Usuário(a):Raquel B. Santos/Testes

Diferentes Gramáticas Brasileiras

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“Gramática é uma palavra de origem grega formada a partir de grámma, que quer dizer letra. Originalmente, gramática era o nome das técnicas de escrita e leitura. Posteriormente, passou a designar o conjunto das regras que garantem o uso modelar da língua a chamada gramática normativa, que estabelece padrões de certo e errado para as formas do idioma. Gramática também é, atualmente, a descrição científica do funcionamento de uma língua. Nesse caso, é chamada de Gramática descritiva.” [1]

Quem Escreve as Gramáticas?

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Por mais óbvio de pareça, as gramáticas são escritas por gramáticos e linguistas, eles estudam a língua, não somente descrevendo-as, mas também analisando a estrutura das palavras.

Os diversos enfoques da gramática (normativa, histórica, comparativa, funcional e descritiva) estudam a morfologia e a sintaxe que tratam, somente, dos aspectos estruturais, constituindo, assim, uma parte da linguística que se distingue da fonologia e da semântica (que seriam estudos independentes), conquanto estas duas possam compreender-se, também, dentro do escopo amplo da gramática.

Dentre os diversos tipos de gramáticas, a chamada gramática normativa é a mais conhecida pela população, e é estudada durante o período escolar. É elaborada, em geral, pelas Academias de Letras de cada país, nem sempre em conformidade com o uso corrente da população, mesmo em amostragens da porção tida por "mais culta".

A gramática normativa, ou tradicional, foi introduzida pelos filósofos gregos e, posteriormente, aderida pelos romanos com o objetivo de alcançar uma língua “pura” e perfeita, em outros termos, queriam eliminar a língua vulgar.

Dionísio, o Trácio, gramático grego, escreveu a "Arte da Gramática", obra que serviu de base para as gramáticas grega, latina e de outras línguas europeias até o Renascimento.

Por conseguinte, muitas outras gramáticas surgiram e é comum o uso delas no magistério para ensinar os estudantes usarem, de forma “correta”, (expressão usada por muitos pedagogos e falantes da língua) o português.

Gramáticas tradicionais

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Dentre as gramáticas tradicionais brasileiras atuais, ou chamadas gramáticas normativas, três são as de maior destaque: a Moderna gramática portuguesa, de Evanildo Bechara, publicada em 1999, como 37ª edição da gramática do mesmo nome, publicada na década de 1961, a Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lyndley Cintra, publicada em 1985 e publicada posteriormente, em 1998, a Gramática da Língua Portuguesa, de Pasquale Cipro Neto e Infante Ulisses.

Pode-se notar as diferenças das gramáticas supracitadas a partir do próprio sumário das obras, cada gramática com suas peculiaridades e características próprias:

aborda a fonêmica, a estilística (análise literária) e estruturação dos vocábulos, prefere o clássico, não só por preferência a esse modelo, mas por causa da doutrina. “Não se rompe de vez com uma tradição secular: isto explica porque esta Moderna Gramática traz uma disposição da matéria mais ou menos conforme o modelo clássico. A nossa preocupação não residiu aí, mas na doutrina” [2]. E que doutrina é essa? “É uma doutrina composta por dogmas a serem aceitos como verdades incontestáveis e não de leis empiricamente testáveis, sujeitas a comprovação ou a refutação.” [3]. Ao mesmo tempo, a obra de Bechara têm características descritivista, ele tenta incorporar àquilo que a linguística já desmitificou em relação à teoria tradicional, mas mantém o que ainda não foi desmistificado, além da preocupação de inclusão de outras línguas: “Estivemos também atentos à produção de textos gramaticais destinados a outras línguas, especialmente às românicas, e aí vale ressaltar o contributo dos espanhóis, dos franceses e dos italianos.” [4]

Cunha e Cintra redigem uma gramática com características normativas e ao mesmo tempo descritivista, é tradicional, mas se adapta no âmbito da linguística contrastiva, podemos notar isso claramente no segundo parágrafo do prefácio:

“Parecia-nos faltar uma descrição do português contemporâneo que levasse em conta, simultaneamente, as diversas normas vigentes dentro do seu vasto domínio geográfico (principalmente as admitidas como padrão em Portugal e no Brasil) e servisse, assim, fosse de fonte de informação, tanto quanto possível completa e atualizada, sobre elas, fosse guia orientador de uma expressão oral e, sobretudo, escrita que, para o presente momento da evolução da língua, se pudesse considerar ‘correta’, de acordo com o conceito de ‘correção’(...).” [5]

Aparentemente, os autores tentam inovar, ao mesmo tempo em que a redigem “carregando” traços fundamentais do modelo clássico; os autores fazem uma tentativa de descrição do português contemporâneo na sua forma culta. e contrastar o português europeu e o brasileiro, já que o africano aparece apenas marginalmente.

Afere-se, portanto, que a Nova Gramática do Português Contemporâneo é uma gramática normativa, que pretende definir o que é correto, ou adequado à norma, para o nosso idioma na sua globalidade, procurando, no entanto, registar algumas diferenças entre a norma brasileira e a portuguesa.

A Gramática da Língua Portuguesa redigida por Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante tem uma apresentação sucinta e com características normativas:

“A Gramática é instrumento fundamental para o domínio do padrão culto da língua. A Gramática, e não as gramatiquices. A Gramática que mostra o lado lógico, inteligente, racional dos processos linguísticos. A Gramática que esmiúça a estrutura da frase, do texto. A Gramática que mostra o porquê.” [6]

Gramática Descritivista

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Sociolinguista e estruturalista, em sua gramática, não segue o modelo clássico, apesar do aspecto pedagógico presente em sua obra que ensina as regras existentes na língua. A obra de Bagno tem por característica o descritivismo, ou seja, ele busca documentar a língua tal qual ela se manifesta, sem impor a ideia de correto e errado. É uma gramática com preocupação descritiva de cunho histórico, ainda que nem a descrição nem a abordagem das mudanças obedeçam estritamente a uma corrente teórica específica.

Mais do que meramente as regras ditadas da língua portuguesa, Bagno nos apresenta a importância da variedade tanto social, como regional. Aborda sobre a norma culta e norma-padrão e até discorre sobre o modo de ensinar a gramática, visando, declaradamente, à formação (inicial ou continuada) do professor.

“É justamente para chegarem a um conceito mais preciso de ‘correção’ em cada idioma que os linguistas atuais vêm tentando estabelecer métodos que possibilitem a descrição minuciosa de suas variedades cultas, seja na forma falada, seja na escrita. Sem investigações pacientes, sem métodos descritivos aperfeiçoados nunca alcançaremos determinar o que, no domínio da nossa língua ou de uma área dela, é de emprego obrigatório, o que é facultativo, o que é tolerável, o que é grosseiro, o que é inadmissível; ou em termos radicais, o que é o que não é correto.” [7]

  1. NETO, Pasquale Cipro, INFANTE, Ulisses: Gramática da língua portuguesa; São Paulo: Editora Scipione, 1998.
  2. BECHARA, Evanildo; Gramática escolar da língua portuguesa; 2.Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p.11.
  3. Bagno, Marcos; Dramática da língua portuguesa tradição gramatical, mídia & exclusão social; 3.Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000. p. 22.
  4. Bechara, Evanildo; Gramática escolar da língua portuguesa; 2.Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p.10.
  5. CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley; Nova Gramática do Português Contemporâneo; Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
  6. NETO, Pasquale Cipro; INFANTE, Ulisses: Gramática da língua portuguesa; São Paulo: Editora Scipione, 1998.
  7. Cunha, Celso; Cintra, Luis F. Lindley; Nova Gramática do Português Contemporâneo; Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p.8.