Seja Marginal, Seja Herói
A bandeira-poema seja marginal seja herói é uma obra do artista plástico Hélio Oiticica, produzida entre 1966 e 1967.[1][2][3][4][5]
Trata-se de uma tela de tecido semelhante a uma bandeira, medindo 85cm x 114,5cm x 3 cm, estampada com a representação de Alcir Figueira da Silva, que "ao se sentir alcançado pela polícia, depois de assaltar um banco, ao meio dia, jogou fora seu roubo e suicidou-se".[1]
A mesma imagem é utilizada na obra Bólide Caixa 21, Poema Caixa 3 (1966), do artista.[6][7]
Abaixo da representação, lê-se a frase "seja marginal seja herói".[8] O corpo morto está prostrado, vulnerável, disposto como um crucificado em posição invertida.[9]
A obra foi exibida primeiramente em fevereiro de 1968, no Festival das Bandeiras, realizado na Praça General Osório, no Rio de Janeiro.[10]
Em pouco tempo, seja marginal, seja herói tornou-se palavra de ordem para os dissidentes da ditadura militar no Brasil.[11]
Na cultura popular
editarA bandeira-poema seja marginal seja herói, de Oiticica, decorou o palco da boate Sucata, no Rio de Janeiro, na noite em que lá se apresentaram Caetano Veloso e Gilberto Gil. Após a apresentação, os dois foram detidos por militares do Exército. Depois de um mês na prisão, Caetano soube o motivo de sua detenção: uma denúncia, feita pelo apresentador de TV Randal Juliano, de que cantara o Hino Nacional no ritmo da canção "Tropicália" — o que ele e testemunhas negam. Posteriormente, Caetano e Gil tiveram que sair do país.[12]
Em 2023, uma professora de história e arte no Brasil foi demitida por usar uma camiseta estampada com a frase "seja marginal, seja herói", após o deputado federal Gustavo Gayer (PL) criticá-la por isso nas redes sociais, comentando "professora de história com look petista em sala de aula".[13]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Hélio Oiticica (fevereiro de 2011). «O herói e o anti-herói anônimo». SOPRO (45). Consultado em 24 de junho de 2024
- ↑ Strecker, Márion. Por que homenagear bandidos, select.art.br
- ↑ Gomes de Souza, Renata Cristine (2022). «Sentidos da marginalidade: uma leitura espacial de Marginais e outros contos a partir da obra de Hélio Oiticica». Abril: Revista do Estudos de Literatura Portuguesa e Africana - NEPA UFF (29): 57–64. ISSN 1984-2090. Consultado em 24 de junho de 2024
- ↑ Dercon, Ernesto Neto, Marepe, Catherine Yass and Chris. «'Be an outlaw... Be a hero' – Tate Etc». Tate (em inglês). Consultado em 1º de agosto de 2023
- ↑ Bandeira-poema. Enciclopédia Itaú Cultural ISBN 978-85-7979-060-7
- ↑ Loeb, Angela Varela (2011). «Os Bólides do programa ambiental de Hélio Oiticica». ARS (São Paulo): 48–77. ISSN 1678-5320. doi:10.1590/S1678-53202011000100004. Consultado em 20 de dezembro de 2023
- ↑ Hélio Oiticica. Bólide Caixa 21, Poema Caixa 3, 1966. Enciclopédia Itaú Cultural.
- ↑ Rohter, Larry. «Viva Tropicália! | Larry Rohter» (em inglês). ISSN 0028-7504. Consultado em 10 de agosto de 2023
- ↑ Rosa, Tatiane Santa (5 de fevereiro de 2019). «Venceremos: Resisting the Rise of the Far-right in Brazil». The Brooklyn Rail (em inglês). Consultado em 10 de agosto de 2023
- ↑ Cámara, Mario (11 de janeiro de 2016). «El artista plástico Hélio Oiticica: escritor y fotógrafo». outra travessia (21): 93–104. ISSN 2176-8552. doi:10.5007/2176-8552.2016n21p93. Consultado em 10 de agosto de 2023
- ↑ llull, Paula (1 de outubro de 2016). «Hélio Oiticica: Be an Outlaw, Be a Hero». Sculpture (em inglês). Consultado em 10 de agosto de 2023
- ↑ Fortuna, Maria. Caetano Veloso: 'Minha vida teria tomado outro rumo, não fosse a prisão'. O Globo, 6 de setembro de 2020. Cópia arquivada em 24 de junho de 2024
- ↑ «Professora que foi demitida após deputado criticá-la por usar camiseta com frase 'seja marginal, seja herói' diz que está recebendo apoio de colegas e alunos». G1. 8 de maio de 2023. Consultado em 1º de agosto de 2023