ʻiʻiwi[2] (Drepanis coccinea, antes Vestiaria coccinea), ou Ívi[3] é um tipo de trepador-do-mel[4]: endémico do Havai. É uma das espécies mais abundantes dos drepanidíneos do Havai, muitos dos quais estão em perigo de extinção ou extintas. O Iví é reconhecidamente um dos símbolos do Havai e é a terceira ave terrestre mais comum no arquipélago. Grandes colónias de Ívis habitam as ilhas de Havai, Maui, e Kauai, com colónias de menor dimensão nas ilhas de Molokai e Oahu não existindo mais, atualmente, na ilha de Lanai. A população remanescente totaliza 350 000 indivíduos, mas está a diminuir.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaʻIʻiwi
Adulto no Havai
Adulto no Havai
Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Fringillidae
Subfamília: Carduelinae
Tribo: Drepanidini
Gênero: Drepanis
Espécie: D. coccinea
Nome binomial
Drepanis coccinea
(Forster, 1780)
Distribuição geográfica

Sinónimos
Vestiaria coccinea

Descrição e usos editar

 
Um Ívi, durante o voo, exibe as suas cores vivas.
 
Cabeça.

Os ívis adultos são, na maior parte do corpo vermelho, com asas e cauda negras e um bico longo e curvo de cor salmão adaptado para a recolha do néctar de flores. O contraste entre a sua plumagem colorida e a folhagem verde torna-os uma das espécies de aves mais facilmente detetável do Havai. As aves mais jovens têm plumagem dourada, com mais manchas e bicos de cor de marfim, pelo que eram foram confundidos com outras espécies pelos primeiros naturalistas.

Ainda que tenham sido utilizados no comércio de penas, foram menos afetados que o mamo-do-havai pelo facto de não ser considerado tão sagrado pelas religiões nativas. As penas de ívi são muito procuradas e valorizadas pela nobreza havaiana aliʻi com o intuito de serem usadas na decoração de ʻahuʻula (mantos de penas) e mahiole (capacetes emplumados). Tal uso justifica o nome científico original Vestiaria, do Latim "vestuário", e coccinea que se refere à cor vermelha. (Em 2015 a publicação Birds of the World: Recommended English Names mudou o género Vestiaria para o género Drepanis, da palavra grega para foice, fazendo referência ao formato do seu bico.)

É uma ave frequentemente citada no folclore havaiano. A canção havaiana "Sweet Lei Mamo" inclui o verso "The i'iwi bird, too, is a friend" ("O pássaro ívi, também, é um amigo").[5]

O ívi consegue flutuar no ar como um beija-flor. O seu canto peculiar consiste num par de assobios, o som de bolas caindo à água, o som de balões de borracha a esfregarem-se ou o rangido de dobradiças com ferrugem.

Ecologia editar

Dieta editar

O bico longo dos ívis permite-lhes recolher o néctar de flores como as das lobelioides havaianas, com corola curva. A partir de 1902 a população destas espécies vegetais diminuiram drasticamente e os ívis começaram a alimentar-se do néctar da floração de árvores ʻōhiʻa lehua (Metrosideros polymorpha).[6] Os ívis alimentam-se também de pequenos artrópodes.[7]

Migração editar

Estas aves são migrantes altitudinais; seguem a progressão da floração enquanto esta se desenvolve diferencialmente a altitudes que vão diminuindo ao longo do ano. A procura de alimento em regiões de baixa altitude expõem-os a vários organismos patogénicos e a uma elevada mortalidade. O facto de os ívis poderem migrar entre ilhas permitiu-lhes não se extinguirem em pequenas ilhas como Molokaʻi.

Reprodução editar

No início do inverno, de janeiro a junho, estas aves acasalam assim que as plantas ʻōhiʻa atingem a sua floração máxima. A fêmea põe dois a três ovos num pequeno ninho feito de fibras de árvores, pétalas e plúmulas. Os ovos, de acor azulada, elodem em catorze dias. As crias são amarelo-esverdeadas com manchas laranja-acastanhadas. As crias emplumam em vinte quatro dias e rapidamente atingem a plumagem adulta.

Etimologia editar

Os linguístas fazem derivar a palavra havaiana ʻiʻiwi da língua proto-polinésia *kiwi, que na Polinésia central se refere ao maçarico-de-coxas-arrepiadas (Numenius tahitiensis), um pássaro migratório.[8] O bico longo e curvo desta espécie tem, de facto, algumas semelhanças com o dos ívis.

Ameaças e conservação editar

 
Vestiaria coccinea

Ainda que os ívis sejam ainda bastante comuns na maior parte das ilhas do Havai, são raras nas ilhas de Oʻahu e de Molokai. Desde 1929 que não se encontrou nenhuma em Lānaʻi.[9] Este declínio, que a torna uma espécie em perigo, é explicado em primeiro lugar pela perda de habitat, já que as florestas nativas têm sido desbastadas para agricultura, pastagens entre outros fins. A espécie é ainda particularmente susceptível à bouba aviária e à gripe das aves.

Planos de ação no sentido de restaurar os habitats desta espécie incluem a remoção de espécies invasoras (como o araçá-rosa, Rubus argutus, o tojo, maracujá-banana, etc.) e restauro da flora nativa.[10]

Doenças introduzidas, como a malária aviária (Plasmodium relictum) são disseminadas entre a população de ívis por mosquitos. As populações que vivem acima dos 1000 metros estão mais protegidas, já que as temperaturas mais baixas não são favoráveis à disseminação de mosquitos.[11] Em Molokaʻi, a organização The Nature Conservancy tem contribuído para a preservação dos habitats ao isolar com cercas várias reservas naturais de modo a afastar populações introduzidas de porcos, responsáveis por lamaçais favoráveis à reprodução dos mosquitos.[10]

O ívi já esteve classificado como espécie quase ameaçada pela IUCN, mas estudos recentes têm provado que as populações são menores do que se pensava antes, tendo por essa razão passado a considerar-se como espécie vulnerável em 2008.[1]

Referências editar

  1. a b «IUCN red list Drepanis coccinea». Lista Vermelha da IUCN. Consultado em 8 de setembro de 2022 
  2. Hails, Chris (2006). «Relatório Planeta Vivo» (PDF). WWF International. Consultado em 31 de março de 2016 
  3. «Vestiaria coccinea - Avibase». Consultado em 30 de março de 2016 
  4. Garrido, Carlos (2012). «Análise do tratamento lexicográfico dos táxones zoológicos nos dicionários gerais de referência das línguas portuguesa e espanhola» (PDF). Revista de Lexicografía, XVIII. Consultado em 24 de abril de 2016 
  5. Elbert, Samuel H; Mahoe, Noelani (1970). Ne Mele o Hawaiʻi Nei: 101 Hawaiian Songs. [S.l.]: University of Hawaii Press. p. 92. ISBN 978-0-87022-219-1 
  6. Smith, Thomas B.; Freed, Leonard A.; Lepson, Jaan Kaimanu; Carothers, John H. (fevereiro de 1995). «Evolutionary Consequences of Extinctions in Populations of a Hawaiian Honeycreeper». Society for Conservation Biology. Conservation Biology. 9 (1): 107–113. JSTOR 2386392. doi:10.1046/j.1523-1739.1995.09010107.x 
  7. «ʻIʻiwi» (PDF). Hawaii's Comprehensive Wildlife Conservation Strategy. State of Hawaiʻi. 1 de outubro de 2005. Consultado em 31 de março de 2016. Arquivado do original (PDF) em 17 de maio de 2011 
  8. Polynesian Lexicon Project Online, entry kiwi.1. pollex.org.nz
  9. Hirai, Lawrence T. (1978). «Native Birds of Lanai, Hawaii» (PDF). Western Birds. 9: 71–77. Consultado em 31 de março de 2016. Arquivado do original (PDF) em 22 de janeiro de 2015. Similarly, the Iiwi was considered abundant throughout the island forest in the 1890s (Perkins 1903), still fairly common up to 1923, but extirpated by 1929 (Munro 1960). 
  10. a b «'I'iwi (Vestiaria coccinea)» (PDF). Hawaiian Bird Conservation Action Plan. Outubro de 2012. Consultado em 31 de março de 2016 
  11. «Scarlet Beauty». Consultado em 31 de março de 2016. Arquivado do original em 7 de abril de 2016 

Ligações externas editar

 
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