Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade

A Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade foi uma instituição espírita que existiu na cidade do Rio de Janeiro no último quartel do século XIX.

História editar

As divergências entre "cientificistas" e "religiosos" que marcou a história da Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade culminou com a vitória dos primeiros e a sua transformação em "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade", fundada em 3 de outubro de 1879.

O fato foi comentado irónicamente por Pedro Richard duas décadas mais tarde: "Como se Deus, Cristo e Caridade pudessem ser acadêmicos, colegas de pobres pecadores ignorantes." (Reformador, 15 de setembro de 1901.)

A sua sede foi instalado à Praça da República, 54 (antiga Praça da Aclamação), tendo sido eleitos e empossados os seus diretores, dentre os quais os Drs. Francisco de Siqueira Dias Sobrinho, Carlos Joaquim de Lima e Cirne e Antônio Pinheiro Guedes.

Foi esta Sociedade quem promoveu o primeiro Congresso Espírita no Brasil (6 de setembro de 1881), e a primeira tentativa de unificação do movimento no país, com a fundação do Centro da União Espírita do Brasil, em outubro do mesmo ano.[1] A edição de novembro da revista da Sociedade Acadêmica fornece a relação dos grupos filiados até aquele mês.

O Centro da União teve efêmera existência, em parte graças à incipiência do movimento espírita e em parte graças à luta ideológica que, naquela época, dividia os espíritas em "místicos" e "científicos". Os primeiros enfatizavam o lado religioso da doutrina, ao passo que os segundos a entendiam como ciência, filosofia e moral. Como o Centro da União ficou sob a direção do professor Afonso Angeli Torteroli - um científico -, alguns historiadores do movimento acreditam que os "místicos" possam ter boicotado o projeto unificador à época.

Em 1882, a Sociedade Acadêmica, grupo majoritariamente "científico", publicou a primeira edição de A Gênese, de Allan Kardec, em língua portuguesa.[1] No prefácio dessa edição, lê-se:

"(...) conquanto alguns condiscípulos mostrassem o desejo de que modificações fossem feitas em certos pontos deste volume, de acordo com as ideias manifestadas na obra Os Quatro Evangelhos (...), publicamos a presente tradução de A Gênese sem a mínima alteração e mesmo sem anotações (...). A Sociedade Acadêmica julga que não lhe assiste, como a ninguém, o direito de alterar o plano e, menos ainda, as bases fundamentais (...) das obras publicadas pelo nosso mestre (...)."

Em 1885, a Sociedade passou a abrigar também em sua Sede a FEB, Federação Espírita Brasileira, recém criada. A Sociedade Acadêmica abrigava em seu bojo todos os Grupos Espíritas existentes na Capital Federal de então, já que podia funcionar livremente, não sendo contrária a Lei (O Catolicismo era na época a Religião Oficial do Império), visto que convencera D. Pedro II e as autoridades que Espiritismo não era Religião, mas sim uma Doutrina Filosófica de Consequências Morais.

Referências

  1. a b QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.

Ver também editar