Sobrediagnóstico (overdiagnosis) consiste no diagnóstico de uma doença que nunca provocará sintomas ou a morte de um paciente. Constitui um problema de saúde pública, já que converte as pessoas em pacientes sem necessidade, e leva a que sejam feitos tratamentos sem qualquer benefício em termos de saúde.[1]

O sobrediagnóstico não deve ser confundido com falso-positivo. Quando avaliações subsequentes após um teste com resultado positivo não identificam sinais da doença, o resultado é chamado de falso-positivo. No sobrediagnóstico, os critérios de diagnóstico (por exemplo, critérios histopatológicos no caso de câncer) da doença foram preenchidos, mas a anomalia identificada não causaria sintomas ao paciente. [2]

Sobrediagnóstico do câncer

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De acordo com o estudo de Welch e Black (2010) [2], há dois pré-requisitos para o sobrediagnóstico do câncer: uma quantidade considerável de cânceres subclínicos, ou seja, um reservatório de câncer detectável, além de atividades que levam à detecção desses cânceres. Em relação ao último pré-requisito, o rastreamento, que é a busca por doenças ou sinais de doença em pessoas assintomáticas, tem o sobrediagnóstico como possível e importante efeito colateral.

Como um exemplo, após a introdução do exame PSA, ocorreu um aumento significativo de novos casos de câncer de próstata. No entanto, a queda esperada na mortalidade não ocorreu. [3] Os estudos clínicos randomizados PLCO e ERSPC relataram respectivamente que 20,7% e 50,4% dos cânceres de próstata detectados por PSA foram sobrediagnosticados. [4]

Evidência de sobrediagnóstico no rastreamento com mamografia para o câncer de mama também foram documentadas. Uma análise dos estudos randomizados reportou que 19% dos cânceres de mama detectados pelo rastreamento foram sobrediagnosticados. [5] Uma revisão sistemática de programas de rastreamento reportou que aproximadamente 50% dos casos de câncer de mama detectados pelo rastreamento foram sobrediagnosticados. Ou seja, 1/3 dos casos de câncer de mama foram, na realidade, sobrediagnosticados. [6]

Viés do Sobrediagnóstico

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O ex-prefeito de Nova Iorque comentou que o percentual de cura do câncer de próstata nos Estados Unidos era 82%, enquanto que no Reino Unido era 44%. Como explicar que, com taxas de cura tão diferentes, as taxas de mortalidade do câncer de próstata são as mesmas nos Estados Unidos e Reino Unido? [7]

Quando sobrediagnóstico ocorre, o número de pacientes curados e métricas relacionadas, como o percentual de pacientes que sobreviveram 5 anos após o diagnóstico, fica enviesada. Isso ocorre porque o sobrediagnóstico aumenta tanto o número de casos assim como o número de pacientes curados. Considere o seguinte exemplo. De 1000 pacientes com câncer e sintomáticos, 100 ficam vivos 10 anos após o diagnóstico. Com isso, a sobrevida de 10 anos foi de 10% (100/1000 = 10%). Como são casos sintomáticos, nenhum deles foi sobrediagnosticado. Agora, imagine que um programa abrangente de rastreamento para esse câncer foi introduzido na população. Após o rastreamento, 4000 novos casos foram diagnosticados pelo rastreamento, representando sobrediagnóstico. Dessa maneira, a incidência desse câncer passou de 1000 para 5000, a mortalidade continuou exatamente igual (900), mas o número de pacientes vivos aumentou drasticamente devido aos novos casos sobrediagnosticados (4000), aumentando a sobrevida para 82% (4100/5000 = 82%).


Referências

  1. Welch, HG; Schwartz, LM; Woloshin S. (2011). Overdiagnosed: Making people sick in the pursuit of health. Boston: Beacon Press. ISBN 9780807022009 
  2. a b Welch, HG, Black WC. Overdiagnosis in cancer. Journal of the National Cancer Institute 2010 102: 605–613.
  3. Esserman L, Shieh Y, Thompson I. Rethinking screening for breast cancer and prostate cancer. JAMA 2009 302(15):1685–92. doi: 10.1001/jama.2009.1498.
  4. Fenton JJ, Weyrich MS, Durbin S, et al. Prostate-specific antigen–based screening for prostate cancer: A systematic evidence review for the U.S. Preventive Services Task Force. Agency for Healthcare Research and Quality 2018, Evidence Synthesis No. 154. AHRQ Publication No. 17-05229-EF-1.
  5. Keating NL, Pace LE. Breast cancer screening in 2018: Time for shared decision making. JAMA 2018;319(17):1814-1815. doi:10.1001/jama.2018.3388
  6. Jørgensen KJ, Gøtzsche PC. Overdiagnosis in publicly organised mammography screening programmes: Systematic review of incidence trends. BMJ 2009 339: b2587. doi: 10.1136/bmj.b2587
  7. Gigerenzer G, Wegwarth O. Five year survival rates can mislead. BMJ. 2013 Jan 29;346:f548. doi: 10.1136/bmj.f548.
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