Teopantecuanitlán

Sítio Arqueológico
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Teopantecuanitlán é um sítio arqueológico no estado mexicano de Guerrero representativo de um desenvolvimento inesperadamente antigo de sociedades complexas na região. O sítio data dos períodos pré-clássico inicial e médio, e as provas arqueológicas indicam claramente a existência de algum tipo de ligação entre Teopantecuanitlán e a região olmeca da costa do golfo. Antes da descoberta de Teopantecuanitlán no início da década de 1980, pouco se conhecia sobre o desenvolvimento e organização socioculturais durante o período pré-clássico. O seu nome significa junto ao templo dos jaguares.

Um dos quatro monolitos maciços de estilo olmeca que recebe os visitantes no El Recinto (o Pátio Afundado).

Localização editar

Teopantecuanitlán está situado no estado de Guerrero, na convergência dos rios Amacuzac e Balsas, a 5 km da confluência dos dois, criando um ambiente propício ao comércio e viagens. Ocupa uma área de aproximadamente 160 a 200 ha, e situa-se no sopé de uma elevação escarpada, que se ergue 200 metros acima do nível do sítio.

Arte e arquitectura editar

A ocupação de Teopantecuanitlán estendeu-se de 1400 a.C. a 500 a.C., sendo geralmente dividida em quatro fases, com o pico do número de habitantes a ocorrer na Fase II, entre 1000 e 800 a.C..[1] O assentamento do sítio consistia de complexos residenciais caracterizados por quatro estruturas distribuídas em redor de um pátio ou praça comum. Artefactos importados, de obsidiana e concha, bem como cerâmica com influências olmecas foram encontrados associados a e no interior dos grupos residenciais. Estes artefactos fornecem provas materiais de que a comunidade de Teopantecuanitlán fazia parte de uma rede comercial interregional que ligava a Costa do Golfo com as terras altas do México.[1]

Pátio afundado editar

Para além das áreas residenciais, Teopantecuanitlán é notável pela sua arquitectura monumental, arte e terraços agrícolas, em particular uma das primeiras estruturas cerimoniais civis de toda a Mesoamérica, El Recinto (O Recinto), também conhecido como Pátio Afundado, construído durante a Fase II. O Pátio Afundado é assim chamado porque se encontra rebaixado 2 metros relativamente ao nível do solo, construído sobre uma base de barro amarelo revestida de blocos de travertino.

Quatro enormes, quase idênticos, blocos monumentais de travertino adornam os lados este e oeste do Pátio Afundado. Estes blocos estão esculpidos de forma a parecerem criaturas antropomórficas, quase seguramente jaguares-homem, com olhos amendoados e bocas viradas para baixo. De facto, são estes monumentos de 3 a 5 toneladas, que são referidos no nome dado pelo arqueólogo Guadalupe Martinez Donjuán a este local.[2] Segundo Matínez Donjuán, estas esculturas estão colocadas de forma a marcar os solstícios e equinócios, e "simbolizavam as forças opostas que governavam o mundo".[3]

Nas costas de um destes monumentos, o Monumento 2, existem símbolos que Martinez Donjuán interpreta como "10 Flor". Se esta interpretação está correcta, esta seria a mais antiga data de calendário mesoamericano.

Este sítio contém ainda dois campos de jogo de bola. Um deles é uma miniatura situada no interior do Pátio Afundado,[4] enquanto que o outro se situa 900 metros para nordeste. Numa das extremidades do campo mais pequeno existe uma sauna feita de adobe. Tratar-se-ia quase certamente de um local para contactos sociais destinado à elite de Teopantecuanitlán.

Outras características editar

Teopantecuanitlán é também o local onde se encontra a mais antiga barragem da Mesoamérica conhecida até à data. Foi construída cerca de 1200 a.C. sendo utilizados blocos de rocha toscos e não talhados. Esta barragem dependia da gravidade para levar a água aos terrenos agrícolas. Existem também canais, feitos de lajes de pedra grandes e planas. O revestimento destes canais permitia a irrigação, evitando a erosão, perdas de água e podendo ainda ser usados como meio de esgoto.

Este sítio é também o primeiro conhecido na Mesoamérica a utilizar o arco falso nas construções. Este tipo de arco, permitia tectos altos sem necessidade de uma pedra angular trapezoidal. Estes arcos foram usados em estruturas antigas como túmulos da elite e em templos.

Descoberta e escavações editar

Teopantecuanitlán foi descoberto por Martinez Donjuán em 1983, após relatos de saques neste sítio de Guerrero. Ela teve a assistência de, entre outros, Christine Niederberger. Niederberger focou a sua atenção sobretudo nas áreas residenciais conhecidas como a zona de Lomerios, ou Tlacozotitlán.

 
Teopantecuanitlán em relação a outros sítios arqueológicos do pré-clássico.

Influência olmeca editar

A influência olmeca é visível em muitos dos monumentos de Teopantecuanitlán. Além dos quatro monumentos principais discutidos acima, artefactos de estilo ou influência olmeca foram encontrados um pouco por todo o sítio.

Existem várias teorias sobre como tais motivos e desenhos olmecas — talvez mesmo deidades — chegaram a um local a centenas de quilómetros de região olmeca. Martínez Donjuán acredita que as raízes da cultura olmeca se encontram aqui em Teopantecuanitlán e que um grupo abandonou Teopantecuanitlán para colonizar o que hoje designamos "região olmeca"[5] retomando a hipótese colocada por Miguel Covarrubias.

O arqueólogo Michael D. Coe afirmou que esta "posição é contradita pelas limitações ambientais" impostas pelas terras altas semi-áridas de Guerrero.[6] Christine Niederberger vê influência olmeca apenas na arquitectura monumental, com o resto da cultura derivada de fontes indígenas.[7]

Notas editar

  1. a b Reilly (2000), p. 756.
  2. Malmström, p. 1
  3. Martinez Donjuán diferencia os quatro monumentos em dois pares, um com aparência felina e o outro com aparência de aves.(Martinez Donjuán (2000), p. 200). Outros investigadores não fazem esta distinção.
  4. Devido ao seu tamanho e localização, Martinez Donjuán considera tratar-se de um campo meramente simbólico, sem utilidade prática.(Martinez Donjuán (2000), p. 200).
  5. Diehl, p. 169-170,
  6. Coe, p. 80.
  7. Diehl, p. 169-170.

Referências editar

  • Coe, Michael (1994), Mexico: From the Olmecs to the Aztecs, 4th edition, Thames & Hudson, NY.
  • Diehl, Richard A. (2004) The Olmecs: America's First Civilization, Thames & Hudson, NY.
  • Evans, Susan Toby (2004) Ancient Mexico & Central America: Archaeology and Cultural History, New York: Thames & Hudson.
  • Reilly, F. K., (2000), "Tlacozotitlán (Guerrero, Mexico)" in Evans, Susan, Archaeology of Ancient Mexico and Central America, Taylor & Francis.
  • Malmström, V. H., "A Survey of Teopantecuanitlán, Guerrero, Mexico".
  • Martinez Donjuan, Guadalupe (2000), "Teopantecuanitlan", in The Oxford Encyclopedia of Mesoamerican Cultures, Carraso, David, ed., Oxford University Press.
  • Martinez Donjuan, Guadalupe (1986), "Teopantecuanitlan", in Arqueologia y Etnohistoria del Estado de Guerrero, Roberto Cervantes-Delgado, ed., Instituto de Antropologia e Historia of Mexico, pp 55–80.

Ligações externas editar