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Manuel Ferreira, jornalista e escritor português, nasceu em Ponta Delgada, na Ilha de São Miguel, Açores, a 29 de Janeiro de 1916 (não confundir com o escritor português homónimo ligado à literatura de Cabo Verde. Além de jornalista, destacou-se também como ficcionista, biógrafo e historiador. Personagem importante da vida cultural dos Açores, é pouco conhecido fora daquele arquipélago.

O seu interesse pelo jornalismo e pela literatura manifesta-se muito cedo, quando ainda frequentava o Liceu Antero de Quental (atualmente Escola Secundária Antero de Quental), em Ponta Delgada. No ano letivo de 1935-1936, foi um dos fundadores e chefe de redação da publicação académica Arco-Íris.

Após concluir o Curso Geral dos Liceus, Manuel Ferreira começou a trabalhar como funcionário dos Serviços Municipalizados de Abastecimento de Água da Câmara Municipal de Ponta Delgada, chegando a chefe daqueles serviços. Trabalhou lá durante 46 anos.

Porém, apesar do seu trabalho como funcionário público, o seu interesse pelo jornalismo levou-o a trabalhar simultaneamente, a tempo parcial, como jornalista. Em 1937, com apenas 21 anos, começou a sua carreira jornalística como redator do Correio dos Açores. Após três anos, já era chefe de redação daquele jornal. Trabalhou lá durante sete anos, inclusive durante o período agitado da Segunda Guerra Mundial, quando chegou a haver 21 mil soldados do Continente destacados na sua ilha. Vigorava então a censura absoluta.

Após esse primeiro período, saiu do jornal e dedicou-se à agricultura. Durante mais de quarenta anos orientou uma exploração agropecuária, ao mesmo tempo que continuava a ser funcionário.

Anos mais tarde voltou novamente ao jornalismo, tendo passado primeiro três anos pelo Açoriano Oriental, como chefe de redação. Depois, de 1964 até 1975, esteve também na chefia do Correio dos Açores.

Quase toda a sua atividade jornalística decorreu durante o regime ditatorial instituído por António de Oliveira Salazar e prosseguido por Marcelo Caetano, que só terminou com a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, pouco antes de Manuel Ferreira cessar as suas funções de jornalista. Durante a ditadura, o que escrevia nos jornais incomodava as autoridades e isso causou-lhe dificuldades. Apesar disso, manteve sempre o seu espírito de independência. Ainda nos anos 40 do Século XX envolveu-se em campanhas jornalísticas contra as barreiras aduaneiras que existiam então entre as diversas ilhas dos Açores. Na década que antecedeu o 25 de Abril foi o principal impulsionador do terceiro movimento autonomista açoriano.

A partir da segunda metade dos anos 70, quando deixou de ser funcionário e jornalista profissional, dedicou-se inteiramente à escrita e à investigação.

O conto O Barco e o Sonho, publicado em 1979 pela editora Publiçor, com sucessivas reedições, constitui a sua primeira obra de ficcionista. O realizador José Medeiros, da RTP-Açores, adaptou a obra para uma série televisiva com o mesmo título. [nota 1]

Essa narrativa de Manuel Ferreira baseava-se na aventura de dois açorianos, Victor Manuel Caetano e Evaristo Silva, relatada nos jornais açorianos dos anos 50, que conseguiram atravessar o Atlântico Norte, num pequeno barco por eles próprios construído, rumo aos Estados Unidos, destino sonhado pelos emigrantes açorianos.

Após essa primeira obra, Manuel Ferreira revelou-se um escritor profícuo: entre 1979 e 2006, publicou mais de trinta obras literárias, biográficas e de historiografia.[nota 2] [1] Escolheu como ex-líbris de escritor a divisa: "Alto como as estrelas e livre como o vento".

Numa entrevista que concedeu nos anos 80 ao jornal português Diário de Notícias, Manuel Ferreira afirmava que havia um fosso entre o Continente e os Açores. Noutra entrevista ao mesmo jornal, conduzida por Marina Almeida, em 2 de julho de 2006, que lhe perguntava se ainda tinha essa opinião, Manuel Ferreira respondeu o seguinte:

"Passados [tantos] anos, mantém-se infelizmente o fosso político. Há uma certa incompreensão do poder central, um fosso literário, visto que há quase um desconhecimento absoluto das atividades literárias açorianas, que em qualquer parte do mundo são brilhantes. Quero dizer-lhe que no fim do século XIX havia 400 títulos de jornais em Ponta Delgada. Tanto jornal por metro quadrado não é possível encontrar em nenhuma zona do país."

Nessa mesma entrevista, dizia ainda que não gostava de ser subjugado, nem de se submeter a partidos políticos, a pressões sociais ou económicas. Referindo-se ao jornalismo em Portugal após a restauração da democracia, afirmou que se fazia um jornalismo demasiado partidário, ao qual faltava espírito crítico.


Obras editar

Notas editar

  1. Em 2009, a editora Discos com Sono publicou na Internet uma compilação de canções da autoria de José Medeiros e Luís Bettencourt, intitulada O Barco e o Sonho [1] (página visitada em 18-02-2012)
  2. É de assinalar que as capas de todos os livros de Manuel Ferreira são da autoria do pintor Tomás Borba Vieira.

Referências editar

  1. O barco, o sonho, a forma, o espaço e o tempo. [2] (página visitada em 18-02-2012)