Usuário:Lauro Chieza de Carvalho/Carta aas tias Leia Livinha
Belo Horizonte, 17 de maio de 2020.
Às tias Leia e Livinha; de seu sobrinho Lauro Chieza.
Oi tia Livinha. Bom texto sobre Mecânica Quântica e sobre pseudociência aquele que me enviou na rede social (Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo 17 de maio de 2020 | 03h00).
Discordo dele, com a experiência que tenho hoje (e aqui declaro explicitamente, não estritamente atada aos postulados científicos dessa Mecânica), no ponto em que há sim uma situação, "nebulosa" ainda os olhos tanto da Física (Ciência) quanto da Metafísica (para não dizer Religião), concernente ao assunto.
"Ou entregue-se a Deus, ou a Schrödinger" é – aqui pedindo vênia a Hawking e permitindo-me a troca de cientistas dado o contexto – em cenário geral, que se enxerga não apenas com a experiências na área mas também com a fora dela, para mim hoje, muito “reducionista” ao contexto. De fato o feito pelo autor é tecnicamente chamado “redução da função de onda”; em se tratando da situação em debate, ato talvez bem expresso na máxima de Alberto Ricardo Präss: "Fé e razão são como a dualidade onda partícula: pode-se ter as duas coisas, mas nunca ao mesmo tempo.". Peço vênia ao autor aqui, visto saber que, à luz da Mecânica Quântica conforme estabelecida, é o tecnicamente correto a se fazer; e que não incorreu ele em erro algum, não pelos cânones científicos atuais!
Ocorre que a Mecânica Quântica prevê um estado físico chamado estado emaranhado; que aos olhos nus seria um tanto quanto exótico: dois entes distintos e autônomos, não relacionados causalmente; mas que, após algum processo físico particular, veem-se emaranhados de tal forma que se perdem as suas individualidades, o conjunto necessariamente configurando uma única entidade (embora ainda se façam necessárias referências às propriedades de cada parte em sua descrição). O que existe agora é um sistema em um estado tecnicamente nomeado “emaranhado quântico”. Este estado existe (meta)fisicamente - não há cientista da área que discordará - mas todos o dirão que, abundante em escala atômica, é raro em escala macroscópica. De fato, a parte os diretamente envolvidos com o estudo destes casos, poucos saberão citar um deles sequer. Deixo aqui a superfluidez do hélio líquido como exemplo, a título de ilustração.
O ponto de discórdia com o autor encontra-se expresso de forma clara, pois, assim: é fácil fazer-se a redução aos estados de ou fé ou razão; mas o que se sabe de fato do estado emaranhado subjacente do qual se reduz um ou outro desses?
A questão de exoticidade do estado emaranhado é trazida à luz aos leigos pela famosa experiência mental do “Gato de Schrödinger. Um gato que, preso em uma caixa fechada com um liberador de veneno sensível a um decaimento radioativo, vê sua vida ou morte conectada a um estado microscópico que define a emissão ou não de radiação por um isótopo radioativo. Embora buscasse Schrödinger exemplificar o quão estranho seria um estado emaranhado se perceptível em escala macroscópica, acessível aos olhos nus; fato é que ele esquivou-se veementemente a um fato muito importante: centrou-se na lupa que o gato representava ao que se passa no mundo atômico, mas esqueceu-se do gato em si; falou de um gato vivomorto, estado bem distinto de vivo, ou morto, mas não esgueirou-se pelos questionamentos do que significa efetivamente estar vivo ou estar morto.
O monismo é a vertente seguida hoje pela Ciência sobre o assunto. Estar vivo ou estar morto remete-se cientificamente (à luz atual) a estados particulares de configuração de um emaranhado material, apenas.
A questão é que, na metafísica, ou melhor, no âmbito do pensamento religioso propriamente dito, tem-se, à luz dos que conhecem as evidências, que “vida” se define não por um paradigma monista mas sim dualista, explicitamente aqui: corpo e espírito. À luz do dualismo há algo que sobrevive à desorganização material observada após o que se denomina, aos olhos de quem observa, morte.
Em particular, no tocante ao reino animal e ao ser humano, o ponto central ignorado na experiência de Schrödinger, e sobre o qual a Ciência ocidental hoje praticamente nada tem a dizer é: consciência. O que é ou o que gera consciência? O que seria um “Gato de Schrödinger” em perspectiva dualista?
Foi respondendo a esta pergunta que eu, pela primeira vez na minha vida (e duro dizer, ao estilo de São Tomé, ver para crer), consegui compreender muito da forma de pensar religiosa, a qual fui relutantemente averso por não se enquadrar aos moldes de minha formação científica e por conseguinte da razão, e sim da fé; obviamente já posta aqui a redução exigida pelo rigor técnico, frente aos cânones necessária e correta, conforme já dito. Posto o reducionismo não é raro aos cientistas da área natural se posicionarem como ateus! É de fato, frequente, e digo muito lógico posta a redução a uma das formas de pensar.
Construir um emaranhamento de fótons em laboratório é fácil, bastando gerá-los geminantes a partir de um fóton de energia maior em sua passagem adequada por um cristal apropriado. Mas, como se produz um Gato de Schrödinger de fato, algo com existência, transcendente à metáfora que lhe deu origem?
É assim vejo as coisas hoje: olhe para Jesus crucificado e encontrará a resposta.
“Jesus é um gato de Schrödinger que a Ciência não compreendeu”.
E, em fim, por evidências que presenciamos, eu e familiares, pela primeira vez pude então compreender isso:
“ E disse Deus: FaçaMOS o homem à NOSSA imagem, conforme a NOSSA semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; HOMEM E MULHER os criou. ”.
Jesus é, até onde sei, um médium completo, talvez o ser mais perfeito que há. E sua paixão, não satisfatoriamente explicável por todos os religiosos com os quais já me deparei à luz da razão, entendo eu hoje, como um casamento.
O que buscaria um Pai ao fazer tal coisa com um Filho? Nunca compreendera isso antes, e Richard Dawkins está a se perguntar isso até hoje! Correto, posta a redução à razão.
Se querem saber o que um médium completo permite fazer aos que o cercam, voltem-se aos casos narrados na Bíblia, de Moisés e as pragas do Egito à ressurreição de Lázaro. Tem-se um portal ativo entre os mundos (material e espiritual), que permite o controlo dos que encarnados estejam; e provavelmente muito mais que ainda não compreendo, indo-se aqui na direção da definição do que caracteriza um “deus”.
Mas, há outros? Médiuns (semi)completos: identifique-os buscando aqueles que, ao longo da História, mudaram o curso da humanidade. Pessoas que, sozinhas, definem o estilo de vida e o destino de sociedades inteiras, da cultura à guerra. Na história recente há alguns!
Um dia Ciência e Religião não serão mais entendidas em suas formas reduzidas, e sim via o estado emaranhado do qual derivam. Espero viver para ver isso acontecer dentro da Ciência! E que vislumbremos o “Assim na Terra como no Céu!”, os dois mundos em um!
Um abraço a todos ai!
Lauro Chieza de Carvalho.