Usuário(a):Maria Eduarda Aires Matos/Testes

Orógeno Minas-Bahia

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O Orógeno Minas-Bahia é uma formação geológica localizada no nordeste do Brasil, formada ao longo do período Riaciano, durante a amalgamação do supercontinente Gondwana.

O Orógeno Minas-Bahia abrange partes dos estados de Minas Gerais e Bahia, possuindo notória relevância no contexto geológico brasileiro. Este orógeno se desenvolveu entre 2400 a 2050 Ma, ao longo da porção oriental do Cráton São Francisco (Bruno et al., 2021)[1], como resultado da colisão e fusão de blocos e arcos magmáticos. Esta região é caracterizada por uma variedade de rochas magmáticas e metamórficas como granitos, gnaisses e migmatitos. É de grande importância a compreensão dos processos tectônicos que permitiram o desenvolvimento da paisagem e estrutura geológica ao longo do tempo, como também o contexto geológico brasileiro em que o orógeno se desenvolveu.

A orogenia Minas-Bahia combinou fragmentos crustais do Arqueano e arcos magmáticos paleoproterozoicos para formar o Paleocontinente São Francisco-Congo durante o período Riaciano, aproximadamente 2,05 bilhões de anos atrás.

Formação e Evolução

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Formado durante o ciclo orogênico Brasiliano-Pan Africano, entre 600 a 450 milhões de anos atrás, o orógeno Minas-Bahia está relacionado com o Orógeno Araçuaí, já que ambos compartilham de uma história tectônica similar. Este ciclo orogênico foi responsável pela amalgamação de diversos blocos continentais, o que contribuiu para a formação do supercontinente Gondwana, assim como a formação do Orógeno Minas-Bahia, que está incluso num contexto geológico de fases de acreção, colisão, metamorfismo, e deformação pós-colisional[2].

Acresção e colisão: Inicialmente houve a acresção de arcos magmáticos e microcontinentes ao Cráton São Francisco.

Metamorfismo: Este processo resultou em alto grau de metamorfismo nas rochas da região, com a formação de minerais típicos de altas pressões e temperaturas. Como rochas gnaisses com sillimanita e granada.

Deformação pós-colisional: O processo de colisão e deformações sin e posteriores ao metamorfismo, criaram estruturas complexas como dobras e falhas, influenciando na mineralização da região.

Contexto Geológico

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Entre 2,4 e 2,1 Ga, a cristalização de rochas de arco magmático juvenil no Cinturão Mineiro e de rochas granitóides no Complexo Juiz de Fora marca os estágios iniciais de acreção da porção sul do Orógeno Minas-Bahia (Moreira et al., 2018; Teixeira et al., 2017a; Barbosa et al., 2015; Ávila et al., 2014; Ávila et al., 2010; Heilbron et al., 2010; Teixeira e Figueiredo, 1991)[3]. Um sistema de subducção leste(2,2–2,1 Ga), gerou rochas com assinatura isotópica mista no Complexo Juiz de Fora e suítes coevas de TTG e sanukitoides no Cinturão Mineiro e Complexo Mantiqueira. A subducção dupla, conforme modelo elaborado por Araújo et al.[4] , explica a origem das rochas plutônicas e unidades supracrustais do Cinturão Mineiro e a zonagem geoquímica do arco magmático de Juiz de Fora. A subducção dupla também é capaz de explicar os granitóides de 2,1–2,05 Ga presentes no bloco Piedade e a estrutura de domo e quilha na frente do paleocontinente São Francisco (Bruno et al., 2020; Araújo et al., 2019b; Moreira et al., 2018; Heilbron et al., 2010; Duarte et al., 2004).

Este sistema orogênico é marcado por contatos tectônicos entre o embasamento arqueano até as rochas proterozoicas do Bloco Minas, tendo-se a presença de rochas de arcos magmáticos vulcânicos do Sideriano ao Riaciano, e sequências intra-oceânicas do Cinturão Mineiro, assim como dos arcoss vulcânicos dos Complexos Mantiqueira e Juiz de Fora (Carneiro de Oliveira et al. 2024), que estão envolvidos por um sistema de zonas de sutura e zonas de cisalhamento Congonhas-Itaverava (Seixas, 1988; Miethke et al., 2007; Corrêa Neto et al., 2013; Neuceno et al., 2023), Lenheiros (Ávila et al., 2010, 2014; Nepomuceno et al., 2021) e Jeceaba-Bom Sucesso (Campos, 2004)[5].

Por ser um orógeno acrescionário-colisional, no momento final da colisão ocorre-se uma modificação estrutural nos terrenos que sofreram com o acrescionamento, devido ao empurrão e ao encurtamento crustal extensivo, provocando obliteração parcial ou completa. (Murphy e Nance, 1991; Cawood et al., 2009, 2016)[6].

Os cinturões orogênicos paleoproterozoicos do Brasil, como o Orógeno Minas Bahia, são fundamentais para os modelos de reconstrução do supercontinente Columbia, envolvendo a convergência e amalgamação de fragmentos continentais arqueanos antigos e a acreção de nova crosta por subducção. Esses cinturões estão presentes nos principais crátons, como o São Francisco, e como enclaves retrabalhados nos orógenos neoproterozóicos circundantes.

Supercontinente Columbia

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O supercontinente Columbia formou-se durante eventos colisionais globais entre 2,1 e 1,8 Ga, e estava envolvido em processos de acresção relacionados à subducção de longa duração (Xia e Xu, 2019)[7]. Há registros de sua existência na região noroeste do Cráton São Francisco, onde ocorre o Orógeno do Oeste da Bahia (OOB), parte do Sistema Orogênico Minas-Bahia (SOMB). Após a colisão continental, conforme o modelo proposto por D'Agrella-Filho e Cordani (2017), o Cráton São Francisco-Congo passou a integrar o chamado Bloco Africano Central, junto com os crátons Kalahari, Rio de la Plata e Borborema-TransSahara. Estes crátons compuseram o Supercontinente Columbia por volta de 1,8 bilhões de anos atrás, após sua fusão com Laurentia, proto-Amazônia, Oeste da África e Báltica.

Referências

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  1. Bruno, Henrique; Heilbron, Monica; de Morisson Valeriano, Claudio; Strachan, Rob; Fowler, Mike; Bersan, Samuel; Moreira, Hugo; Motta, Rafael; Almeida, Julio (1 de abril de 2021). «Evidence for a complex accretionary history preceding the amalgamation of Columbia: The Rhyacian Minas-Bahia Orogen, southern São Francisco Paleocontinent, Brazil». Gondwana Research: 149–171. ISSN 1342-937X. doi:10.1016/j.gr.2020.12.019. Consultado em 27 de maio de 2024 
  2. Meira, Michel Macedo (12 de setembro de 2023). «Evidências da acreação crustal riaciana em sequências metavulcanossedimentares do setor noroeste do orógeno do Oeste da Bahia, Brasil: contribuições ao estudo do supercontinente Columbia». Consultado em 28 de maio de 2024 
  3. Rossignol, Camille; Lana, Cristiano; Alkmim, Fernando (1 de agosto de 2020). «Geodynamic evolution of the Minas Basin, southern São Francisco Craton (Brazil), during the early Paleoproterozoic: Climate or tectonic?». Journal of South American Earth Sciences. 102628 páginas. ISSN 0895-9811. doi:10.1016/j.jsames.2020.102628. Consultado em 28 de maio de 2024 
  4. Araujo, L. E. a. B.; Heilbron, Monica; Teixeira, Wilson; Dussin, I. A.; Valeriano, Claudio de Morisson; Bruno, H. (2021). «Complexo Juiz de Fora: evolução crustal no contexto da orogenia Minas-Bahia». Anais. 463 páginas. Consultado em 28 de maio de 2024 
  5. Neto, A.V.C.; Almeida, A.M.; Neto, V.C.; Guerrero, J.C. (27 de março de 2013). «Alteração Hidrotermal em Zona de Cisalhamento Associada ao Lineamento Congonhas, Sul do Quadrilátero Ferrífero, Minas Geraisl». Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ (1): 55–64. doi:10.11137/2012_2_55_64. Consultado em 27 de maio de 2024 
  6. Cawood, Peter A.; Strachan, Robin A.; Pisarevsky, Sergei A.; Gladkochub, Dmitry P.; Murphy, J. Brendan (setembro de 2016). «Linking collisional and accretionary orogens during Rodinia assembly and breakup: Implications for models of supercontinent cycles». Earth and Planetary Science Letters (em inglês): 118–126. doi:10.1016/j.epsl.2016.05.049. Consultado em 28 de maio de 2024 
  7. Xia, Yan; Xu, Xisheng (28 de fevereiro de 2019). «A Fragment of Columbia Supercontinent: Insight for Cathaysia Block Basement From Tectono‐Magmatic Evolution and Mantle Heterogeneity». Geophysical Research Letters (em inglês) (4): 2012–2024. ISSN 0094-8276. doi:10.1029/2018GL081882. Consultado em 28 de maio de 2024