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Motricidade Humana - Motricidade Vital

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Definição

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Entre diversos conceitos e definições de motricidade, a Motricidade Humana aqui definida, é resultante de estudos na perspectiva sócio histórica com a abordagem multidisciplinar, porque reúne o conhecimento filosófico e científico em diversas áreas do conhecimento. “A Motricidade configura-se como processo, cuja constituição envolve a construção do movimento intencional a partir do reflexo, da reação mediada por representações a partir da reação imediata, das ações planejadas a partir das simples respostas a estímulos externos, da criação de novas formas de interação a partir da reprodução de padrões aprendidos, da ação contextualizada na história - portanto, relacionada ao passado vivido e ao futuro projetado - a partir da ação limitada às contingências presentes. Esse processo ocorre, de forma dialética, nos planos filogenético e ontogenético, expressando e compondo a totalidade das múltiplas e complexas determinações da contínua construção do homem” (Kolyniak Filho, 2003, p. 144). A Motricidade Humana (MH) contém e está contida pela corporeidade que por sua vez de manifesta por uma motricidade. Motricidade e Corporeidade são fenômenos humanos e só podem ser diferenciados conceitualmente, não há possibilidade concreta da existência de manifestações motríceas (motricidade) sem o corpo (corporeidade), e nem corpo (corporeidade) que não implique em manifestações motríceas (motricidade), pois, a constituição da corporeidade é indissociável da mobilidade humana em ambiente social humano. Assim, se pode compreender melhor a Motricidade e a Corporeidade quando consideradas na relação dialética, gerando-se e determinando-se reciprocamente (Kolyniak Filho, 2003). A motricidade é uma relação ontosemántica, pois, o sistema de possibilidades do corpo é portador potencial de sentido e significação. A Motricidade se desdobra em múltiplas linguagens e sentidos. A Motricidade é a manifestação intensa do ser carregado de sentido (Fernández Manero; Pazos Couto; Trigo Aza, 2017a). A definição que está em estudo pela comunidade internacional propondo o termo ““Motricidade Vital”” que perceba essa complexidade e nos permita caminhar no ser mais da VIDA sem ficar ““preso”” em uma determinada área do conhecimento. Em 2017, Sérgio Santos, em consequência e contínuo desenvolvimento de sua tese doutoral, conceitua a Motricidade como dinâmica existencial que viabiliza e vislumbra a plenitude de realização co-implicada. A Motricidade dá acesso a uma atmosfera autêntica de vida plena, onde imperam: o lúdico, a alegria, o encantamento, a afeição e a criatividade. O modo fecundo de realização dos valores, só apropriados se vividos em uma corporeidade dinâmica. A motricidade é a base para a determinação da essência do homem. É por ela que o homem se materializa e revela, no âmbito de um processo onde o desejo de transcendência desempenha um papel primordial de mediação.

Epistemologia da Motricidade Humana

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Husserl (1858-1938) desenvolve o conceito de "filosofia da fenomenologia", que basicamente coloca que o sujeito e o mundo são a mesma situação, ou seja, influenciam uns aos outros, portanto, não é apenas o sujeito que constrói a realidade, mas, que a realidade já é, e também constrói o sujeito. Parte do conceito de “epojé” (ou “epokhé”), consistia, para os antigos, da atitude mental daqueles que colocavam suas próprias experiências entre parênteses com a suspensão do julgamento. Intencionalidade (experiências intencionais).


“Dasein's my-being-in-the-world”. A Corporeidade vem de Dasein (Heidegger) está sendo-no-mundo. Fenômeno unitário, um dado primário, que requer ser visto como um todo e não dividido em partes que então se juntam. Foi traduzido em espanhol como "corporeidad".

O fenômeno primário da existência humana é o “Dasein”, estar no mundo.... Não há nenhum ser que não esteja no mundo, nem um mundo que não seja um mundo para um ser. Ambos são constituídos em simultâneo e por referência ao outro.


Merleau-Ponty (1908-1961) desenvolve na fenomenologia, dada a sua realidade corpórea, ou seja, evolui para a ideia de ““ser corpo””, e isso ocorre na motricidade do ser humano como a configuração onde todas as dimensões do ser humano operam.  Ressalta-se que este autor é o primeiro a propor o estudo e desenvolve o conceito de habilidades motoras. O movimento concreto é, portanto, centrípeto, enquanto o movimento abstrato é centrífugo; o primeiro ocorre no ser ou no presente, o segundo no possível ou no não-ser, o primeiro adere a um dado fundo, o segundo desenvolve seu próprio fundo.


Zubiri (1898-1983) anuncia o conceito de ““eu sou corpo”” que é superado pelo de "corporeidade". A expressão é a consequência da corporeidade. Expressão não no sentido da ““expressão que você tem””, mas no sentido do expresso de cada pessoa: é a pessoa expressa. Homem como sendo "psicoorgânico" como "inteligência sentiente". O homem sente as modificações tônicas de outra forma: ele "se sente" afetado em sua realidade e na forma como ele é na realidade. A inteligência humana é um ato de sensibilidade inteligente ou intelecto sentiente, inteligência como um corpo doente é consciente, não existem, portanto, duas faculdades, uma inteligência e uma sensibilidade, mas uma única faculdade de Inteligência Sentiente


Laín Entralgo (1908-2001) fala de ““meu corpo eu””  e das propriedades sistemáticas da vida animal, e admite como Zubiri que o ser vivo é a realidade cujo modo de ser real é dar a si mesmo sua própria mesmice, e acrescenta sobre a possibilidade de transmitir essa forma de ser real para uma nova espécie, usa o termo para o movimento vital como auto posição; viver consiste genericamente de possuir-se.


Francisco Varela (1946-2001) anunciou o conceito de “Enaction” - cognição corporalizada, em português enação em Mente encarnada ou Incorporada. Varela promove e estabelece novos diálogos entre neolinguística, fenômenos recursivos, lógicas consistentes e teorias do caos com as antigas tradições do Oriente, como o budismo, que explora a mente através de suas técnicas de meditação e introspecção; práticas que hoje experimentam uma grande disseminação no Ocidente, particularmente através do budismo e zen que levam a alma a novos estados mentais de iluminação, perplexidade e criatividade. A palavra Enação vem do termo inglês "to enact" que em português se traduz como o antônimo de inação, mas, ““emergir”” e refere-se à concordância entre percepção, processos cognitivos e agente.

Manuel Sergio (1933-Presente) apresenta a intencionalidade operante. E a Praxis Criativa. Manuel Sérgio, com sua formação filosófica e conjuntural trabalhando em um centro de formação de Professores de Educação Física, ele começa a perguntar e ter o conceito de Educação Física, buscando respostas para seu verdadeiro objeto de estudo, significado e objetivos. Provar que a educação física não tem uma proposta teórica sólida e rigorosa e funciona sob uma perspectiva eminentemente prática, onde o desempenho do corpo é trabalhado do ponto de vista físico. Paralelo a isso, o esporte foi cada vez mais despersonalizando e desumanizando no contexto de uma sociedade de livre mercado altamente eficiente e produtivista.

Produção

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Em 1999, a equipe kon-traste (Espanha) diferencia (Trigo, 1999): corpo-corporeidade-movimento-motricidade / motriz/motor-motrício/a. O termo motrício foi cunhado para se referir ao adjetivo da Motricidade Humana, e mais tarde foi assumido pela comunidade. E a Motricidade Humana é definida como expressão-impressão de corporeidade. Pensar-querer-fazer-comunicar.


No glossário trabalhado pela Rede Internacional de Investigadores em Motricidade Humana (RIIMH) e proposto por (Kolyniak, 2005), a Motricidade Humana são definidas como uma forma concreta de relação do ser humano com o mundo e com seus semelhantes, uma relação caracterizada pela intencionalidade e significado, resultado de um processo evolutivo cuja especificidade é encontrada nos processos semióticos da consciência, que, por sua vez, falam das relações recíprocas entre natureza e cultura – por ambos, entre heranças biológicas e socio históricas. A Motricidade Humana refere-se, portanto, a sensações conscientes do ser humano em movimento intencional e significativo no alvo e representadas espaço-tempo, implicando percepção, memória, projeção, afetividade, emoção, raciocínio. É evidente em diferentes formas de expressão – gesto, verbal, cênico, plástico. A Motricidade Humana é configurada como um processo que ocorre, dialeticamente, nos planos filogenéticos e ontogenéticos, expressando e compondo todas as múltiplas e complexas determinações da construção contínua do homem.


Os avanços desenvolvidos pela RIIMH concebem a motricidade: ““o ser humano em sua complexidade que mobiliza (excita-desejos, percebe, comunica, pensa) do aqui e do agora (imanência) em direção à transcendência e dele de volta ao aqui e agora, em sua relação com o outro- com o cosmos, no conceito atual de Ecologia””.

Esta segunda fase, constrói conhecimentos e avalia os ensinamentos de Manuel Sérgio, argumentando que a MH é uma matriz científica e não uma ciência, e que a Educação Física tem uma relação com ela da mesma forma que o Esporte, a Engenharia, o Direito e todas as outras áreas do conhecimento e campos de aplicação. Trigo, (2016) em seus estudos com ciência encarnada, define a Motricidade Humana como ““a energia que nos leva a viver, a caminhar no ser mais, a perceber-nos, a conscientizar-nos de quem somos, onde estamos e para onde estamos indo (eu-outro-cosmos)””. E mais tarde, ao se aprofundar no estudo dos conceitos de ““ação”” e ““enação””, explica que esses três conceitos (Motricidade- Ação- Enação) de diferentes campos do conhecimento, passam a significar coisas semelhantes. É por isso,  ela avança com esta definição de "percepção do nosso ser-corpóreo (ser-no-mundo) em que, da incompletude, estamos inquietos de viver e caminhar no ser mais (transcendência), nos compromete autoecopoiéticamente (co envolvidos cooperativamente com o outro e o cosmos), de todas as nossas qualidades, línguas, culturas e habilidades que são nossas próprias como seres humanos, para a co criação de uma humanização / comunidades / sociedades / mundos que permitem a vida de todos os seres presentes e futuros.

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