Teorema da Eleição

Em probabilidade, o Teorema da Eleição é um resultado clássico sobre passeios aleatórios que afirma:

Em uma eleição com dois candidatos A e B com e votos respectivamente, se então a probabilidade de que durante a apuração da eleição o candidato A esteja sempre à frente é dada por .

O resultado foi descoberto por A. De Moivre em 1708 ao estudar jogos de azar e redescoberto por Joseph Louis François Bertrand em 1887.[1]

Na linguagem de Passeios aleatórios

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Se entendermos cada voto para o ganhador como um passo de valor 1 e cada voto para o perdedor como um passo de valor -1 podemos interpretar como segue:

Seja   um passeio aleatório com passos   com   i.i.d., se   então a probabilidade de que     é dada por  , em outras palavras:

 

Para demonstrar faremos uso do princípio da reflexão.

O princípio da reflexão

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A figura apresenta um caminho aleatório e desenha o reflexo por x do trecho do caminho que é positivo até o primeiro encontro com o eixo x.

Seja   o número de caminhos entre os pontos   e   que tocam o eixo  , tome também   o número de caminhos entre   e  .

Se   o princípio da reflexão diz que  . Para demonstrar vamos criar uma bijeção entre os caminhos de   até   que passam por algum  ,   e os caminhos entre   até  .

É claro que todo caminho que parte de   até   corta o eixo   em algum ponto, seja   o primeiro ponto em que isso ocorre. Podemos refletir todos os pontos antes de   e emendar com o caminho depois de   e vamos obter um caminho entre   e   que corta o eixo  . A operação inversa é feita de forma análoga, acompanhe na figura ao lado. Temos então a bijeção desejada.

Calcular   pode ser custoso, mas o princípio da reflexão facilita esse cálculo. Se um caminho vai de   até   então ele tem   passos, separamos   com   o número de passos para cima e   para baixo. Vale também  , logo:   Para formar um caminho precisamos apenas saber quantas vezes andamos para cima, logo:

 

Demonstração

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Para mostrar basta reparar que estamos contando apenas os caminhos que obrigatoriamente passam por  , logo:

 

De onde obtemos:

 

Como o total de caminhos é dado por   obtemos a probabilidade dividindo o número de casos de interesse pelo tamanho do espaço amostral.

Relação com o Hitting Time

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Exemplo de caminho aleatório reverso.

Dado um caminho   podemos construir o caminho reverso tomando  . Note que   e   para todo  . Assim se   é um caminho que atende as restrições do Teorema da Eleição com   vale que   para todo  . Ou seja, o caminho reverso alcança   pela primeira vez no passo  .

Agora tomando um caminho   tal que   e   para todo  , é fácil ver que o seu reverso   cumpre as condições do Teorema da Eleição. Assim estabelecemos uma bijeção entre os caminhos tais que   e atingem   pela primeira vez no passo   e os caminhos tais que   e  . Como todo caminho tem a mesma probabilidade de ocorrer, vale:

 

Observando que o caso   é simétrico obtemos o Teorema do Hitting Time[2]: a probabilidade de um caminho aleatório simples   alcançar o ponto   pela primeira vez no passo   é dada por:

 

Essa relação segue sendo verdadeira contanto que os passos   sejam i.i.d., como demonstrado por Hofstad e Keane [3].

Generalizações

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Existem estudos, principalmente devido a Takacs, que generalizam o teorema para o caso contínuo que podem ser encontrados em [1], por exemplo.

Referências

  1. a b Takacs, Lajos (1977), Combinatorial Methods In The Theory Of Stochastic Processes, ISBN 0-88275-491-2 1rd ed. , Wiley, p. 2,3 
  2. Grimmett, Geoffrey; Stirzaker, David (2001), Probability and random processes 3rd ed. , Oxford University Press 
  3. Hofstad, Remco; Keane, Michael (2008), An Elementary Proof of the Hitting Time Theorem