Transit (satélite)

O sistema TRANSIT, também conhecido com NAVSAT (do inglês, Navy Navigation Satellite System), foi o primeiro sistema de navegação por satélite a ser usado operacionalmente. O sistema foi inicialmente usado pela marinha dos Estados Unidos para obter informações precisas sobre o posicionamento para submarinos lançadores de mísseis balísticos (SLBM), e foi também usado com um sistema de navegação pela marinha dos Estados Unidos, bem como para vigilância hidrográfica e geodésica.

Satélite TRANSIT

História editar

O sistema de satélites TRANSIT, patrocinado pela Marinha e desenvolvido em conjunto pela DARPA e o Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, sob a liderança do Dr. Richard Kirschner em Johns Hopkins, foi o primeiro sistema estadunidense de geoposicionamento baseado em satélite. [1] [2] [3] Poucos dias depois do lançamento soviético do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial em órbita terrestre em 4 de outubro de 1957, dois físicos da APL, William Guier e George Weiffenbach, encontraram-se em discussão sobre os sinais de rádio que provavelmente emanariam do satélite. Eles foram capazes de determinar a órbita de Sputnik, analisando o efeito Doppler de seus sinais de rádio durante uma única passagem do satélite. Ao discutir o caminho a seguir para a pesquisa, o diretor Frank McClure, presidente do Centro de Pesquisa da APL, sugeriu em março de 1958 que, se a posição do satélite fosse conhecida e previsível, o efeito Doppler poderia ser usado para localizar um receptor na Terra e propôs uma sistema de satélites para implementar este princípio. [4]

O desenvolvimento do sistema TRANSIT começou em 1958, no Laboratório de Física Aplicada da Johns Hopkins University (JHUAPL) para a Marinha dos Estados Unidos, e um satélite protótipo, o Transit 1A, foi lançado em Setembro de 1959.[5] Este satélite, falhou em atingir a órbita.[6] Um segundo satélite, o Transit 1B, foi lançado com sucesso em 13 de Abril de 1960, por um foguete Thor-Ablestar.[7]

O primeiro teste bem sucedido do sistema foi feito em 1960 e o sistema entrou em serviço na Marinha em 1964. Os satélites conhecidos como OSCAR ou NOVA usados no sistema foram colocados em órbitas polares de baixa altitude, a 1 100 km acima da superfície da Terra, com um período orbital de cerca de 106 minutos. A "constelação" de cinco satélites foi necessária para permitir uma cobertura global. Quando o sistema estava operacional, pelo menos dez satélites – um satélite sobressalente para cada satélite da constelação de base – estavam em órbita.

As órbitas dos satélites TRANSIT foram definidas de modo a cobrir a Terra inteira. Em algum momento, um dos satélites estaria passando sobre o pólo ou sobre qualquer outro ponto do planeta. Com base no instante de passagem de um dos satélites, a posição do observador podia ser calculada. No entanto, uma nova medida só poderia ser feita na passagem seguinte. No equador, o intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas corresponderia ao período orbital (106 minutos) se o mesmo satélite estivesse visível em ambas as passagens (lembre que a Terra gira 15°/hora, e os navios junto com ela) e seria da ordem de várias horas, caso contrário. Em meias-latitudes o atraso típico seria de uma hora ou duas.

Para seu papel como um sistema de orientação para os submarinos SLBM, o sistema TRANSIT funcionavam bem, pois os submarinos faziam observações periódicas para reajustar seu sistema de guiagem, mas o TRANSIT não tinha a capacidade de fornecer medidas de posição em alta velocidade e em tempo real.

Com aperfeiçoamentos posteriores, o sistema passou a possibilitar medidas de posição com uma precisão da ordem de 200 metros, e também um tempo de sincronização da ordem de 50 microsegundos. Os satélites TRANSIT também passaram a transmitir mensagens criptografadas, apesar disso ser uma função secundária.

O princípio de operação do sistema TRANSIT é similar ao sistema usado pelos transmissores para localização em emergências, exceto que o transmissor permanece sobre o solo e o receptor em órbita. Informações sobre os sinal do transmissor são passados diretamente às estações no solo, as quais localizam o transmissor usando um processo similar ao do sistema TRANSIT.

O sistema TRANSIT ficou obsoleto com a entrada em operação do Global Positioning System (GPS), e foi aposentado em 1996. Aperfeiçoamentos na parte eletrônica permitiram ao sistema GPS emitir vários sinais ao mesmo tempo, o que reduziu grandemente a complexidade no cálculo de posição. Além disso, o sistema GPS usa um número maior de satélites que o TRANSIT, permitindo que o sistema seja utilizado continuamente, enquanto que o o TRANSIT possibilitava somente uma atualização a cada uma hora ou mais.

Após 1996, os satélites foram mantidos em atividade, mas para outros fins: eles passaram a ser pelo sistema de monitoramento da ionosfera da Marinha.

Descrição editar

O sistema TRANSIT de satélites transmitia um sinal contínuo o qual incluía a hora exata, bem como os parâmetros orbitais do satélite. Estes sinais eram enviados regularmente à memória de cada satélite a partir do Observatório Naval dos Estados Unidos (US Naval Observatory) e retransmitidos pelo satélite continuamente. Os sinais eram então utilizados para calcular a localização do satélite em qualquer ponto sobre a Terra e em qualquer instante de tempo.

A medida que o satélite se aproximava de um receptor no solo (ou em um submarino), a frequência recebida era mais alta que a frequência transmitida devido ao efeito Doppler, e do mesmo modo, o sinal teria uma frequência mais baixa quando o satélite se afastava. Quando a passagem do satélite sobre o meridiano local ocorria, a frequência era igual à frequência transmitida pelo US Naval Observatory.

Por outro lado, se o passagem do satélite pelo meridiano local ocorresse exatamente no zênite do observador, a variação observada na frequência do sinal transmitido pelo satélite seria máxima, mas se a passagem ocorresse em um ângulo menor, a variação observada na frequência de transmissão seria menor. Desta forma, medindo-se esta variação, podia-se determinar a posição do satélite em relação ao zênite, ou seja, o quão distante o satélite estava de um lado ou de outro do receptor. Os sistemas tradicionais de navegação seriam então usados para selecionar qual das duas possibilidades, direita ou esquerda, era a correta.

O cálculo da posição não era um exercício trivial: ele exigia o uso do método de mínimos quadrados para predizer as frequências (calculadas a partir de uma posição estimada do submarino e dos parâmetros orbitais do satélite) a partir das frequências observadas. Isto era, em geral, além da capacidade de um operador humano, e, portanto, exigia o desenvolvimento de um computador especialmente para dar conta desta tarefa.

O computador AN/UYK-1 editar

Como nenhum computador na época era suficientemente pequeno para poder ser instalado em um submarino, um novo computador foi desenhado, chamado AN/UYK-1. Ele foi construído especialmente para caber dentro de um submarino e tinha cerca de 1,5 metros de altura e era lacrado para ser a prova-d'água. O engenheiro principal do projeto era um dos membros da UCLA, Lowell Amdahl, irmão de Gene Amdahl. O AN/UYK-1 foi construído pela divisão Ramo-Wooldridge do TRW para a classe Lafayette de submarinos SSBNs. Ele foi equipado com uma memória de 8 192 palavras de 15 bits (mais o bit de paridade), fabricado a mão em uma fábrica em Canoga Park. O tempo de ciclo era de cerca de 1 microsegundo.

O AN/UYK-1 era uma máquina "micro-programada" com uma palavra de 15 bits sem comandos de hardware para subtrair, multiplicar ou dividir, mas que podia somar e fazer algumas outras operações básicas com bits. Usando essas operações básicas, um conjunto de subrotinas de software estendiam a capacidade de cálculo para outras operações como subtrair, multiplicar e dividir. Os programas do AN/UYK-1 usavam essas rotinas para fazer seus cálculos.

A característica mais interessante do conjunto de instruções AN/UYK-1 era que a linguagem de máquina tinha dois operadores que podiam manipular simultaneamente os registros aritméticos, por exemplo, um completava o conteúdo de um registro enquanto o outro carregava ou armazenava um outro registro. Ele também foi o primeiro computador implementado com a capacidade de endereçamento indireto em um único ciclo.

Durante a passagem do satélite, um receptor GE recebia os parâmetros orbitais e mensagens criptografadas do satélite, bem como media o deslocamento Doppler da frequência do sinal a cada intervalo de tempo, passando esses dados para o computador AN/UYK-1. O computador também recebia do sistema inercial de navegação do submarino (SINS) uma leitura da latitude e longitude. Usando essas informações o AN/UYK-1 executava um algoritmo usando mínimos quadrados para fornecer a posição lida em cerca de quinze minutos.

Ligações externas editar

Referências

  1. Mame Warren, Helen E. Worth (2009). «Transit to Tomorrow. Fifty Years of Space Research at The Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory» (PDF). Consultado em 3 de outubro de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 26 de dezembro de 2020 
  2. «Wayback Machine». 29 de junho de 2011. Consultado em 3 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 29 de junho de 2011 
  3. «Defense Advanced Research Projects Agency». 6 de maio de 2011. Consultado em 3 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 6 de maio de 2011 
  4. Pisacane, Vincent L. (1998). «The Legacy of Transit: Guest Editor's Introduction» (PDF). Johns Hopkins APL Technical Digest. Consultado em 3 de outubro de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 20 de setembro de 2015 
  5. «Navy Navigation Satellite System». APL. Consultado em 13 de dezembro de 2012 
  6. «Transit 1A - NSSDC ID: TRAN1». NASA NSSDC. Consultado em 13 de dezembro de 2012 
  7. «Transit 1B - NSSDC ID: 1960-003B». NASA NSSDC. Consultado em 13 de dezembro de 2012