Grande Prêmio do México de 1992

Resultados do Grande Prêmio do México de Fórmula 1 realizado na Cidade do México em 22 de março de 1992. Segunda etapa da temporada, teve como vencedor o britânico Nigel Mansell, que subiu ao pódio junto a Riccardo Patrese numa dobradinha da Williams-Renault, com Michael Schumacher em terceiro pela Benetton-Ford.[1][nota 1]

Grande Prêmio do México
de Fórmula 1 de 1992

16º GP do México disputado na capital do país
Detalhes da corrida
Categoria Fórmula 1
Data 22 de março de 1992
Nome oficial XVI Gran Premio de México
Local Autódromo Hermanos Rodríguez, Cidade do México, México
Percurso 4.421 km
Total 69 voltas / 305.049 km
Condições do tempo Nuvens esparsas
Pole
Piloto
Reino Unido Nigel Mansell Williams-Renault
Tempo 1:16.346
Volta mais rápida
Piloto
Áustria Gerhard Berger McLaren-Honda
Tempo 1:17.711 (na volta 60)
Pódio
Primeiro
Reino Unido Nigel Mansell Williams-Renault
Segundo
Itália Riccardo Patrese Williams-Renault
Terceiro
Alemanha Michael Schumacher Benetton-Ford

Em meio ao furor da competição anunciaram a renovação do contrato da etapa mexicana por mais cinco anos[2] mediante um acordo entre José Abed, presidente do comitê organizador, e a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo, mas o calendário da temporada de 1993 divulgado pelo conselho mundial da FISA em 7 de outubro de 1992 excluiu o Grande Prêmio do México, o qual voltaria ao anuário da categoria apenas em 2015.[3]

Resumo editar

Prognósticos de Ayrton Senna editar

"Acho difícil lutar pela pole". Pouco antes de embarcar para a Cidade do México, Ayrton Senna foi sincero ao comentar o momento vivido por sua equipe e ao falar sobre a etapa mexicana, completou: "O importante nesta corrida é chegar entre os primeiros, marcar pontos e ganhar tempo até a estreia do novo carro".[4] Habituado a largar na primeira posição, o brasileiro parecia resignado ao confirmar a impressão tida na África do Sul quando sofreu para subir ao pódio em terceiro lugar: o McLaren MP4/6B concebido por Neil Oatley não era páreo para as Williams FW14B com suspensão ativa desenvolvidas por Adrian Newey, conforme o próprio Senna admitiria algum tempo depois no Grande Prêmio do Brasil.[5][6]

Diante de tal realidade restava ao tricampeão mundial torcer para que o asfalto ondulado do Autódromo Hermanos Rodríguez reduzisse a eficiência dos carros de Frank Williams e a nova gasolina desenvolvida pela Shell impulsione o motor Honda RA122E V12 da McLaren de modo compensar a perda de potência causada pelos 2.400 metros de altitude do circuito em relação ao nível do mar[7] a fim de trazer algum equilíbrio à disputa enquanto o piloto de testes, Mark Blundell, ajuda a desenvolver o novo bólido do time de Woking. O referido carro terá uma nova aerodinâmica, acelerador eletrônico e câmbio semiautomático. Por ironia, os comandados de Ron Dennis recorreram à tecnologia para melhorar seu carro, artifícios que, segundo Senna, nivelam os pilotos por baixo compensando a pouca aptidão de alguns e transfere para os engenheiros e técnicos a responsabilidade pelo acerto das máquinas.[4]

Reformas na Peraltada editar

Palco de acidentes envolvendo Ayrton Senna, a curva Peraltada foi recapeada e teve sua inclinação reduzida em 35 graus. Em 1987 o brasileiro guiava para a Lotus e sofreu um acidente durante o treino oficial quando seu carro atingiu a barreira de pneus a 150km/h, resultando em dores no pescoço e incômodo na hora da prova. Em junho do ano anterior, ele passou sobre uma ondulação da pista, girou, bateu na barreira de pneus, capotou e ficou de cabeça para baixo numa área de terra batida durante o primeiro treino oficial para a corrida, mas esgueirou-se e saiu da McLaren sem maiores consequências.[8][9]

Sobre as reformas na Peraltada, Senna foi incisivo: "A curva está até mais perigosa, pois a inclinação foi reduzida na parte externa, e não na interna, onde passam os carros". Irônico, o italiano Riccardo Patrese sentenciou: "Está quase igual. Passei por ela e nem notei a diferença".[2]

Senna sofre outro acidente editar

Aos dezoito minutos da primeira sessão de treinos oficiais, o bólido de Ayrton Senna passou em cima de uma ondulação rodou na entrada dos esses e bateu no guard-rail a 220km/h numa colisão que destruiu a parte dianteira da McLaren e causou numa forte contusão na perna esquerda.[10] Sofrendo dores intensas, o tricampeão sinalizou para um comissário de pista. Quando o resgate chegou, imobilizaram-lhe o pescoço com um colete ortopédico e puseram uma máscara de oxigênio para facilitar sua respiração. Removido do local após oito minutos, o piloto foi levado ao hospital do circuito e ao examiná-lo constataram alguns hematomas na perna machucada e aplicaram-lhe um sedativo.[11] Alquebrado na véspera de seu aniversário de 32 anos, o piloto afirmou: "Eu nunca senti essa dor antes", segundo artigo publicado no Jornal do Brasil.[12]

Por conta das dores sofridas, a McLaren deixou a critério de Senna a decisão de participar do segundo treino oficial sendo que o piloto estaria fora da corrida mexicana caso não participasse, afinal o tempo que assinalou antes do acidente não o colocou entre os vinte e seis aptos a largar.[12] Apesar de certo suspense, o brasileiro marcou o sexto tempo e explicou sua decisão: "Por razões humanitárias eu jamais sentaria em um carro aqui, mas, em respeito ao público em geral e a meus fãs, eu tenho que correr".[13] No tocante ao resto do grid tivemos uma primeira fila da Williams com Nigel Mansell à frente de Riccardo Patrese enquanto a Benetton expôs o mau momento vivido pela McLaren ao colocar Michael Schumacher e Martin Brundle na segunda fila adiante de Gerhard Berger e um fadigado Ayrton Senna.[14]

Pela primeira vez em seus 31 anos de história, os dois carros da Brabham falharam na classificação.[15]

Novo passeio da Williams editar

Nigel Mansell conservou o primeiro lugar após a largada sendo que Riccardo Patrese manteve-se próximo ao companheiro de equipe durante vinte voltas enquanto Ayrton Senna surgiu em terceiro lugar num arranque vigoroso e sem o incômodo da perna machucada no acidente de sexta-feira graças a um forro de espuma inserido no cockpit por seus mecânicos. Chegar a essa posição foi possível porque o brasileiro soube combinar oportunidade e experiência, pois aproveitou a freada no fim da reta, inseriu-se no lado externo da pista e ultrapassou os carros à sua frente.[16] No sentido inverso, três pilotos abandonaram a porfia antes de completada a primeira volta: Karl Wendlinger bateu sua March na Ferrari de Ivan Capelli, ao passo que o motor da Jordan deixou Maurício Gugelmin a pé.[17] Graças à suspensão ativa, os carros da Williams mal sofriam com as ondulações da pista mexicana dada a sua altura constante em relação ao solo por conta da impulsão hidráulica dos amortecedores e assim Mansell ampliou sua vantagem e cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, quase treze segundos adiante de Patrese.[1]

Mais veloz que a Benetton de Michael Schumacher nas retas, Ayrton Senna manteve o terceiro posto até a volta onze quando quebrou a transmissão da McLaren. Contudo, o duelo entre as equipes rivais continuou graças a Gerhard Berger e Martin Brundle: na 41ª volta Berger superou o rival, mas tomou o troco logo depois; somente duas voltas mais tarde o austríaco da McLaren garantiu o quarto lugar enquanto o motor de Brundle foi pelos ares na volta 47. Graças ao surpreendente ritmo de sua Tyrrell, Andrea de Cesaris assegurou o quinto lugar mesmo a uma volta de Mansell, o vencedor, enquanto Mika Häkkinen terminou em sexto lugar com a Lotus.[18]

Invicta graças à segunda dobradinha entre Nigel Mansell e Riccardo Patrese em duas provas disputadas, a Williams liderava com folga os mundiais de pilotos e construtores enquanto Michael Schumacher saboreava seu primeiro pódio.

Treinos classificatórios editar

Pos. Piloto Chassi/Motor Q1 Q2
1 5   Nigel Mansell Williams-Renault 1:16.346 1:16.648
2 6   Riccardo Patrese Williams-Renault 1:17.908 1:16.362
3 19   Michael Schumacher Benetton-Ford 1:17:554 1:17.292
4 20   Martin Brundle Benetton-Ford 1:18.937 1:18.588
5 2   Gerhard Berger McLaren-Honda 1:18.604 1:18.589
6 1   Ayrton Senna McLaren-Honda 1:23.063 1:18.791
7 21   J. J. Lehto Dallara-Ferrari 1:19.982 1:19.111
8 33   Maurício Gugelmin Jordan-Yamaha 1:20.246 1:19.355
9 22   Pierluigi Martini Dallara-Ferrari 1:19.767 1:19.378
10 27   Jean Alesi Ferrari 1:21.434 1:19.417
11 4   Andrea de Cesaris Tyrrell-Ilmor 1:19.423 1:24.117
12 12   Johnny Herbert Lotus-Ford 1:20.450 1:19.509
13 29   Bertrand Gachot Venturi-Lamborghini 1:21.656 1:19.743
14 15   Gabriele Tarquini Fondmetal-Ford 1:20.386 1:19.769
15 32   Stefano Modena Jordan-Yamaha 1:19.957 1:20.469
16 3   Olivier Grouillard Tyrrell-Ilmor 1:20.709 1:19.961
17 23   Christian Fittipaldi Minardi-Lamborghini 1:20.042 1:20.202
18 11   Mika Häkkinen Lotus-Ford 1:20.145 1:20.390
19 16   Karl Wendlinger March-Ilmor 47:56.613 1:20.200
20 28   Ivan Capelli Ferrari 1:20.223 1:21.120
21 24   Gianni Morbidelli Minardi-Lamborghini 1:21.019 1:20.227
22 25   Thierry Boutsen Ligier-Renault 1:20.709 1:20.395
23 14   Andrea Chiesa Fondmetal-Ford 1:21.902 1:20.845
24 30   Ukyo Katayama Venturi-Lamborghini 1:22.188 1:20.935
25 9   Michele Alboreto Footwork-Mugen/Honda 1:21.396 1:21.064
26 26   Erik Comas Ligier-Renault 1:21.122 1:21.963
DNQ 10   Aguri Suzuki Footwork-Mugen/Honda 1:21.617 1:21.187
DNQ 17   Paul Belmondo March-Ilmor 1:23.508 1:21.504
DNQ 7   Eric van de Poele Brabham-Judd 1:22.937 1:22.197
DNQ 8   Giovanna Amati Brabham-Judd 1:25.052
Fonte:[14]

Classificação da prova editar

Pos. Piloto Construtor Voltas Tempo/Diferença Grid Pontos
1 5   Nigel Mansell Williams-Renault 69 1:31'53.587 1 10
2 6   Riccardo Patrese Williams-Renault 69 + 12.971 2 6
3 19   Michael Schumacher Benetton-Ford 69 + 21.429 3 4
4 2   Gerhard Berger McLaren-Honda 69 + 33.347 5 3
5 4   Andrea de Cesaris Tyrrell-Ilmor 68 + 1 volta 11 2
6 11   Mika Häkkinen Lotus-Ford 68 + 1 volta 18 1
7 12   Johnny Herbert Lotus-Ford 68 + 1 volta 12
8 21   J. J. Lehto Dallara-Ferrari 68 + 1 volta 7
9 26   Erik Comas Ligier-Renault 67 + 2 voltas 26
10 25   Thierry Boutsen Ligier-Renault 67 + 2 voltas 22
11 29   Bertrand Gachot Venturi-Lamborghini 66 + 3 voltas 13
12 30   Ukyo Katayama Venturi-Lamborghini 66 + 3 voltas 24
13 9   Michele Alboreto Footwork-Mugen/Honda 65 + 4 voltas 25
Ret 20   Martin Brundle Benetton-Ford 47 Motor 4
Ret 15   Gabriele Tarquini Fondmetal-Ford 45 Embreagem 14
Ret 14   Andrea Chiesa Fondmetal-Ford 37 Rodada 23
Ret 22   Pierluigi Martini Dallara-Ferrari 36 Falhas na direção 9
Ret 27   Jean Alesi Ferrari 31 Motor 10
Ret 24   Gianni Morbidelli Minardi-Lamborghini 29 Rodada 21
Ret 32   Stefano Modena Jordan-Yamaha 17 Câmbio 15
Ret 3   Olivier Grouillard Tyrrell-Ilmor 12 Motor 16
Ret 1   Ayrton Senna McLaren-Honda 11 Transmissão 6
Ret 23   Christian Fittipaldi Minardi-Lamborghini 2 Rodada 17
Ret 33   Maurício Gugelmin Jordan-Yamaha 0 Motor 8
Ret 16   Karl Wendlinger March-Ilmor 0 Colisão 19
Ret 28   Ivan Capelli Ferrari 0 Colisão 20
DNQ 10   Aguri Suzuki Footwork-Mugen/Honda Não qualificado
DNQ 17   Paul Belmondo March-Ilmor Não qualificado
DNQ 7   Eric van de Poele Brabham-Judd Não qualificado
DNQ 8   Giovanna Amati Brabham-Judd Não qualificado
Fonte:[1]

Tabela do campeonato após a corrida editar

  • Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas.

Notas

  1. Voltas na liderança: Nigel Mansell liderou as 69 voltas da prova.

Referências

  1. a b c «1992 Mexican Grand Prix - race result» (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2019 
  2. a b GP garantido (online). Jornal do Brasil, 2ª edição, Rio de Janeiro (RJ), 21/03/1992. Primeiro caderno, Esportes, p. 16. Página visitada em 1º de março de 2020.
  3. GP da Ásia é a novidade da próxima temporada (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 08/10/1992. Esportes, p. 23. Página visitada em 1º de março de 2020.
  4. a b Senna torce para asfalto atrapalhar Williams (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 19/03/1992. Primeiro caderno, Esportes, p. 18. Página visitada em 1º de março de 2020.
  5. Fred Sabino (20 de outubro de 2019). «Máquinas Eternas #24: McLaren MP4/6 deu tricampeonato mundial a Ayrton Senna em 1991». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 1º de março de 2020 
  6. Fred Sabino (5 de abril de 2019). «"As Williams estão num outro planeta", desabafou Ayrton Senna após abandono em Interlagos». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 1º de março de 2020 
  7. ANDRADA E SILVA, Mário. Altitude exige acerto perfeito do carro (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 19/03/1992. Primeiro caderno, Esportes, p. 18. Página visitada em 1º de março de 2020.
  8. Fred Sabino (14 de junho de 2019). «Na temida curva Peraltada, Ayrton Senna levou grande susto depois de capotar, em 1991». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 1º de março de 2020 
  9. A curva que causa pavor (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 19/03/1992. Primeiro caderno, Esportes, p. 18. Página visitada em 1º de março de 2020.
  10. GOMES, Flávio. Senna sofre acidente e pode ficar fora do GP (online). Folha de S.Paulo, São Paulo (SP), 21/03/1992. Esporte, p. 3-6. Página visitada em 1º de março de 2020.
  11. Fred Sabino (20 de março de 2020). «Ayrton Senna sofreu acidente na esburacada pista do México em 1992 e se machucou». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 23 de março de 2020 
  12. a b ANDRADA E SILVA, Mário. Senna pode não correr no México (online). Jornal do Brasil, 2ª edição, Rio de Janeiro (RJ), 21/03/1992. Primeiro caderno, Esportes, p. 16. Página visitada em 1º de março de 2020.
  13. ANDRADA E SILVA, Mário. Senna corre em respeito ao público e fãs (online). Jornal do Brasil, 2ª edição, Rio de Janeiro (RJ), 22/03/1992. Primeiro caderno, Esportes, p. 35. Página visitada em 1º de março de 2020.
  14. a b «Mexican Grand Prix - overall qualifying» (em inglês). Consultado em 29 de fevereiro de 2020 
  15. «How F1's last female racer stood little chance in a once-great team close to collapse» (em inglês). Race Fans. 5 de fevereiro de 2022 
  16. ANDRADA E SILVA, Mário. Para Senna, temporada começa no Brasil (online). Jornal do Brasil, 2ª edição, Rio de Janeiro (RJ), 22/03/1992. Esportes, p. 02. Página visitada em 1º de março de 2020.
  17. «Mexican GP, 1992 (em inglês) no grandprix.com». Consultado em 1º de março de 2020 
  18. O "leão" continua indomável (online). Jornal do Brasil, 2ª edição, Rio de Janeiro (RJ), 22/03/1992. Esportes, p. 02. Página visitada em 1º de março de 2020.
  19. a b «1992 Mexican GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 19 de setembro de 2020 

Precedido por
Grande Prêmio da África do Sul de 1992
Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA
Ano de 1992
Sucedido por
Grande Prêmio do Brasil de 1992
Precedido por
Grande Prêmio do México de 1991
Grande Prêmio do México
16ª edição
Sucedido por
Grande Prêmio do México de 2015