Usuário(a):Paula Tavares.TeoriaDaHistória/Testes

A Casa da Sabedoria

Abu Jafar Al-Mansur, que em árabe significa “o vitorioso”, foi o 2º Califa da Dinastia Abássida, construiu de 762 a 765 a Cidade Redonda, chamada Madinat al-Salam (“Cidade da Paz”), mas que manteve o nome do antigo povoamento persa: Bagdá. Foi este o responsável por cultivar a ciência e a expandir o conhecimento da filosofia e ciências exatas, além de coordenar traduções de línguas estrangeiras para o árabe, de obras clássicas como eruditos hindus, persas e gregos.

    Bagdá se tornou muito próspera pela localização, próxima de rotas comerciais, com uma cultura multiétnica, e com intercâmbio científico e intelectual vasto. Rapidamente cresceu econômica e militarmente. Al-Mansur quis transformar seu império numa potência científica e garantir o futuro dos abássidas, atrelando-o às grandes tradições e sabedorias clássicas anteriores, principalmente de persas e gregos. O califa buscou também outras fontes de conhecimento, convocando delegações de eruditos indianos que levaram à Bagdá textos científicos hindus, elevando o conhecimento a respeito de astronomia e matemática.

    Baseado nas bibliotecas dos grandes príncipes persas, e com o objetivo de criar um espaço amplo para traduzir obras hindus, gregas e persas, copiar, estudar e guardar o número cada vez maior de textos e livros persas, sânscritos, gregos, Al-Mansur criou uma biblioteca real, conhecida em árabe como Bayt al-Hikma ou então a Casa da Sabedoria, que servia deespaço de trabalho, suporte administrativo e auxílio financeiro para os eruditos de todo o Império que assumiriam essas tarefas. De acordo com Lyons, (2011)“a Casa da Sabedoria também desempenhou um papel importante no cultivo de obras literárias de origem abássida. Uma grande quantidade de fundos públicos foi dedicada à Casa da Sabedoria e a projetos de enriquecimento cultural e intelectual a ela relacionados.” (p. 88)

    Uma das primeiras realizações da Casa da Sabedoria, segundo Lyons, foi a tradução de uma obra inspirada em Aristóteles sobre o uso da dialética. Ao longo da Dinastia Abássida, foram traduzidos todos os textos gregos disponíveis de ciência e filosofia, e o árabe foi substituindo o grego como língua universal. Além disso a educação passava a ser mais organizada e a maioria das cidades possuía uma universidade.  Os tradutores recebiam enormes quantias de dinheiro, ou alcançavam altos cargos por suas realizações intelectuais. Assim, todo o avanço intelectual resultou em séculos de pesquisas, em matemática, filosofia, política, astronomia, astrologia, medicina, química, ciências físicas e metafísica.

    Al-Mamun, foi o sétimo califa Abássida, que reinou de 813 a 833, e foi a “força propulsora por trás de algumas das grandes realizações da erudição árabe medieval.” (LYONS, p.93) Al-Mamun tinha um grande interesse pela astrologia – que entre os árabes andava de mãos dadas com as outras ciências -, curiosidade pelo mundo natural e uma predileção pela pesquisa e pelo método científico. Ele se interessava também pelo trabalho dos eruditos da Casa da Sabedoria, motivo pelo qual fomentava ainda mais o desenvolvimento dos estudos de matemática e astronomia. Um dos estímulos da atividade científica no reinado de Al-Mamun foi a tradução da obra de astronomia grega de Ptolomeu, considerado pelos estudiosos árabes como livro mais importante depois do Alcorão, conhecida como Almagesto, que abrange a teoria sobre o movimento das estrelas fixas, do Sol, da Lua e dos cinco planetas visíveis, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

    Um importante pesquisador que fez parte da Casa da Sabedoria ligado à Al-Mamun, foi o matemático e astrônomo Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, nascido em meados de 783, e grande desenvolvedor da astronomia, aritmética e álgebra. Produziu tabelas estelares conhecidas como zij al-Sindhind, que possibilitavam estabelecer a hora do dia e da noite com base em observações estelares ou solares - o que era útil para estabelecer as preces diárias do islamismo e determinar a possibilidade da lua crescente, que marca o início do mês lunar muçulmano -; fez o trabalho sobre o astrolábio; escreveu um tratado chamado O Livro da adição e da subtração de acordo com o cálculo hindu, que posteriormente levaria à descoberta das frações decimais, que seriam usadas para achar a raiz dos números e calcular o valor de pi. Foram grandes influências nesse período também o filósofo Al-Kindi e o geógrafo Al-Masudi.


Bibliografia:

BÍSSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. 1. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. Recurso digital.

GOLDFARB, Ana Maria Afonso. Atanores, cimitarras, minaretes: cultura árabe como tecido do saber sob o céu “medieval”. Revista da SBHC, V.5, p. 33-40, 1991.

LYONS, Jonathan. A Casa da Sabedoria: como a valorização do conhecimento pelos árabes transformou a civilização ocidental. Trad. Pedro Maia Soares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 2011.

PRENDA, Dandara Arsi. A Casa da Sabedoria: instituição de valorização dos saberes no Oriente Medieval. XVI Encontro Regional de História. ANPUH – RIO, 2014.