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Lugar de Baixo
Higino Faria/sandbox
Lugar de Baixo visto dos Zimbreiros, autor: Alex Pop
Distrito Lugar de Baixo
Município Ponta do Sol
Freguesia Ponta do Sol
Área 0.47 km²
População 336 hab. (2011)
Orago Santo António[1]
Código postal 9360-501
Povoações de Portugal

O Lugar de Baixo fica situado à beira-mar, a 15km a oeste da cidade do Funchal, pertence à freguesia da Ponta do Sol, concelho com o mesmo nome, no arquipélago da Madeira, e possui uma área de 0.47 km quadrados e uma população de 336 habitantes (2011).[2]


TOPONÍMIA

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O sítio do Lugar de Baixo foi assim chamado por oposição ao sítio do Lugar de Cima, na Lombada da Ponta do Sol. Dentro do seu território destacam-se os seguintes sub-sítios: Luzirão, Terça, Ladeira, Padaria, Lombo, Porto Jangada, Pedra do Sal, Amoreira, Aguagem, Fonte Seiço, Cascalho, Pico do Calcete e Bico da Quebrada.[3]

HISTÓRIA

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Inicialmente pertencente ao morgadio do Vale da Bica, o sítio foi povoado por caseiros do senhorio da Casa de João Esmeraldo, nobre oriundo da Picardia estabelecido na Lombada da Ponta do Sol, e seus descendentes. Estes caseiros eram, na sua maioria, agricultores, mas também pequenos artesãos e pescadores. Esta grande propriedade passou para o morgadio do Santo Espírito, ainda no decurso do século XVI depois de feitas novas partilhas de terra entre João Esmeraldo "O Novo", sua madrasta, D. Águeda de Abreu e seu irmão, Cristovão Esmeraldo.[4]

O Elucidário Madeirense refere que D. Águeda de Abreu ficou com o prédio do Lugar de Baixo como parte integrande do seu dote.[5] Na actual localização do palacete, zona cimeira do sítio, existiu outrora uma ermida dedicada a Santo António e a São Francisco, mandada construir ou por João Esmeraldo da Autouguia, terceiro administrador do morgadio do Santo Espírito, no inicio do século XVII[6] ou por D. Joana de Castelo Branco em 1672, possivelmente como tributo à alma do seu falecido marido: o Capitão-cabo Pedro Ribeiro Esmeraldo, fidalgo da casa real.[4]

No início do século XX, a antiga capela de Santo António foi demolida para dar lugar a uma moradia abastada da família Zino, erguendo-se outra no seu interior da mesma invocação para substituir a anterior. O morgadio foi vendido pelo Último Conde de Carvalhal à família Zino.[6]

 
Palacete dos Zinos, Lugar de Baixo, (autor: Higino Faria. 07/22/2015)

Em 1925 esta casa de veraneio foi pano de fundo do contencioso da transição das terras dos senhorios, a família Zino, para os caseiros da Lombada e Lugar de Baixo, que se arrastava desde 1923, ano em que tinham sido iniciadas as negociações entre um solicitador judicial pontassolense contratado pelo povo e os representantes da firma A.Giorgi. & Cª. Chegaram a rebentar bombas no caminho em frente ao palacete, então residência do feitor Ernesto Menezes, por ai estar estacionada uma força militar encarregada de conter os ânimos e prender os líderes da revolta. Mais de trezentos caseiros, revoltados, apanharam canas do senhorio sem autorização, vendidas, depois, num engenho da vila da Ponta do Sol, como forma de compensação pela fraude de que estavam a ser alvos.

Segundo o acordado inicialmente, de fora da venda das propriedades ficavam o chalet e um cabo áreo para transporte de cargas.[7]

Este grave conflito jurídico teve que ser mediado pelo estado e ultrapassou fronteiras. Estes acontecimentos servem como exemplo do clima de instabilidade e de grave crise social e económica que a ilha viveu no período da Primeira República e Estado Novo. Estes anos difíceis empurraram vários lugar-de-baixenses para a emigração nos anos 50.[8]

De acordo com as temperaturas diárias registradas do IPMA,[9] este sítio tem as temperaturas mínimas e máximas mais altas de todas as estações meteorológicas da ilha. Temperaturas máximas raramente descem abaixo de 20 ° C, tal acontece alguns dias por ano apenas.

Ande pelas ruas de Lugar de Baixo e verá manchas densas e extensas de bananal (Musa acuminata)

 
Cacho de banas junto a vereda e levada regadeira (autor: Alex Pop,2020)

e até exemplos saudáveis ​​de palmeiras subtropicais e até tropicais, como: Palmeira-areca (Dypsis lutescens), Côco (Cocos nucifera), Dragoeiro (Dracaena draco), Pata-de-elefante (Beaucarnea recurvata) ), Palmeira-real (Roystonea regia), Tamareira (Phoenix dactylifera).


GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE

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A área do sítio foi crescendo devido às catástrofes naturais que mais afetam a ilha, como as quebradas e as aluviões. Em 1804, um enorme desprendimento de terras da escarpa, a norte, aumentou o seu território. Esta fajã, uma das maiores da ilha, foi alargada pelos detritos provenientes da Ribeira da Caixa durante o aluvião que provocou a grande quebrada, Esta quebrada, originou uma onda no mar que provocou estragos na Ponta do Sol e na Ribeira Brava.[10]

Estes acontecimentos geológicos possibilitaram a criação da escarpa em arco que o sítio apresenta como fundo e contribuiram para a existência de um solo fértil, de uma orla costeira geologicamente complexa, que inclui praias de calhau rolado praias de rocha megalítica, um ambiente lagunar, constituído por água salobra e recifes que se extendem da zona entre marés à zona subtidal. Estas caraterísticas favorecem a biodiversidade e a prática de desportos de ondas, como o surf e o bodyboard. No inverno o surf spot do Lugar de Baixo atrai um considerável número de surfistas para surfar a sua onda tubular e potente que quebra diante da lagoa e se extende até aos bares.[11] A Ribeira da Caixa serve de fronteira natural entre os concelhos da Ribeira Brava e da Ponta do Sol e o sítio é dividido por um ribeiro, alimentado por uma cascata e águas do subsolo. Esta linha de água proveniente do sítio Lombada, a montante, rasga a escarpa espetacularmente nos dias de intensa pluviosidade.

A praia e a zona de maré cheira a sargaços e marisco quando a maré está bastante baixa. Para aqui, em época balnear, são atraídos veraneantes e alguns pescadores desportivos, em busca de lapas (Patella aspera, Patella candei), caramujos (Gibbula umbilicalis), polvos (en:Callistoctopus macropus, Octopus vulgaris), caranguejos-cabra (en:Grapsus adsensionis), jacas (en:Grapsus marmoratus) e aranhas (Plagusia clavimana). Estas duas últimas espécies de crustáceos são o melhor isco para a pesca do Bodião (Sparisoma cretense).O Lugar de Baixo tem um desembarcadouro, atualmente soterrado sobre a praia artificial criada pelos detritos provenientes da Marina do Lugar de Baixo, inaugurada em 2006, mas desativada e arruinada pelo mar.

 
Lagoa do Lugar de Baixo e Garça-real (Ardea cinerea) em voo, pôr-do-sol. (autor: Higino Faria,1/20/2013)


A lagoa tem cerca de 3500m² e foi, noutros tempos, chamada Poça das Tainhas, por ter servido como viveiro desta espécie no século XIX. É um importante ecossistema de aves terrestres e marinhas. Podem ser observadas aqui várias aves residentes: o Galeirão (Fulica atra), a Galinha-de-Água (Galínula chloropus), a Lavandeira (Motacilla cinerea schmitzi), etc; e migratórias, tais como: a Rola-do-mar (Arenaria Interpres); o Maçarico-das-rochas (Actitits hypoleucos), a Garça-real (Ardea cinerea), a Garça-branca (Egretta garzetta) e a Garça-vermelha (Ardea purpurea), mais rara por estas paragens. A Ibis-preta (Plegadelis falcinellus), o Pilrito-comum ou de Peito-preto (Calidris alpina) e o Pato-colhereiro (Ana clypeata) também fazem por aqui esporádicas aparições, entre outras espécies migratórias. O Bico-de-lacre (Estrilda astrild) é uma espécie africana introduzida na ilha que também ocorre com frquência por aqui. Abundam no inverno grupos de Gaivota-de-pata-amarela (Larus michahellis atlantis), etc.[12] Nas suas águas foram também criados bivalves e a apanha de minhoca para isco, utilizado na pesca, em especial na pesca da safia (Diplodus vulgaris), foi prática recorrente no seu lodaçal. Anteriormente a espécie vegetal que mais abundava nesta lagoa era o juncus ([Juncus effusus], mas devido à alteração da composição da água e do solo o caniço-da-água (Phragmites australis) passou a ser a espécies mais predominante. Esta espécie, apesar de muito infestante, desempenha um papel preponderante neste habitat porque contribui para a purificação da água e serve de refúgio para as aves.

PATRIMÓNIO CULTURAL

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Palacete dos Zinos

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O Palacete dos Zinos é um chalé romântico, enquadrado no gosto colonial inglês, de planta retangular, corpo único e cor rosa velho. Trata-se de um dos melhores exemplares do seu tipo na região e foi construído entre 1902 e 1905, para ser residência de verão de António Giorgi, cônsul italiano na Madeira, e de seus parentes da família Zino, oriunda de Gibraltar, que foram sócios na companhia comercial A.Giorgi. & Cª. No seu interior existe a Capela de Santo António, de 1906, que veio substituir a anterior, do século XVII.[13] O jogo de formas dos vãos da fachada principal: pequenas volutas e contra volutas, frontões arredondados e triangulares, intercalados, conferem grande plasticidade à fachada do edifício e o uso dos ferroneries, que delimitam o adro, traduzem os primeiros sinais da arte nova na ilha no contexto rural por via de uma clientela abastada. Os ornatos do telhado filiam-se num vago exotismo mourisco que contagiou o romantismo ibérico; já as cabeças de cão são elementos decorativos oriundos da arquitetura e olaria popular madeirenses. De 1954 a 1976 o chalet funcionou como Escola Prática de Agricultura Elementar da Madeira.[14] Depois de muitos anos devoluto, em 2004 foi restaurado e recuperado pela Socidade de Desenvolvimento da Ponta Oeste. A capela no seu interior, dedicada a Santo António de Lisboa, continua servindo o culto paroquial por estar afeta ao uso do povo segundo a Concordata de 1940, assinada entre a Igreja e o Estado, proprietário do edifício concessionado a uma unidade hoteleira, inaugurada em fevereiro de 2020.


Unidade construída da Junta ou Bananicultura

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No final dos anos quarenta do século XX o Estado Novo destinou para o Lugar de Baixo a criação de várias infraestruturas de fomento da agricultura regional, tais como a Escola Agrícola e o Posto Agrário: um centro experimental de agricultura designado pelo povo como Junta, por ser administrado pela Junta Geral do Distrito do Funchal[15] mais tarde dividido em dois centros, um para a bananicultura outro para a floricultura. Nos anos cinquenta é aberta a Estrada Nacional que ligava a Tabua à Ponta do Sol.[16]

Originalmente a cana-de-açucar e o gado foram culturas predominantes nestes espaços agrários. O gado bovino era tratado para o fábrico de nitrogénio, usado como fertilizante. Foi criada, para o efeito, uma nitreira. Contudo, o peso económico crescente da bananicultura, fez com que o governo apostasse no cultivo e estudo de alguns tipos de banana, (Musa acuminata): Cavendish, Gal, Zelig e bilieu, entre outras,[17] reservando para o efeito grandes parcelas de terreno entre o Caminho da Padaria, a Estrada de Santo António e a Estrada Regional n° 101. Este espaço é composto por armazéns, estufas, casa térrea para os escritórios (recentemente demolida), muros, árvores de frutos subtropicais, poios de bananeiras, levadas e vias de acesso internas.[18]


Unidade construída do Pico do Calcete ou Floricultura

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O centro experimental de plantas ornamentais tropicais e sub-tropicais tutelado pelo governo regional visa produzir, estudar e vender flores, em especial orquídeas, cattleyas e antúrios.[19] Como local de interesse, o visitante deve apreciar não só as instalações (estufas, laboratórios,etc), as técnicas e os métodos de cultivo de várias espécies nativas e exóticas, como todo o conjunto edificado de casas antigas, muros, poços de água e árvores. Estes elementos foram construídos ou implantados no terreno com recurso a soluções da arquitetura popular em desuso, como a edificação de alçados compostos de alvenaria e cantaria regional, tapassóis em madeira nos edifícios originais ou a edificação de sólidos muros de pedra aparelhada com as escadarias feitas de degraus embutidos nas caixas murárias, em consola. A captação e armazenamento da água para uso na rega de uma grande área como esta foi feita através da construção de poços, que consistem em galerias artificiais escavadas na rocha dura ou nos tufos de cinza vulcânica. Destes deve-se destacar o Poço da Fajã, integralmente escavado num tufo vulcânico na encosta, ligado ao Pico por uma grande tubo por onde passam as águas.


ECONOMIA

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A economia local gira em torno de duas atividades fundamentais: a agricultura (bananicultura, floricultura e futos tropicais: mango, papaia, anona, etc.) e os serviços públicos e privados, fixados na zona baixa e no topo do sítio. O turismo de natureza e de patrimóno assumem-se como atividades e produtos emergentes, contando o território do sítio com algumas unidades de alojamento local.



REFERÊNCIAS

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  1. Altar da capela de Santo António
  2. Direção Regional de Estatística da Madeira
  3. RIBEIRO, João Adriano (1993). Ponta do Sol: subsídios para a história do concelho. Ponta do Sol: Câmara Municipal da Ponta do Sol. p. 248. 
  4. a b Panfleto publicado para distribuição na inauguração da recuperação do palacete. Ponta do Sol: Ponta Oeste. 5 de março de 2004 
  5. SILVA, Fernando Augusto; MENESES, Carlos Azevedo (1998). Elucidário Madeirense Vol II. Funchal: Direcção Regional dos Assuntos Culturais. p. 273-275 
  6. a b SILVA, Fernando Augusto (1933). A Lombada dos Esmeraldos na Ilha da Madeira. Funchal: [s.n.] p. 44-46,54. 
  7. RIBEIRO, João Adriano (1993). Ponta do Sol: subsídios para a história do concelho. Ponta do Sol: Câmara Municipal da Ponta do Sol. p. 203. 
  8. NEPUMOCENO, Rui (1994). As crises de subsistência na história da Madeira - Ensaio Histórico. Lisboa: Editorial Caminho. p. 186. 
  9. [1],Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
  10. SILVA, Fernando Augusto; MENESES, Carlos Azevedo,. Idem. [S.l.: s.n.] p. 273-274. 
  11. Lugar de Baixo - WannaSurf
  12. [www.spea.pt/fotos/editor2/birdwatching_turismodeportugal_low_reso.pdf]
  13. [2], SILVA, Fernando Augusto (1933). A Lombada dos Esmeraldos na Ilha da Madeira. Edição do autor. Funchal: [s.n.] p. 44. 
  14. [3],CORREIA, Ana (2016). “vieira, eng° rui”, in Aprender Madeira. Funchal: aprendermadeira.net. 
  15. [4],Estação Agrária da Madeira: instrumentos descritivos. Funchal: ARMBPM. 2016. p. 26., 65, 76, 77. 
  16. [5],VIEIRA, Alberto (2017). “obras públicas”, in Aprender Madeira. Funchal: aprendermadeira.net. 
  17. RIBEIRO, João Adriano (1993). Ponta do Sol: subsídios para a história do concelho. Ponta do Sol: Câmara Municipal da Ponta do Sol. p. 155. 
  18. [6]
  19. [7]



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