Under the Sun (filme de 2015)

filme de 2015 dirigido por Vitaly Mansky

Under the Sun (em russo: В лучах Солнца, V luchakh solnca) é um documentário russo de 2015 dirigido por Vitaly Mansky. O filme segue por um ano a vida de uma família de Pyongyang, Coreia do Norte enquanto a filha do casal, Zin-mi, se prepara para fazer parte do Korean Children's Union no Dia da Estrela Brilhante (aniversário de Kim Jong-il).[2][5][6][7][8]

Under the Sun
В лучах Солнца
 Rússia
2015 •  cor •  90 minutos;[1] 105 minutos;[2] 110 minutos[3][4] min 
Gênero documentário
Direção Vitaly Mansky
Produção Natalia Manskaya
Simone Baumann
Filip Remunda
Elenco Lee Zin-Mi
Yu-Young
Hye-Young
Música Karlis Auzans
Cinematografia Alexandra Ivanova
Mikhail Gorubchuk
Edição Andrej Paperny
Distribuição Deckert Distribution
Icarus Films (EUA)
Lançamento Alemanha 29 de outubro de 2015 (Dok Leipzig)
Idioma coreano
Orçamento €390.000 (estimado)
Receita $102.407

Resumo editar

O filme segue por um ano a vida de uma família de Pyongyang, Coreia do Norte enquanto a filha do casal, Zin-mi, se prepara para fazer parte do Korean Children's Union no Dia da Estrela Brilhante (aniversário de Kim Jong-il)

O filme se inicia com estas palavras: "O roteiro deste filme foi-nos atribuído pelo lado norte-coreano. Eles também, gentilmente, nos forneceram um serviço de escolta 24 horas por dia, escolheram nossos locais de filmagem e examinaram todas as imagens que filmamos para garantir que não cometemos nenhum erro ao mostrar a vida de uma família perfeitamente comum no melhor país do mundo."[9]

Produção editar

 
Vitaly Mansky, diretor de Under the Sun.

Mansky concebeu o projeto ambientado em um país similar a União Soviética. Ele imaginou o filme como sendo "uma máquina do tempo" para a União Soviética sob Stalin, um meio de conhecer a história de seu país.[10] Antes do projeto, Mansky afirmou que nunca tinha visitado a Coreia do Norte e "apenas sabia o que a maioria de nós sabe".[11] Após visitar o país, Mansky sentiu que a Coreia do Norte era "muito mais dura e cruel" do que a União Soviética.[10] Mansky observou: "Do lado de fora, a Coreia se parece com a União Soviética dos anos 1930. Mas se você olhar mais profundamente, existe uma diferença crucial. Na União Soviética, nós tínhamos cultura - teatros bibliotecas, filmes. E o povo soviético eram pensadores críticos - eles reclamavam se houvesse alguma coisa que não gostassem. Se você comparar isso com a Coreia do Norte - eles não tem nenhuma destas memórias culturais. Todos parecem satisfeitos, felizes com como as coisas são. Isto é o que eu queria retratar no documentário."[11]

A companhia russa Vertov.Real Cinema começou as negociações para assegurar a filmagem de um filme na Coreia do Norte em 2013. As negociações com o Ministério da Cultura norte-coreano duraram dois anos. O projeto foi finalizado como um retrato de garota de 8 anos de nome Zin-mi e sua família em Pyongyang, focando na preparação da garota para se juntar ao Korean Children's Union no Dia da Estrela Brilhante (aniversário de Kim Jong-il). Os cineastas receberam permissão para fazer uma viagem de pesquisas para a Coreia do Norte e foram garantidos três períodos diferentes de filmagens, com 15 dias cada. Pelo contrato, o Ministério da Cultura iria supervisionar e aprovar todo aspecto do processo de filmagem. Eles criaram o roteiro, selecionaram cada um dos personagens e aprovaram as câmeras e cenas usadas no filme.[11] Ao diretor Vitaly Mansky e sua equipe seriam apenas permitidas filmagens de cenas aprovadas em locações específicas designadas pelo governo. A equipe de filmagem também seria acompanhada por guias supervisionando a produção.[12] A produtora Simone Baumann descreve o processo como "insuportável" para Mansky pois ele estava acostumado a ter completo controle do processo criativo de seus projetos. Ela afirma que "não podia deixar seu quarto de hotel sem que um oficial norte-coreano o seguisse".[11]

Após chegar na Coreia do Norte, não foi permitido que Mansky fosse a qualquer lugar por conta própria e que falasse diretamente com nenhum dos personagens. Percebendo que o governo norte-coreano pretendia fazer um filme de propaganda, Mansky decidiu manter as camêras gravando entre as cenas. O filme capturou filmagens dos guias norte-coreanos ensaiando as cenas, instruindo os personagens em como se comportar e quais diálogos manter.[13] Neste ponto, Mansky decidiu mudar o conceito do filme e usar as filmagens não aprovadas para fazer uma "exibição por trás das câmeras".[14]

O filme foi inicialmente financiado pela Vertov.Real Cinema. Posteriormente, fundos foram providos pela Saxonia Entertainment da Alemanha, Hypermarket Films da República Checa e da MDR da Letônia. Pelo contrato com o governo norte-coreano, o Ministério da Cultura recebeu crédito como co-produtor, embora não tenha fornecido nenhum apoio financeiro para o filme.[11]

Filmagem editar

 
Mansky na Coreia do Norte em 2014.

A Coreia do Norte permitiu que apenas Mansky, a operadora de câmera Alexandra Ivanova e um assistente de som visitassem o país. Sem o conhecimento das autoridades norte-coreanas, Mansky contratou uma tradutora russa fluente em coreano mas sem nenhuma experiência em gravação de som, para atuar como o assistente de som.[13] Mansky explicou: "Ela [a tradutora] era nossa espiã. Ela nos ajudava em saber o que eles [os guias norte-coreanos] estavam planejando para nós."[15] Mansky e sua equipe fizeram três viagens para a Coreia do Norte, passando um total de dois meses no país.[12] Embora os cineastas tivessem inicialmente garantidos três diferentes períodos de filmagem, os oficiais norte-coreanos cancelaram a já agendada terceira visita citando o surto de ébola. Baumann comentou sobre a visita cancelada: "pessoalmente, eu acho que eles não nos queriam filmando com qualquer tipo de pequena irritação." Baumann revelou que Mansky ficou tão frustrado com seus guias norte-coreanos que repetidamente o instruíam em como filmar que algumas vezes virava a câmera em direção a eles e começava a filmá-los.[11]

Ao final de cada dia de filmagem, as autoridades reviam toda a gravação e deletavam as cenas que eles consideravam inaceitáveis. Para contornar esta censura e momentos não roteirizados, Mansky permitia que as câmeras digitais continuassem a filmar mesmo após os guias norte-coreanos gritarem "corta". A equipe empregou um sistema de gravação que registrava toda a filmagem em dois cartões de memória separados. A equipe entregava um dos cartões de memória às autoridades norte-coreanas para inspeção e escondia a outra cópia.[12][14] De acordo com a produtora Simone Baumann, "A operadora de câmera foi muito corajosa. Ela colocava [o cartão de memória] dentro de suas calças quando ia ao banheiro. Ela dava um deles aos norte-coreanos e o segundo ela levava consigo." A equipe de filmagem, então, contrabandeava as filmagens para fora da Coreia do Norte.[14]

A versão do filme contendo cenas aprovadas pela Coreia do Norte tem 60 minutos de duração, enquanto a "versão do diretor" com filmagens não aprovadas tem 106 minutos.[11]

Recepção editar

As autoridades norte-coreanas não aprovaram a exibição do filme após descobrirem que a equipe de filmagem tinha contrabandeado filmagens não autorizadas. O governo da Coreia da Norte apresentou queixa ao Ministério das Relações Exteriores russo que foi parceiro na produção, procurando proibir a exibição do filme.[12] O pedido foi rejeitado pela Rússia e o filme foi exibido em festivais do país.[14]

Imediatamente após o lançamento do filme, a família de Zin-mi condenou o projeto alegando que foi feito desonestamente e editado de maneira seletiva para produzir um "filme anti-Coreia do Norte." A família também alegou que foi Mansky que ensaiou as cenas com sua filha. A mãe de Zin-mi afirmou: "Vitaly Mansky a dirigiu [Zin-mi], dizendo 'faça isso, faça aquilo'. Nós pensávamos que ele estava fazendo o documentário com o propósito de uma troca cultural amigável. Não sabíamos que Mansky era uma pessoa de mente tão maligna."[14]

O filme foi exibido em diversos festivais de cinema pelo mundo. Foi lançado em salas da Rússia, Coreia do Sul e outros países.[9] O filme teve exibição limitada nos cinemas dos Estados Unidos, estreando em 6 de julho de 2016, e arrecadou um total de $92.329 de 6 salas de exibiçao.[14][16] O curador do festival de cinema do Museu de Arte Moderna em Nova Iorque escolheu não exibir Under the Sun, temendo a possibilidade de um ataque cibernético por hackers norte-coreanos similares àqueles em resposta ao filme A Entrevista. A porta-voz do Museu, Margaret Doyle, posteriormente afirmou que o museu tinha desautorizado a sua decisão anterior e o curador já não era empregado pelo museu.[14]

Recepção dos críticos profissionais editar

Under the Sun recebeu análises positivas dos críticos. O Rotten Tomatoes relata 93% de análises favoráveis baseada em 25 críticas.[17] No Metacritic, o filme recebeu uma média de 81/100, baseada em 14 críticas, indicando "aclamação universal".[18]

Robert Boynton da Universidade de Nova Iorque, autor do livro The Invitation-Only Zone sobre o rapto de cidadãos japoneses, afirmou: "Este filme confirma a realidade que tudo é ensaiado. Qualquer coisa que vejamos é o que eles querem que vejamos, as falas das pessoas são supridas para eles, que tudo é coreografado." Boynton também afirmou que não acredita que a família de Zin-mi sofreu qualquer consequência do filme, acrescentando que: "Acho que o maior problema seria provavelmente para as pessoas que negociaram e permitiram que Mansky entrasse no país e também para os inspetores que guiaram sua equipe. Eles podem estar em apuros."[14]

Prêmios e indicações editar

Ano Prêmio Categoria Resultado
2015 Tallinn Black Nights Film Festival Melhor diretor Venceu
Jihlava International Documentary Film Festival Melhor documentário Venceu
2016 Lielais Kristaps Melhor documentário Venceu

Referências

  1. «AFI Docs Film Festival» (PDF). American Film Institute. 2016. p. 5. Consultado em 23 de outubro de 2016 
  2. a b Harvey, Dennis (20 de junho de 2016). «Film Review: 'Under the Sun'». Variety. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  3. «Under the Sun: A film by Vitaly Mansky». Icarus Films. 2016. Consultado em 23 de outubro de 2016 
  4. «October activities at the Detroit Institute of Arts include live performance, Mexican cultural demonstrations, family programs and more» (Nota de imprensa). Detroit Institute of Arts. 26 de julho de 2016. Consultado em 23 de outubro de 2016 
  5. Kohn, Eric. «Under the Sun Review: Documentary Goes Inside North Korea». www.indiewire.com. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  6. «'Under The Sun' ('V lutsah solntsa'): Film Review». The Hollywood Reporter. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  7. Gray, Carmen (2 de dezembro de 2015). «Russian film exposes the workings of North Korea's propaganda machine». The Guardian. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  8. «Under the Sun». The New Yorker. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  9. a b «It's what we already know». NewsComAu. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  10. a b «The Making Of A Propaganda Film In 'Under The Sun'». NPR.org. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  11. a b c d e f g «Q&A: Vitaliy Manskiy & Simone Baumann, 'Under the Sun'». ScreenDaily. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  12. a b c d Times, Los Angeles. «'Under the Sun' documentary catches North Korea with its guard down». latimes.com. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  13. a b Winfrey, Graham. «Under the Sun Producer on the Dangers of Shooting a Doc in North Korea | IndieWire». www.indiewire.com. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  14. a b c d e f g h CNN, Brian Todd and Dugald McConnell. «Propaganda film project backfires on North Korea». CNN. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  15. Boynton, Robert S. (1 de julho de 2016). «In 'Under the Sun,' a Documentary Masked and Unmasked». The New York Times. ISSN 0362-4331. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  16. «Under the Sun (2016)». www.boxofficemojo.com. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  17. «Under The Sun». Rotten Tomatoes. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  18. «Under the Sun». Metacritic. Consultado em 6 de outubro de 2016 

Ligações externas editar