Ácido linolênico conjugado

 Nota: Não confundir com Ácido linoleico conjugado.

Ácido linolênico conjugado (CLnA, em inglês: Conjugated Linolenic Acid) constitui um grupo de isômeros posicionais e geométricos do ácido ɑ-linolênico, cuja nomenclatura química é acido octadecatrienoico e a notação abreviada é 18:3 n-3 cis 9, cis12, cis15. Nessa configuração, às três duplas ligações do CLnA se apresentam de forma conjugada, diferentemente do ácido ɑ-linolênico, no qual são separadas por um grupo metil (-CH₂).[1]

O CLnA tem gerado grande interesse por conta de seus potenciais efeitos benéficos à saúde mostrados em estudos com animais e estudos in vitro, dentre eles se destacam a  ação anticancerígena, anti-inflamatória e antioxidante.[1]

As principais fontes naturais de CLnA são óleos de sementes de plantas como romã (Punica granatum), melão-de-São-Caetano (Momordica charantia L.), calêndula (Calendula officinalis), jacarandá (Jacaranda minosifolia) e catalpa-amarela (Catalpa ovata).[1] Desse modo,  a obtenção desses compostos se dá através da extração do óleo das sementes que geralmente é feito por prensagem a frio, ou usando outra categoria de método com solvente e CO₂ supercrítico.[2] Estudos mostraram que o teor de CLnA nas sementes é alto, chegando a 80% nos óleos de semente de romã.[3][3]

Diferentes isômeros e suas fontes

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Diferentes isômeros já foram identificados e isolados de sementes, conforme mostra a tabela abaixo.[carece de fontes?]

Nome comum Notação abreviada Fontes Fórmula Estrutural
ácido α-eleoesteárico C18:3, cis-9, trans-11, trans-13 Melão amargo  
ácido β-eleoesteárico C18:3, trans-9, trans-11, trans-13 Melão amargo / Calêndula  
ácido catalpico C18:3, trans-9, trans-11, cis-13 Catalpa amarela  
ácido punícico C18:3, cis-9, trans-11, cis-13 Romã / Trichosanthes  
ácido α-calêndico C18:3, trans-8, trans-10, cis-12 Calêndula / Margarida  
ácido β-calêndico C18:3, trans-8, trans-10, trans-12 Melão amargo / Calêndula  
ácido jacárico C18:3, cis-8, trans-10, cis-12 Jacarandá  

Efeitos anticancerígenos

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A romã (Punica granatum) apresenta propriedades benéficas à saúde.[4] O ácido púnico é um ácido linolênico conjugado com uma ampla gama de efeitos benéficos e é o principal componente do óleo de semente de romã. Pesquisas mostram que extratos de sementes inteiras de romã promoveram a inibição do crescimento de células humanas de câncer de próstata em cultura. Além do ácido púnico, outros CLnA apresentam propriedades anticancerígenas, como já mostrado para os ácidos β-calêndico e β-eleosteático, que promoveram a inibição do crescimento de células humanas de câncer de cólon (Hennessy et al., 2011).[carece de fontes?]

Os resultados obtidos por Shinohara et al. (2012) permitiram avaliar os CLnA de acordo com seu potencial anticancerígeno. Todos os isômeros estudados induziram a morte por apoptose de células de câncer colorretal sendo o ácido jacárico, presente nas sementes de jacarandá, com maior potencial. Em células humanas de câncer de próstata, tanto o ácido jacárico como o punícico apresentam maior efeito citotóxico e, portanto, maior potencial anticancerígeno.[5]

Efeitos anti-inflamatórios

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Estudos in vivo avaliaram os efeitos de alguns CLnA atuando sobre as vias de produção de mediadores com atividade inflamatória, como Fator de Necrose Tumoral e Interleucinas- 1, 6 e 8 e também regulando a função de células do sistema imunológico como neutrófilos, monócitos e macrófagos. Os principais efeitos observados estavam relacionados, de uma forma geral, à redução desses mediadores inflamatórios, sugerindo um efeito anti-inflamatório dos CLnA, especialmente do ácido púnico, presente no óleo de semente de romã. Além disso, o ácido ɑ-eleosteárico (que é encontrado no melão amargo) também se mostrou eficaz na diminuição da resposta inflamatória em estudo realizado em camundongos com doença inflamatória intestinal.[1]

Efeitos antioxidantes

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Os CLnA podem desempenhar um papel na melhora do estresse oxidativo, que está associado a diferentes condições clínicas e doenças crônicas. Uma série de estudos in vitro e in vivo apurou a atividade antioxidante de óleos vegetais contendo isômeros de CLnA e observaram efeitos positivos na redução do estresse oxidativo. Nesses estudos, notavelmente os isômeros ácido ɑ-eleosteárico e ácido púnico aumentaram a atividade de enzimas que protegem contra o estresse oxidativo (como superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase) e diminuiu a atividade de enzimas pró-oxidantes no fígado, plasma e cérebro de ratos.[1]  

Conversão do CLnA em isômeros conjugados do ácido linoleico (CLA)

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Além dos efeitos mencionados, já foi demonstrado que alguns CLnA são convertidos em isômeros do ácido graxo linoleico (CLA, do inglês Conjugated Linoleic Acid). Estudos mostraram a conversão do isômero ɑ-eleosteárico em CLA no fígado, rins e intestino delgado de ratos. Muitas evidências sugestivas indicam que CLA também apresentam diversos benefícios à saúde, sendo as principais fontes carnes de ruminantes e laticínios.[6] Dado que o teor de CLA varia conforme a categoria de dieta fornecida ao animal e que o teor de CLnA parece ser elevado nas sementes das plantas, a conversão de CLnA em CLA observada em estudos com animais, se confirmada em humanos, sugere os CLnA como uma fonte adicional de CLA.[7]

Importância econômica

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O aproveitamento das sementes, subprodutos do processamento de frutas têm se mostrado importante no que se refere a redução dos impactos ambientais causados pela industrialização de frutas e também na ampliação da oferta de óleos vegetais ricos em compostos bioativos.[carece de fontes?]

Considerando todos os benefícios apresentados pelos CLnA, é de suma importância que suas fontes alimentares e produtos estejam cada vez mais acessíveis para a população. No entanto, a análise do preço médio da Romã, uma das fontes mais acessíveis se referindo aos CLnA no Brasil, mostra a necessidade de adequação de preços à realidade das condições socioeconômicas da população brasileira.[8]

Referente aos outros isômeros do CLnA, podem ser encontrados pela população brasileira através de cápsulas contendo o óleo da semente respectiva. Como, por exemplo, o Melão amargo (melão-de-São-Caetano).[carece de fontes?]

Ver também

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Referências

  1. a b c d e Yuan, Gao-Feng; Chen, Xiao-E.; Li, Duo (2014). «Conjugated linolenic acids and their bioactivities: a review». Food & Function (em inglês) (7). 1360 páginas. ISSN 2042-6496. doi:10.1039/c4fo00037d. Consultado em 25 de março de 2021 
  2. N K Da Silva; L O Ribeiro; R I Nogueira; S P Freitas (2013). «EFEITO DO MÉTODO DE EXTRAÇÃO NA CAPACIDADE ANTIOXIDANTE DOS ÓLEOS DE SEMENTE DE ROMû. doi:10.13140/2.1.2079.6805. Consultado em 25 de março de 2021 
  3. a b Gong, Mengyue; Hu, Yulin; Wei, Wei; Jin, Qingzhe; Wang, Xingguo (dezembro de 2019). «Production of conjugated fatty acids: A review of recent advances». Biotechnology Advances (em inglês) (8). 107454 páginas. doi:10.1016/j.biotechadv.2019.107454. Consultado em 25 de março de 2021 
  4. Khwairakpam, Amrita Devi; Bordoloi, Devivasha; Thakur, Krishan Kumar; Monisha, Javadi; Arfuso, Frank; Sethi, Gautam; Mishra, Srishti; Kumar, Alan P.; Kunnumakkara, Ajaikumar B. (julho de 2018). «Possible use of Punica granatum (Pomegranate) in cancer therapy». Pharmacological Research (em inglês): 53–64. doi:10.1016/j.phrs.2018.04.021. Consultado em 25 de março de 2021 
  5. Białek, Małgorzata; Czauderna, Marian; Białek, Agnieszka (9 de março de 2017). «Conjugated linolenic acid (CLnA) isomers as new bioactive lipid compounds in ruminant-derived food products. A review». Journal of Animal and Feed Sciences. ISSN 1230-1388. doi:10.22358/jafs/68862/2017. Consultado em 25 de março de 2021 
  6. Gong, Mengyue; Wei, Wei; Hu, Yulin; Jin, Qingzhe; Wang, Xingguo (setembro de 2020). «Structure determination of conjugated linoleic and linolenic acids». Journal of Chromatography B (em inglês). 122292 páginas. doi:10.1016/j.jchromb.2020.122292. Consultado em 25 de março de 2021 
  7. Dhar Dubey, Kaushik K.; Sharma, Girish; Kumar, Aruna (5 de junho de 2019). «Conjugated Linolenic Acids: Implication in Cancer». Journal of Agricultural and Food Chemistry (em inglês) (22): 6091–6101. ISSN 0021-8561. doi:10.1021/acs.jafc.9b01379. Consultado em 25 de março de 2021 
  8. Watanabe, Hélio Satoshi; Oliveira, Sabrina Leite de (março de 2014). «Comercialização de frutas exóticas». Revista Brasileira de Fruticultura (1): 23–38. ISSN 0100-2945. doi:10.1590/0100-2945-443/13. Consultado em 25 de março de 2021