Alfred Delp, S.J. (Mannheim, 15 de Setembro de 1907 - Berlim, 2 de Fevereiro de 1945), foi um padre católico Jesuíta, filósofo e resistente anti-nazi. Foi um destacado membro do Círculo de Kreisau e da Resistência alemã. Implicado no atentado de 20 de Julho de 1944 contra Adolf Hitler, foi preso, julgado, condenado à morte e executado, pouco antes do fim da II Guerra Mundial na Europa.

Alfred Delp
Alfred Delp
Nascimento 15 de setembro de 1907
Mannheim
Morte 2 de fevereiro de 1945 (37 anos)
Plötzensee Prison (Alemanha Nazista)
Cidadania Reich Alemão
Progenitores
  • Maria Delp
Alma mater
Ocupação padre, membro da resistência, teólogo
Religião Igreja Católica
Causa da morte forca

Primeiros anos e educação editar

Delp nasceu em Mannheim, no então Grão-Ducado de Baden, filho de mãe católica e pai protestante. Foi baptizado como católico, mas frequentou uma escola primária luterana e foi confirmado luterano em 1921. Depois de uma azeda discussão com um pastor luterano, pediu e recebeu os sacramentos da Primeira Comunhão e Crisma na Igreja Católica. O seu pároco católico reconheceu a sua inteligência e paixão pela aprendizagem e conseguiu que se matriculasse na Goetheschule em Dieburg. Possivelmente devido à sua educação num lar religioso misto, tornar-se-ia mais tarde um ardente defensor da melhoria de relações entre católicos e protestantes.

Depois de terminar os seus estudos secundários, entrou para a Companhia de Jesus, em 1926. Depois de fazer estudos filosóficos em Pullach, trabalhou por três anos como prefeito e professor de desporto no Colégio Stella Matutina em Feldkirch, Áustria. Em 1933, a subida ao poder dos Nazis na Alemanha levaria ao êxodo forçado de virtualmente todos os estudantes alemães na Áustria. Regressou à Alemanha, juntamente com o director do Colégio Stella Matutina, o Padre Otto Faller, sendo dos primeiros a chegar à Floresta Negra, onde os Jesuítas abririam o Colégio de São Brás para cerca de 300 estudantes obrigados a sair da Áustria. Delp completou os seus estudos teológicos em Valkenburg, Holanda (1934-1936), e em Frankfurt (1936-1937).

Publicou a sua tese, Existência Trágica, em 1935, sobre a filosofia de Martin Heidegger, defendendo um humanismo de inspiração Cristã e reavaliando o existencialismo do filósofo alemão.

Ministério sacerdotal editar

Delp foi ordenado padre em Munique, em 1937. Delp queria estudar para fazer um doutoramento em Filosofia na Universidade de Munique, mas foi recusada a sua admissão por razões políticas. A partir de 1939, trabalhou no quadro editorial da revista mensal Jesuíta Stimmen der Zeit (Vozes dos Tempos, em português), até ao seu encerramento pelos Nazis em Abril de 1941. Passou a ser reitor da Igreja de St. Georg, parte da paróquia de Heilig-Blut no bairro de Bogenhausen, em Munique. Pregou em ambas as igrejas, ao mesmo tempo que ajudou secretamente Judeus a fugir para a Suíça, através da Resistência.

Resistência alemã editar

A oposição aberta de padres Jesuítas ao regime Nazi levara à prisão de vários destes em campos de concentração. O provincial Jesuíta de Delp, Augustin Rösch, tornou-se activo na resistência ao Nazismo. Foi Rösch que introduziu Delp no Círculo de Kreisau. Em 1942, Delp encontrava-se regularmente com membros do grupo em volta de Helmuth von Moltke para discutir o novo modelo de ordem social a desenvolver na Alemanha depois do derrube do Nazismo. Delp explicou a doutrina social da Igreja ao grupo e conseguiu contactos entre Moltke e líderes Católicos, como o Arcebispo Preysing, de Berlim.

Prisão e julgamento editar

Delp foi preso em Munique, em 28 de Julho de 1944, na sequência do atentado a Hitler, levado a cabo oito dias antes, apesar de não estar directamente envolvido na tentativa de golpe militar. Foi transferido para a prisão de Tegel, em Berlim. Na prisão, começou secretamente a rezar missa e a escrever cartas, reflexões sobre o Advento, o Natal e outros temas espirituais, que foram secretamente enviados para fora, antes do seu julgamento. Em 8 de Dezembro de 1944, Delp recebeu a visita do Padre Franz von Tattenbach, enviado por Rösch, para fazer os seus votos finais de membro da Companhia de Jesus. Tal era supostamente proibido mas o polícia de guarda não entendeu o que estava a suceder.

Execução editar

Durante a sua prisão final, a Gestapo ofereceu a Delp a libertação, desde que abandonasse os Jesuítas, o que este recusou. As condições da sua prisão foram difíceis, uma vez que, à semelhança de todos os prisioneiros implicados no atentado de 20 de Julho, eram obrigados a usar algemas noite e dia. Delp foi julgado de 9 a 11 de Janeiro de 1945 pelo Tribunal do Povo, em Berlim, presidido por Roland Freisler. Delp foi condenado à morte por alta traição, apesar de estar implicado no atentado a Hitler. A sua dedicação ao Círculo de Kreisau e o seu trabalho como padre Jesuíta foram suficientes para selar o seu destino.[1],[2] Delp foi condenado ao enforcamento, que ocorreu em 2 de Fevereiro de 1945, na Prisão de Plötzensee, em Berlim. No mesmo dia, Freisler morreria num bombardeamento aliado. Os restos mortais de Delp foram cremados e dispersos nos arredores de Berlim.[3]

Escritos editar

O seu livro In the Face of Death (1948), na versão inglesa, foi publicado postumamente e recolhe as suas meditações, notas, fragmentos do seu diário e cartas, escritas durante os seus seis meses de prisão, e tem sido comparada à obra do Pastor Dietrich Bonhoeffer, Letters and Papers from Prison. É a primeira parte de uma trilogia que inclui Committed to the Earth and The Mighty God, publicadas posteriormente. Uma colectânea dos seus escritos da prisão seria publicada com o título de Advent of the Heart (1984), reunindo os sermões e escritos da prisão de 1941 a 1944. A edição das suas Obras Completas (1982-1988), em 5 volumes, foi coligida pelo Padre Roman Bleistein, S.J.. Thomas Merton consideraria as suas palavras escritas na prisão como "as mais incisivas meditações cristãs dos nossos dias" e considerá-lo-ia um místico na introdução à edição norte-americana dos seus Prison Meditations, publicada em 1963.

Referências editar

Ligações externas editar