Ressurreição (romance de Machado de Assis)

obra de Machado de Assis
 Nota: Para outros significados, veja Ressurreição (desambiguação).

Ressurreição é o primeiro romance de Machado de Assis, publicado em 1872. Embora considerada uma obra da primeira fase, romântica, do autor, seu romantismo é contido, moderado, sem os excessos sentimentais, reviravoltas na trama e final feliz do folhetim tipicamente romântico. Trata-se mais de um romance psicológico, "o que, se não é inédito, é raro em romances românticos"[1], onde, mais importante que a intriga é "estudar o caráter e o comportamento"[2] dos personagens. O próprio Machado, na "Advertência da Primeira Edição", deixa claro: "Não quis fazer romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro." Sua ideia foi pôr em ação o pensamento de Shakespeare: "Our doubts are traitors, / And make us lose the good we oft might win, / By fearing to attempt" (Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que frequentemente poderíamos ganhar, ao termos medo de tentar.)

Ressurreição
Autor(es) Machado de Assis
Idioma Português
País  Brasil
Gênero Romance psicológico
Lançamento 1872
Machado de Assis, foto de 1890

Sinopse

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No Rio de Janeiro do século XIX, o Doutor Félix troca de amantes a cada seis meses ("os meus amores são todos semestrais; duram mais que as rosas, duram duas estações") e rompe com a última delas, Cecília. Viana, seu amigo, apresenta-lhe a irmã Lívia, uma bela mulher, viúva há dois anos, mãe de um menino de cinco anos. Começam a se relacionar como amigos, mas ao fim de alguns encontros e de algumas valsas os dois se apaixonam. De início vivem um amor discreto, oculto da sociedade. Porém, vários conflitos passam a ocorrer devido ao ciúme e desconfiança do protagonista. Depois de muitas idas e vindas, Felix acaba pedindo a viúva em casamento, mas volta atrás na véspera do matrimônio por causa de uma carta anônima com acusações falsas contra Lívia. Graças à intervenção do amigo Meneses, Félix se arrepende de seu gesto impensado e tenta se reconciliar, mas agora é Lívia quem não quer mais se casar com o médico desconfiado e instável. "As dúvidas o acompanharão onde quer que nos achemos, porque elas moram eternamente no seu coração", diagnostica Lívia.

Além do casal de protagonistas o autor faz desfilar uma galeria de personagens secundários, cujas personalidades e características físicas esmiúça, como costuma fazer em suas obras.

Recepção pela crítica

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Na "Advertência da Primeira Edição" o autor pede à crítica "intenção benévola, mas expressão franca e justa". Parece que a crítica percebeu o potencial daquele romancista estreante que em junho daquele ano completaria 33 anos de vida. Joaquim Serra, em A Reforma, escreveu que "há muito tempo não leio um livro tão bem concebido e acabado com tanto esmero. Ressurreição é um romance que marcará época nos fastos da nossa literatura e será para Machado de Assis o começo de uma carreira triunfal." G. Planche, do Jornal do Comércio, achou o estilo "fácil e correto", com "vivacidade de colorido, sobriedade de descrições, caracteres bem sustentados", mas observou que a ideia do romance não era original. A revista de caricaturas O Mosquito disse que o romancista estreante podia "servir de modelo a uns choramingas, espíritos ocos do bom senso e da gramática, que andam a azoinar os ouvidos dos poucos que ainda os leem, com suas invocações à lua, ao sol e às estrelas". Carlos Ferreira escreveu no Correio do Brasil que "O romance não é uma simples narrativa, é alguma coisa que deve primeiro que tudo falar à alma, e deixar nela uma impressão de profunda verdade da tese que se propõe a desenvolver", para depois se derramar em elogios: "Que dizer mimoso e que suavidade de pensamento! Que elegância e que facilidade de estilo!" Já Luís Guimarães Júnior, numa "Revista Bibliográfica" no Diário do Rio de Janeiro, opinou: "A Ressurreição firmou os justos brasões desse moço de talento e modéstia, poeta primoroso e folhetinista de uma espontaneidade rara. [...] O Dr. Félix, do romance de Machado de Assis, é um tipo, se não possibilíssimo, pelo menos admiravelmente compreensível."[3]

Referências

  1. Luiz Antonio Aguiar, Almanaque Machado de Assis, 2008, Record, p. 95.
  2. R. Magalhães Júnior, Vida e Obra de Machado de Assis - Volume 2: Ascensão, 1981, Civilização Brasileira, p. 116
  3. R. Magalhães Júnior, Vida e Obra de Machado de Assis - Volume 2: Ascensão, 1981, Civilização Brasileira, pp. 117-121.
 
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Ressurreição