 o Preventório de Colares, que ali se manteve até pelo menos 1938 e que levou a casa à mais completa ruína. Esta instituição tinha como finalidade o internamento de crianças de primeira e segunda infância filhos de pai ou mãe tuberculosos ou em perigo de contágio pela tuberculose.

Da demolição a salvaram o 5º Conde de Mafra, D. Francisco de Melo Breyner (que morreu nesta quinta em 1963), e sua mulher a Condessa D. Maria Antónia Tedeschi Plácido, que a adquiriram nos anos 1940. A casa foi então restaurada, mantendo as tradições de casa nobre rural, de que são nomeadamente característicos os dois leões heráldicos que encimam o belo tanque do pátio de entrada.

Os herdeiros de D. Francisco venderam a casa nos anos 1960 ao milionário francês Pierre Schlumberger, casado com uma senhora portuguesa, D. Maria da Conceição Diniz (conhecida como São Schlumberger). Dotado de vastíssimas possibilidades materiais e de extremo bom gosto, este casal adquiriu muitas quintas e terrenos adjacentes e procedeu a grandes melhoramentos na casa e em toda a quinta, que é hoje em dia um das mais belas propriedades da região.

Foi famosa a festa dada pelo casal Schlumberger em 4 de setembro de 1968, para a qual mandaram construir um novo portão principal aberto para a estrada de Sintra, ladeado por duas pilastras em pedra. Nesta festa, que muito deu que falar numa altura em que em Portugal não era habitual exibir riqueza, esteve presente a nata da alta sociedade mundial.

Em 15 de outubro de 1975 a casa foi vítima de um violento incêndio, mas foi felizmente restaurada em todo o seu esplendor, até aos dias de hoje.

Bibliografia

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  • PONA, Diogo de Paiva e, BOLLAERT (ou Bolarte) e DIJK (Dyck ou Dique), Morgados do Vinagre, em Colares, edição online.

Ligações externas

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