Teste da linguinha

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O teste da linguinha é um exame padronizado que possibilita diagnosticar e indicar o tratamento precoce das limitações dos movimentos da língua causadas pela língua presa que podem comprometer as funções exercidas pela língua: sugar, engolir, mastigar e falar[1] (MARTINELLI, MARCHESAN, BERRETIN-FELIX, 2014).

No Brasil o exame se tornou obrigatório a partir da LEI Nº 13.002, DE 20 DE JUNHO DE 2014 (BRASIL, 2014)[2].

A realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês - “Teste da Linguinha” deve ser oportunizado em todos os hospitais e maternidades, nas crianças nascidas em suas dependências (BRASIL, 2014)[2].

A NOTA TÉCNICA Nº 11/2021 sugere que a avaliação do frênulo lingual seja realizada antes da alta hospitalar (entre 24h-48h de vida do recém-nascido) por um profissional de saúde que possua capacitação e que realize assistência ao binômio mãe/recém-nascido. Nos casos avaliados considerados duvidosos, orienta-se que seja feita uma avaliação cuidadosa da dinâmica da amamentação já na consulta da primeira semana de vida do recém-nascido (RN) na Atenção Básica. Diante da confirmação de que a alteração da função da língua está interferindo na amamentação, o bebê deverá ser encaminhado para a rede de serviços disponíveis em cada região, preferencialmente com equipes multidisciplinares com experiência em amamentação, como por exemplo, nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, Bancos de Leite Humano, nos ambulatórios dos Hospitais credenciados como “Amigo da Criança”, nos Hospitais de referência para Método Canguru ou nos Centros Especializados em Reabilitação (CER) (BRASIL, 2021)[3].

O teste

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O teste da linguinha deve ser realizado por um profissional da área da saúde capacitado, como por exemplo um fonoaudiólogo. Ele irá avaliar a língua do bebê em repouso, chorando e sugando, seus aspectos anatômicos e funcionais. O exame não tem contraindicações[1] (MARTINELLI, MARCHESAN, BERRETIN-FELIX, 2014).

Recomenda-se que a avaliação seja feita ainda na maternidade, pois constatando com antecedência há possibilidade de evitar dificuldades na amamentação, bem como perda de peso e desmame precoce, com introdução desnecessária da mamadeira. A avaliação inicial permite diagnosticar os casos mais severos e indicar a frenotomia lingual (pique na língua) já na maternidade[1] (MARTINELLI, MARCHESAN, BERRETIN-FELIX, 2014).

Se houver necessidade de intervenção, recomenda-se que o procedimento de liberação do frênulo lingual seja realizado por médico ou dentista. E caso ainda na maternidade o resultado seja duvidoso recomenda-se reteste em 30 dias de vida do bebê e orientação aos pais sobre possíveis dificuldades na amamentação[3] (BRASIL, 2021).

O escore resultante do teste deve ficar anotado na Caderneta de Saúde da Criança, na seção “Observações”.

Destaca-se que a Lei obriga a realização do teste e não da intervenção cirúrgica. Os pais possuem direito de receber informações sobre a presença de alteração, uma vez que ela consta no Classificação Internacional de Doenças (CID-10), assim como o direito de decidir ou não pela realização da cirurgia[4] (ABRAMO, 2017).

O Frênulo da língua

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Consiste em uma prega de membrana mucosa que conecta a língua ao assoalho da boca, a mesma pode apresentar variações em seu tamanho que impossibilitam as funções e a mobilidade da língua[5] (BISTAFFA; GIFFONI e FRANZIN, 2017).

Quando não ocorre a apoptose completa durante o desenvolvimento embrionário, há permanência de um tecido residual, que pode dificultar os movimentos da língua, gerando uma anomalia oral congênita chamada de anquiloglossia[6] (MARTINELLI et al, 2012).

A anquiloglossia caracteriza-se por um frênulo lingual anormalmente curto e espesso ou delgado, que pode restringir em diferentes graus os movimentos da língua[7][3](MONTEIRO et al 2018); (BRASIL, 2021).

Um estudo acerca da histologia do frênulo lingual relatou que o frênulo não sofre ruptura espontânea e não se alonga[8] (MARTINELLI et al, 2014), bem como a fixação do frênulo, tanto na língua como no assoalho da boca, não se modifica ao longo do tempo[9] (MARTINELLI et al 2014).

Nos recém-nascidos com anquiloglossia, a posição da língua tende a ficar baixa na cavidade oral durante o repouso (MARTINELLI et al, 2014). Alguns autores referem que este posicionamento baixo, ocasionado pelo frênulo alterado, pode alterar o crescimento orofacial, sobretudo da maxila, levando também ao desenvolvimento anormal do palato duro (alto e estreito), e secundariamente, à respiração oral durante o sono (HUANG et al, 2015).

A Classificação Internacional das Doenças (CID-10) definida pela Organização Mundial da Saúde (2008), reconhece a anquiloglossia como doença, estabelecendo o código Q38.1, que consta do capítulo XVII, referente às Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas. Na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), proposta pela OMS (2003), também é possível incluir as limitações ocasionadas pela anquiloglossia relatadas em estudos nos domínios Função do Corpo, Estrutura do Corpo e Atividade e Participação[4] (ABRAMO, SBFA 2017).

Anquiloglossia e Amamentação
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Os efeitos da anquiloglossia podem acarretar dificuldade na amamentação devido aos processos de sucção/deglutição prejudicados pela limitação do movimento da língua, o que pode afetar no ganho de peso da criança e seu desenvolvimento. Além disso, a mãe pode apresentar dor durante a amamentação levando ao um desmame precoce, e posteriormente, a criança pode apresentar dificuldades de dicção. Em alguns casos mais severos, pode ocorrer também deficiência no crescimento mandibular (PROCOPIO; COSTA e LIA, 2017).

Ressalta-se que a conduta do recém-nascido que apresenta o teste alterado deve sempre levar em consideração se essa condição interfere ou não na amamentação. A avaliação da mamada pelos profissionais de saúde é de suma importância (BRASIL, 2021).  

Vale salientar que quando houver dificuldades na amamentação, independente do resultado do Protocolo, é importante que a mãe e o recém-nascido recebam o suporte necessário na Rede de Atenção à Saúde[3] (BRASIL, 2021).

Frenotomia
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Consiste na técnica cirúrgica de remoção parcial do freio lingual nos casos de anquiloglossia nos recém-nascidos. Neste procedimento é realizada uma incisão linear anteroposterior do freio, sem remoção de tecido, com objetivo da melhora na postura e mobilidade da língua (PROCOPIO; COSTA e LIA, 2017).

Estudos têm revelado que a frenotomia costuma ser um procedimento simples, seguro, rápido e eficaz, que facilita significativamente a amamentação, e propicia alívio da dor nos mamilos referida pelas mães (BURYC et al 2011; ITO, 2014).

Referências

  1. a b c Martinelli RLC, Marchesan IQ, Berretin-Felix G. Cartilha do Teste da Linguinha: para mamar, falar e viver melhor. São José dos Campos, SP: Pulso Editorial, 2014. Disponível em: http://www.sbfa.org.br/portal/pdf/testelinguinha_2014_livro.pdf [ Acessado em 18 de novembro de 2021].
  2. a b BRASIL. Lei nº 13.002, de 20 de Junho de 2014. Obriga a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13002.htm [Acessado em 18 de novembro de 2021].
  3. a b c d Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA Nº 11/2021. Disponível em: https://egestorab.saude.gov.br/image/?file=20210601_N_NT11AVALIACAOFRENULOLINGUALRN_772086272972157347.pdf. [Acessado em: 18/11/2021].
  4. a b ABRAMO, Associação Brasileira De Motricidade Orofacial; SBFa, Departamento de motricidade orofacial da sociedade brasileira de fonoaudiologia. Esclarecimento sobre o Protocolo de Avaliação do Frênulo Da Língua em Bebês. 2017. Disponível em: https://www.sbfa.org.br/portal2017/themes/2017/departamentos/artigos/resolucoes_53.pdf.
  5. Bistaffa, A. G. I.; Giffoni, T. C. R.; Franzin, L. C. Da S. Frenotomia lingual em bebê: Lingual Frenotomy in baby. Revista UNINGÁ Review, Paraná, v. 29, n. 2, p. 18-22, jan/fev/mar. 2017.
  6. Martinelli RLC, Marchesan IQ, Berretin-Felix G. Lingual Frenulum Protocol with scores for infants. Int J Orofacial Myology. 2012;38:104-12.
  7. Monteiro, F. R. et al. Nota técnica oficial: Anquiloglossia. Revista Digital Associação Paulista de Odontopediatria, São Paulo, v. 72, n.01, p.10-15, 2018b
  8. Martinelli RLC, Marchesan IQ, Gusmão RJ, Rodrigues AC, Berretin-Felix G. Histological characteristics of altered human lingual frenulum. International Journal of Pediatrics and Child Heath. 2014;2:5-9.
  9. Martinelli RLC, Marchesan IQ, Berretin-Felix G. Estudo longitudinal de características anatômicas do frênulo lingual comparado com afirmações da literatura. Rev. CEFAC. 2014;16(4):1202-7.
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