Vírus da esgana canina

O vírus da esgana canina (CDV, do inglês Canine Distemper Virus), também conhecido como vírus da cinomose canina, é um vírus com invólucro de ARN de cadeia simples e polaridade negativa pertencente ao género Morbillivirus, à família Paramyxoviridae e à ordem Mononegavirales. Apesar do vírus ser primariamente conhecido pela doença que causa em cães, a esgana ou cinomose, o vírus infecta uma variedade de hospedeiros incluindo lobos, guaxinins, hienas, leões, furões, focas e macacos. [1] O vírus da esgana canina tem elevada importância veterinária e ambiental.

Patologia editar

O vírus da esgana canina provoca uma doença do mesmo nome caracterizada por uma infecção sistémica, com especial incidência no sistema gastrointestinal, sistema respiratório e sistema nervoso.[2] Após exposição, o vírus infecta inicialmente os nódulos linfáticos bronquiais e as amígdalas seguido por um estado de virémia que leva a um reduzido número de linfócitos circulantes e plaquetas. Febre, inflamação ocular anorexia são sintomas comuns desta fase. Doze dias após contacto inicial com o vírus, sintomas gastrointestinais, como diarreia, vómito e perda de apetite, e sintomas respiratórios, como apneia e tosse, começam a aparecer acompanhados por infecções secundárias de patogénios oportunistas.[3] Complicações do sistema nervoso comuns nesta infeção incluem a inflamação do cérebro e da medula espinal que levam a espasmos musculares e episódios de extensa salivação e movimentos involuntários da mandíbula.[4] Esta convulsões pioram com o desenvolvimento da doença, culminando na morte do animal em 50% dos casos em cães adultos e 80% em filhotes[5].

Epidemiologia editar

A transmissão do vírus da esgana é normalmente feita por via de pequenas gotículas expelidas pelo animal infetado, denominadas de aerossóis, ou por exposição a exsudados respiratórios.

Cerca de 50% dos cães suscetíveis ao vírus da esgana são infetados mas apresentam não apresentam sintomas clínicos. No entanto, em cachorros existe uma maior prevalência do vírus. [6]

Portugal editar

Em Portugal Continental, para além de cães domésticos, o vírus da esgana também infecta animais selvagens, como sugerido pela deteção de anticorpos específicos para o vírus da esgana em lobos e raposas-vermelhas. [7]

Organização molecular editar

O vírus da esgana é bastante semelhante ao vírus do sarampo e é composto por uma única molécula de ARN, linear de cadeia simples e polaridade negativa. Contém cerca de 15.000 nucleótidos codifica oito proteínas: seis proteínas estruturais e duas não-estruturais. As proteínas estruturais são: N ou nucleoproteína; P ou fosfoproteína; M ou proteína da matrix; H ou hemaglutinina; F ou proteina de fusão e L ou ARN-polimerase dependente de ARN. As proteínas C e V (não-estruturais) são traduzidas alternadamente do gene de P. O genoma de ARN encontra-se associado à nucleoproteína, formando uma longa cadeia helicoidal. Por sua vez, esta nucleocápside associa-se às proteínas L e P formando um complexo conhecido como o complexo ribonucleoproteico (RNP). Sendo um vírus com invólucro, o complexo RNP é circundado por um invólucro lipídico o que tem origem na membrana citoplasmática da célula hospedeira. Nesta membrana, encontram-se duas proteínas virais H e F. [8][9]

Referências

  1. Bieringer, M; Jung Woo Han; Sabine Kendl; Mojtaba Khosravi; Philippe Plattet; Jürgen Schneider-Schaulies. «Experimental Adaptation of Wild-Type Canine Distemper Virus (CDV) to the Human Entry Receptor CD150». PLoS ONE. doi:10.1371/journal.pone.0057488 
  2. Beineke, A; Seehusen F; Baumgärtner W. «Pathogenesis and immunopathology of systemic and nervous canine distemper». Veterinary Immunology and Immunopathology. doi:10.1016/j.vetimm.2008.09.023 
  3. Leisewitza, A L; A Carterb, M van Vuurenc, L van Blerkd. «Canine distemper infections, with special reference to South Africa, with a review of the literature». Journal of the South African Veterinary Association. doi:10.4102/jsava.v72i3.635 
  4. Creevy, Kate. «Overview of Canine Distemper». The Merck Veterinary Manual: Veterinary Professionals: Generalized Conditions. Consultado em 21 de outubro de 2015 
  5. «CANINE DISTEMPER». American Canine Association, Inc. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2015 
  6. Puerto, Del; Helen. «Canine distemper virus detection in asymptomatic and non vaccinated dogs». Pesquisa Veterinária Brasileira. 30 (2): 132-138. ISSN 0100-736X. doi:10.1590/S0100-736X2010000200007 
  7. Santos, Nuno; Cláudia (2 de janeiro de 2015). «Serologic Survey for Canine Distemper Virus and Canine Parvovirus in Free-ranging Wild Carnivores from Portugal». Journal of Wildlife Diseases (em inglês). 45 (1): 221-226. doi:10.7589/0090-3558-45.1.221 
  8. Pardo, Ingrid D. R.; Gayle C. (1 de outubro de 2005). «Phylogenetic Characterization of Canine Distemper Viruses Detected in Naturally Infected Dogs in North America». Journal of Clinical Microbiology (em inglês). 43 (10): 5009-5017. ISSN 0095-1137. PMID 16207955. doi:10.1128/JCM.43.10.5009-5017.2005 
  9. Messling, Veronika von; Gert (15 de julho de 2001). «The Hemagglutinin of Canine Distemper Virus Determines Tropism and Cytopathogenicity». Journal of Virology (em inglês). 75 (14): 6418-6427. ISSN 0022-538X. PMID 11413309. doi:10.1128/JVI.75.14.6418-6427.2001