Trauma do absoluto

O trauma do absoluto se refere a um trauma transmitido ao longo das gerações da família.

Ele é caracterizado por certas representações ou ideias do sujeito sobre si mesmo na relação com seus pais: ser abandonado, desamparado, rejeitado,  derrotado,  fracassado, devedor, não-amado, para sempre, sem lugar no mundo. Pode incluir, ainda, ser um zero, ser um nada, ser impossível realizar seu desejo no mundo. Por outro lado, pode compreender ser fenomenal, ser o colosso, ser o melhor da história, ser o melhor do mundo numa função, estar a anos-luz de outra pessoa. Todas essas representações são investidas por uma sobrecarga de ódio e horror, que demarca o intenso sofrimento psíquico inerente a esse trauma. As representações do trauma do absoluto impedem que as representações coerentes com o desejo do sujeito favoreçam sua realização em sua vida adulta. São elas: ser amado, competente, inteligente, digno, bem-sucedido, com méritos próprios investidas por amor. Estas podem ser integradas ao conjunto das representações do sujeito, como fruto de uma análise bem-sucedida.

Esse proposta teórica constitui uma contribuição para a teoria da transmissão da vida psíquica na família, temática estudada por Kaës (1998), Eiguer (1997), Faimberg (1985), entre outros.

Referências editar

  • ALMEIDA, M. E. S. (2003). A clínica do absoluto: representações sobre-investidas que tendem a deter o encadeamento associativo. Tese doutorado em Psicologia Clínica, PUC-SP.
  • ALMEIDA, M. E. S. (2005). A clínica do absoluto: representações sobre-investidas por ódio e horror. Pulsional: Revista de Psicanálise, p. 93-100.
  • ALMEIDA, M. E. S. (2008). Herança transgeracional: a circularidade e a concentração do trauma. Revista Mudanças:Psicologia da Saúde,vol. 16, n.1, p. 51-61.
  • ALMEIDA, M. E. S. (2010). Uma proposta sobre a transgeracionalidade: o absoluto. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica. Rio de Janeiro, vol. 13, n.1, p. 21-35.
  • ALMEIDA, M. E. S. (2016). Constituição especular do desejo e sua atualização no adulto. Gerais, Rev. Interinst. Psicol, vol.9, n.1, p. 17-31.
  • EIGUER, A. (1997) Transgénérationnel et temporalité. Revue Française de Psychanalyse, 61/5, Paris: PUF, p.1.855-1.862. [ Links ]
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  • FAIMBERG, H. (1985/2001) "A telescopagem das gerações: a propósito da genealogia de certas identificações", in KAËS, R. (Org.) Transmissão da vida psíquica entre as gerações, São Paulo: Casa do Psicólogo. p.71-93. [ Links ]
  • FREUD, S. (1976) Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro: Imago. [ Links ]
  • KAËS, R. (1998) "Os dispositivos psicanalíticos e as incidências da geração", in EIGUER, A (Org.) A transmissão do psiquismo entre gerações, São Paulo: Unimarco, p.5-19.