Usuário(a):Diana Aguiar/Testes

Convento de Nossa Senhora da Piedade de Santa Cruz

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O Convento de Nossa Senhora da Piedade de Santa Cruz era masculino, e pertencia à Ordem dos Frades Menores, da Província de Portugal da Observância.

Em 1518, foi mandado edificar pelo genovês Urbano Lomelino, por disposição testamentária do mesmo ano, perto de Santa Cruz.

O fundador vinculou os seus bens por testamento a favor do sobrinho, Jorge Lomelino e seus descendentes, com o encargo de se concluir a edificação do convento, de o conservar e ainda de sustentar seis religiosos quando lhes faltassem as esmolas.

Em 1527, o convento da Custódia da Madeira, encontrava-se já erguido e habitado por seis frades, quatro sacerdotes e dois leigos.

Joana Lopes e Isabel Correia, respetivamente mulher e sogra de Urbano Lomelino, edificaram na igreja do convento a capela de Santa Ana, que servia à comunidade de casa do capítulo e nela foram sepultadas, bem como Jorge Lomelino, que morreu em 1548.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica"[1] empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respetivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional. Em 1834, foi encerrado, tendo sido restituído aos descendentes do fundador.[1]


  1. a b Ferreira Pio, Manuel (2004). Santa Cruz da Ilha da Madeira. [S.l.]: Tipografia Minerva 

História

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O convento franciscano de Nossa Senhora da Piedade, foi instituído por determinação testamentária de Urbano Lomelino que, com seu irmão João Baptista Lomelino, viera para Santa Cruz, em 1456. Naturais de Gênova, na Itália fora-lhes concedido, por Carta de D. Afonso V, de 21 de junho, daquele ano, “o monopólio da cortiça e coral, por dez anos”[1], negociando ainda os mesmos Lomelino com açúcar, vinhos, meles e conservas, que exportavam pelos seus navios para o Reino, Flandres, Génova, Veneza e até para a India.

Casou Urbano Lomelino, na Madeira, com Joana Lopes, filha de Isabel Correia, natural de Santana, de cujo casal não houve descendência, passando seus bens, mais tarde para a posse de seu sobrinho Jorge Lomelino.

Urbano Lomelino, em seu testamento de 9 de julho de 1518, deixou escrito o seguinte, acerca de fundação do Convento franciscano que, posteriormente, os seus herdeiros fizeram construir:

“…tanto que falecer - deixou escrito o dito testamenteiro – da vida presente que logo com muita diligência lhe farão um oratório de frades, o qual se fará na terra que ele tem (para) além de S. Sebastião, onde se chama a Granja.

E para se fazer o dito oratório mando que dêm terra para se fazer dois ou três côvados mais compridos que – a Igreja de S. João de Latrão, que Nuno Fernandes mandou fazer, e darão terra para os frades fazerem pomar e hortas e celas contanto que não passem da levadinha para cima, no qual oratório mando assistir quatro frades de missa, continuamente…”

“Que o dito oratório se fará do dinheiro que por seu falecimento se achar…”[1]

O Convento encontrava-se construído no ano de 1527, sendo neste ano entregue à “Província Franciscana de Portugal”[1].

Urbano Lomelino fez testamento em 1518, no dia 9 de julho, falecendo pouco depois, nesse mesmo ano.

Joana Lopes e Isabel Correia, mulher e sogra de Urbano Lomelino mandaram edificar a Capela de Santa Ana na Igreja desse convento, a qual servia de capítulo à Comunidade franciscana, nele instalada e onde Jorge Lomelino foi sepultado em 9 de dezembro de 1548.

Por vontade expressa do testador, a igreja do Convento foi ornada com grandeza, pelo que o seu herdeiro ficou com a obrigação de a “conservar e ainda de sustentar os seus religiosos, quando lhes faltassem as esmolas”.[1]

Dando cumprimento às disposições testamentárias de Urbano Lomelino, João Fernandes de Amil que então exercia o cargo de Juiz dos Resíduos e Capelas, determinou que,

“… sobre o testamento de Urbano Lomelino, no refente à capela, que o mesmo instituíra a favor do dito Convento de Nossa Senhora da Piedade, se fizesse uma declaração, da qual constava que a intenção do dito instituidor era que sua mulher D. Joana Lopes, primeira chamada, tirasse todas as despesas, que sua fazenda fizesse, sem ficar nada para si, mais vinte mil réis para os frades e hábitos e colações, que tudo sairia do monte: e o que ficasse se repartisse em quatro partes, três para se gastarem com pobres e órfãos e a quarta parte para ela administradora.”[1]

Quando Urbano Lomelino faleceu deixou “cerca de1500 cruzados e ducados e muito açúcar que faltava receber de uns mercadores e que eram 146 arrobas ao preço corrente de $780 postas na Vila de 36 caixas de açúcar e quatro pipas de mel mandadas para a Flandres. E sendo tudo isso convertido em dinheiro, este deu para a edificação do Convento com capacidade é alojamento de doze a quinze frades e uma Igreja, de uma só nave.”[1]

Anteriormente no ano de 1722, visitando o Convento, Henrique Henriques de Noronha, historiador madeirense, nascido em Câmara de Lobos, em 1667, escreveu o seguinte:

“Está situado este convento em um alto junto ao mar e quase contíguo à Vila de Santa Cruz, na Capitania de Machico, mas três léguas distante do Funchal. Tem (o Convento) larga capacidade para 12 ou 15 religiosos que nele habitam, sendo a sua criação para seis ou quatro sacerdotes e dois leigos, como dispôs o (seu) instituidor, entre os benefícios que alcançou dos Reis portuguezes, conserva o púlpito da Vila por uma provisão da Rainha D. Catarina, passada no ano 1561.

Na claustra tem além da Capela de Santa Ana que serve de Capítulo aos religiosos, como já dissemos outra (Capela) das Almas e, na cerca há a (Capela) de Santo António curiosamente asseada.

A igreja principal é de uma só nave com dois altares colaterais, a parte do Evangelho, o de S. Roque a cujos pés está sepultado Gonçalo de Freitas, fidalgo da Casa de El-Rei D. Afonso V, e monteiro-mór do Infante D. Fernando, seu irmão, e sua mulher Maria de Valões Corream, como consta do seu epitáfio e de outros documentos que vimos.

A Capela- mór tem maravilhosas pinturas, como as dos altares, a principal é a de Nossa Senhora da Piedade, orago desta Casa.

Na parede da parte do Evangelho se vê o túmulo de jaspe, onde foram transladados os ossos de Urbano Lomelino, que no ano de 1518 se depositaram na Igreja paroquial da Vila.Nele estão esculpidas as suas armas, em uni escudo e abaixo do outro com um perfil negro que o devido, um pouco arcado, como as traz o Conde de Lançarote.No meio da Capela jaz sepultado o edificador desta Casa que faleceu em 9 de dezembro de 1548 e na sua sepultura se lê os seguintes letreiros: “Sepultura de Jorge Lomelino, Fidalgo da Casa de El-Rei D. Manuel.”

Na mesma Capela- mór descansa o Pe. Frei Manuel da Esperança, filho do Provincial de Portugal, que viveu oito anos nesta Ilha com grande exercício nas virtudes, quando faleceu achava-se nesta Casa enfermo e querendo-se-lhe dar o último sacramento disse que ainda não era tempo e que ele chamaria quando o fosse. Assim sucedeu, porque erguendo-se da cama, bateu à porta de um religioso que lhe trouxesse a-unção e depois de a receber entregou a alma ao seu Creador com grande consolação dos assistentes.

Na Capela das Almas que fica na claustra, como já dissemos, descansa o Pe. Frei António de Santa Maria, natural de Bragança que, entrando na religião já clérigo, mostrou nela o espírito, com que a buscou. Nesta ilha exercitou perfeitamente todos aqueles ofícios em que ele pôs a obediência. Os jejuns, disciplinas, cilícios e todo o gênero de mortificação eram o mais apetecido regalo da sua virtude.

Foi contínuo na assistência do coro, donde se recolhia à cela, depois da meia noite a ter descanso sobre duas tábuas. Depois de falecido concorreu a vê-lo todo o povo da vila e não atendendo à sua devoção indiscreta a nada lhe levaram o hábito em retalhos, e o pouco que se lhe achou das alfaias do seu uso se dividiu parcamente pelos descendentes"[1].

Gaspar Frutuoso, descrevendo, em 1590, a parte de Santa Cruz, referindo-se à existência do Convento, diz, textualmente:

“… abaixo dele (caminho) está hum Mosteiro dos Frades Franciscanos com outro (oito) religiosos de missa, e tem boa Igreja com boas oficinas e aposentos, de que António de Leomelim (Lomelino), do Porto do Seyxo, homem, fidalgo, rico e muy generoso, he padroeiro (proprietário), caritativo que reparte esmolas de sua fazenda.

Do Mosteiro hum tiro de bésta está a nobre e grande Villa de Sancta Cruz, a melhor de toda a Ilha”[1].

Isabel Lopes e sua filha Isabel Correia, respetivamente tia e prima de Jorge Lomelino, foram sepultadas na Capela de Santa Ana, que então servia de Capítulo, no Convento.

O Convento tinha o seu Guardião privativo que era, em 1613, frei Francisco da Madre de Deus, o qual, certamente, não era natural da Madeira.

A Extinção do Convento

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A lei de 8 de maio de 1834, extinguindo o Convento Franciscano de Santa Cruz, mandava entregar todos os seus bens ao seu padroeiro-proprietário e herdeiro do seu primeiro instituidor. O caso provocara uma longa demanda, sem resultados favoráveis à Comunidade Franciscana que, durante mais de três séculos o havia ocupado – 1509 – 1834.


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