VJ (abreviação de video jockey) é a denominação dada às práticas artísticas relacionadas com a performance visual em tempo real.

Características

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Principais características do VJing são a criação e manipulação de imagens em tempo real, através de meios tecnológicos e para uma audiência, em diálogo com música ou som.[1] A prática do VJing tem lugar em eventos como por exemplo concertos, discotecas, festivais de música e em galerias e museus, muitas vezes em combinação com outras práticas performativas. O resultado da combinação entre as várias práticas artísticas é uma performance em tempo real, que inclui músicos, artistas visuais (VJs), actores, bailarinos, etc.

O termo VJing, embora tenha origem nas discotecas de Nova Iorque nos anos setenta, ficou popular através da sua associação com o Vídeo Jockey da MTV. Nesse caso, os VJs não precisam de qualquer perícia com equipamento audiovisual, sendo admitidos pela popularidade ou beleza.

História

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Antecessores

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Historicamente, o VJing vai buscar referências a expressões artísticas relacionadas com a experiência sinestética entre som e imagem, presente no filme abstracto experimental e na pintura de Kandinsky. A história dos desenvolvimentos tecnológicos relacionados com a captura e difusão de som e imagem são fundamentais para que seja traçada uma raiz de influências. A relação entre o som e a cor é fundamental para a invenção do color organ. O seu inventor, Bainbridge Bishop, concebeu-o como uma forma de representar visualmente a música que ouvia ao adicionar às teclas de um orgão um dispositivo que permitiam criar a correspondência visual aos sons que tocava. Embora existam outros experiências anteriores, o trabalho de Bishop é relevante porque se encontra documentado no livro que o próprio publicou em 1893.."[2] Esta reação tem sido uma constante na história que combina tecnologia e arte. Em 1919 e 1927, a pianista Mary Hallock-Greenewalt, tocava um instrumento feito de pedais e manípulos e que produzia escalas de luz, com várias intensidades de cor, em combinação com a música. Intitulava a sua obra de "Nourathar".[3]

Durante a década de 1960, em eventos musicais, os artistas visuais utilizavam slides, bolas de espelhos e projecções de luzes sobre efeito do fumo, para criar ambientes e novas experiências. Em São Francisco, entre 1965 e 1966 os liquid light shows eram produzidos por colectivos de artistas visuais. Entre os vários grupos, o Joshua Light Show e Brotherhood of Light destacam-se pelos efeitos visuais que acompanharam os concertos dos Grateful Dead. Estes efeitos visuais com luz e cor foram fortemente estimulados pela geração Beat e alimentados pela “expansão da consciência” em volta das experiências com ácidos, próprias da época.

O novo século trouxe também novas dinâmicas às práticas relacionadas com a performance audiovisual. Anteriormente, ser VJ implicava um processo isolado de autoinvenção e como resultado o termo não era muito conhecido. Com o surgimento da Internet, o estabelecimento de ligações entre pares transformou o contexto, através do surgimento de comunidades virtuais. Os inúmeros festivais que começam a surgir por toda a Europa são resultado destas ligações estabelecidas online. Entre os festivais, o VideA (2000 - 2005)[4], em Barcelona; o AVIT construído pela e para a comunidade VJCentral.com, com edições em Leeds (2002), Chicago (2003), [[Brighton[[ (2003), São Francisco (2004) e Birmingam (2005); o 320x240 na Croácia (2003); o Contact Europe em Berlin (2003). De destacar o festival Cimatics, em Bruxelas, com a sua primeira edição, de 2002, completamente dedicada ao VJing. Em 2003, o festival PixelAche foi dedicado ao tópico do VJing. Em 2004 surgiu o LPM - Live Performers Meeting, em Roma, com o objectivo de responder à necessidade de encontro presencial e informal entre toda a diversidade que constitui a performance audiovisual. O festival MUTEK ( desde 2000), em Montereal, apresenta VJs com regularidade, em conjunto com som e performance experimental.

Entre 2005 e 2007) alguns artistas e coletivos do Reino Unido, tais como o Addictive TV organizaram-se em conjunto com o BFI (British Film Institute) para produzir o evento Optronica, que apresentava performances audiovisuais no London IMAX e no BFI Southbank.

Os blogs, websites pessoais e arquivos como o "Prelinger Archives", alojado no Archive.org, são suportes largamente usados por muitos VJs para divulgar os seus trabalhos sob Public Domain e Creative Commons. Muitos VJs partilham os seus loops com outros VJs, como é exemplo as colecções "Design of Signage" (2006) de Tom Bassford, "79 VJ Loops" (2006) de Analog Recycling, "Vintage Fairlight Clips" (2007) de VJzoo e "57 V.2" (2007) de Mo Selle. Os DVDs promocionais também aparecem, tais como o Mixmasters (2000–2005) para a série de televisão ITV1 television series, produzido pelos Addictive TV, Lightrhythm Visuals (2003), Visomat Inc. (2002), e Pixdisc, todos estes focados nas criações visuais e estilos e técnicas relativas ao VJing. Mia Makela organizou a coleção disponível em DVD, para a Mediateca da Caixa Forum intitulada "LIVE CINEMA" (2007), focada na prática do Live Cinema onde participam muitos VJs.

Livros que reflectem a história, os aspectos técnicos e assuntos teóricos começaram a surgir por volta de 2005, tais como "The VJ Book: Inspirations and Practical Advice for Live Visuals Performance" (Paul Spinrad, 2005), "VJ: Audio-Visual Art and VJ Culture" (Michael Faulkner e D-Fuse, 2006), "vE-jA: Art + Technology of Live Audio-Video" (Xárene Eskandar [ed], 2006), e "VJ: Live Cinema Unraveled" (Tim Jaeger, 2006). A relação VJ-DJ ganhou relevância como assunto de interesse para os que estudam o VJing no contexto académico human–computer interaction.

Pesquisa teórica

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Alguns projectos têm vindo a tomar forma em volta da documentação e estudo teórico do VJing. Em 2004, Annet Dekker orientou o VJ Cultuur – a state of flux[5], um projecto do Netherlands Media Art Institute, Montevideo / Time Based Arts. Dekker contribuiu, através da escrita, para o conhecimento da história do VJing, no contexto da discoteca. Em 2005 o projecto VJ Theory [6] iniciou a publicação online de textos sobre VJing e a organização de discussões online e offline sobre assuntos relacionados. Estas actividades ajudaram a desenvolver uma comunidade de interesse em volta da reflexão teórica sobre a performance audiovisual e sobre o VJing. Entre 2005 e 2006 foram editados vários livros contendo entrevistas com VJs e estudos de caso de projectos e festivais. Estas publicações ajudaram a perceber a práctica reconhecendo-lhe um contexto histórico e artístico.[7] Os encontros em festivais internacionais dedicados às artes digitais, como é o caso do ISEA e do Ars Electronica, e em festivais especificamente dedicados ao Vjing, como é o caso do festival abertura em Lisboa, têm vindo a definir a prática em termos teóricos.

A dinâmica gerada pelo crescente interesse na investigação teórica e académica contribui para a complexificação do discurso. Gradualmente, o foco de atenção passa dos assuntos relacionados com a produção do evento ou performance para se dividir entre o processo, os conceitos, a identidade e presença do performer e do colectivo e a audiência. Assuntos relacionados com autoria, com redes de colaboração e narrativa, colocam a discussão crítica relacionada com o Vjing numa base partilhada por várias áreas do conhecimento, definindo como interdisciplinar cada projecto de investigação.

Publicações periódicas, online e em papel, apresentam artigos relacionados com o VJing, como é o caso da AMinima magazine, no seu número especial sobre Live Cinema,[8] que apresenta alguns dos VJs mais proeminentes internacionalmente e vários artigos sobre VJing e jornal online Vague Terrain, com o número The Rise of the VJ.[9]

Ver também

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Referências

  1. "VJ: an artist who creates and mixes video live and in synchronization to music". - Eskandar, p.1.
  2. Bainbridge, Bishop (1893). «A Souvenir of the Color Organ» (PDF). Consultado em 7 de maio de 2010 
  3. Betancourt, Michael (maio de 2008). «Pushing the Performance Envelope». MAKE. 14 (1556-2336). 47 páginas 
  4. "VideA was the first festival in Spain and perhaps to Europe to dedicate itself to the VJ's art." - Makela, Mia (2006), «VJ Scene Spain», San Francisco: h4SF, vE-jA: Art + Technology of Live Audio-Video: 98 
  5. «VJCultuur, a state of flux». 2004–2005. Consultado em 12 de maio de 2010 
  6. «VJ Theory». 2005. Consultado em 12 de maio de 2010. Arquivado do original em 10 de janeiro de 2010 
  7. The VJ Book: Inspirations and practical Advice for Live Visuals Performance de Paul Spinrad, VJ: Audio-Visual Art and VJ Culture editado por D-Fuse, "vE-jA: Art + Technology of Live Audio-Video" editado por Xárene Eskandar. Para informação mais detalhada, consulte a bibliografia.
  8. Makela (ed.), Mia (dezembro de 2009). «Live Cinema». Barcelona. AMinima Magazine (22) 
  9. Gates (ed.), Carrie (março de 2008). «The Rise of the VJ». Vague Terrain (9). Consultado em 12 maio de 2010 

Bibliografia

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Ligações externas

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