Análise documental

A Análise Documental é uma técnica de recolha dados que abrange diversos tipos de documentos, também pode ser utilizada como técnica complementar de entrevistas, questionários e observação. A Análise Documental, conforme Cellard (2008, p. 303) é o “momento de reunir todas as partes – elementos da problemática ou do quadro teórico, contexto, autores, interesses, confiabilidade, natureza do texto, conceitos-chave”. [1]

Mas, Cellard (2008, p. 299) defende que “continua sendo capital usar de prudência e avaliar adequadamente, com um olhar crítico, a documentação que se pretende analisar. Essa avaliação crítica constitui, aliás, a primeira etapa de toda análise documental”. [2]

Estabelecida uma conceção terminológica comum, partimos para o objeto principal da pesquisa documental, o próprio documento.

Definição de Documento editar

Definição de documento segundo Cellard (2008, p. 296), até ao final do século XIX, “a noção de documento aplicava-se quase exclusivamente ao texto, e, particularmente, aos arquivos oficiais”. [3] Com o tempo o conceito de documento evoluiu e ganhou uma noção mais globalizante acerca do que seria tido como documento ou fonte documental “a história social ampliou consideravelmente a noção de documento. De facto, tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de testemunho, é considerado como documento ou fonte” [3]. Nesse sentido, podemos citar textos escritos, documentos iconográficos, cinematográficos, objetos do quotidiano, elementos folclóricos, músicas, etc. No limite, poder-se-ia até qualificar de ‘documento’ um relatório de entrevista, ou anotações feitas durante uma observação” [4]

Documentos pessoais e não pessoais na investigação educacional editar

Na perspetiva de Amado (2014, p. 276): “os documentos pessoais distinguem-se, desde logo, de outro tipo de documento pelo facto de se estabelecer uma relação muito direta com o seu autor, a sua biografia, o contexto de vida, entre outros indicadores.” [5]. Há um conjunto muito variado de produções pessoais, em formato escrito, oral ou gráfico como por exemplo: autobiografias, cartas pessoais, diários, evocações de sonhos, poemas, portefólios. Citando Amado (2014, p. 276): “os objetivos do estudo dos documentos pessoais podem ser muitos e variados, e esta variedade tem logo, na sua base, a diversidade de disciplinas e de perspetivas teóricas de abordagem .” [5].

Em pedagogia servem para explorar situações muito específicas relatadas por quem as vivencia, serve também para recolher provas pormenorizadas de como as vivências sociais são interpretadas pelos seus protagonistas e quais os significados que os diferentes fatores assumem para os mesmos.

Em relação aos não pessoais, existe uma grande diversidade deste tipo de documentos. Temos como exemplo os textos oficiais, as atas, os regulamentos, os dados estatísticos sobre um determinado fenómeno, as fichas de inscrição, as fichas de avaliação e a caderneta do aluno. Estes documentos para além de fornecerem informação importante possibilitam compreender os fenómenos complexos que estão na génese da sua criação.

Fontes de documentos editar

Seja qual for o objeto de investigação do pesquisador, é imprescindível o uso de fontes documentais para fundamentar a pesquisa. De acordo com Cellard (2008, p. 297), os documentos podem ser classificados e divididos em arquivos públicos, arquivos privados e fontes estatísticas. [4]

  • Arquivos Públicos: São geralmente volumosos e organizados segundo ordens de classificação e, apesar do caráter público, nem sempre estão acessíveis. São exemplos de arquivos públicos:
    • Documentos Oficiais: Ordens régias, Leis, Ofícios, Anuários, Alvarás, …
    • Publicações parlamentares: Atas, debates, projetos de lei, relatórios, …
    • Documentos jurídicos oriundos de cartórios: Registo de nascimentos, Registo de óbitos, Escrituras de compra e venda, Hipotecas/Falências, Testamentos, Inventários, …
  • Arquivos Privados: Embora não pertençam ao domínio público, também passam por processos de arquivo sob a guarda de um depósito, com uma classificação e um tratamento concernente à conservação. Poderão distinguir-se entre ‘’’domicílios, instituições de ordem particular e instituições de ordem pública, pela diferença de material que se mantém.
    • Domicílios particulares: correspondência, memórias, diários, autobiografias etc.
    • Instituições de ordem particular: tais como bancos, empresas, sindicatos, partidos políticos, escolas, igrejas, associações e outros, onde se encontram: registos, ofícios, correspondência, atas, memoriais, programas, comunicados etc.
    • Instituições públicas: Polícia, Instituição Militar, Hospitais, … podendo-se recolher dados referentes a criminalidade, detenções, acidentes, registo de automóveis, doenças, hospitalizações; registo de eleitores, etc.
  • Fontes Estatísticas: As fontes estatísticas abrangem variados aspetos das atividades de uma sociedade, como características da população, distribuição da população, fatores económicos, meios de comunicação, etc.

Tipos de documentos editar

Na análise documental, a fonte de recolha de dados está restringida a documentos, de vários tipos, que poderão ser organizados em três variáveis: documentos escritos ou outros; primários ou secundários; contemporâneos ou retrospetivos. [6].

Documentos escritos editar

  • Primários - Compilados na ocasião pelo autor.
    • Contemporâneos - Exemplos: documentos públicos, publicações parlamentares e administrativas, estatísticas, documentos de arquivos privados, cartas, contratos.
    • Retrospetivos – Exemplos: diários, autobiografias, relato de visitas a Instituições, relato de viagens.
  • Secundários- Transcritos de fontes primárias contemporâneas.
    • Contemporâneos – Exemplos: relatórios de pesquisa baseados trabalho de campo de auxiliares; Estudo histórico recorrendo aos documentos originais; Pesquisa estatística baseada em dados do recenseamento; Pesquisa usando a correspondência de outras pessoas.
    • Retrospetivos – Exemplos: Pesquisa recorrendo a diários ou a autobiografias.

Outros editar

  • Primários – Feitos pelo autor.
    • Contemporâneos- Exemplos: fotografias, gravações em fita magnética, gráficos, mapas e outras ilustrações.
    • Retrospetivos – Exemplos: Objetos, Gravuras, Pinturas, Desenhos, Fotografias, Canções, Vestuário e Folclore.
  • Secundários - Feitos por outros.
    • Contemporâneos – Material cartográfico, Filmes comerciais, Rádio, Cinema, Televisão.
    • Retrospetivos – Filmes, Rádio, Cinema e Televisão.

Vantagens e desvantagens da análise documental editar

Vantagens editar

Para Cellard (2008): [7].

O documento escrito constitui, portanto, uma fonte extremamente preciosa para todo
pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer
reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele
represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas.
Além disso, muito frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades
particulares ocorridas num passado recente.(p.195)


Na opinião de Quivy & Campenhout (1998, p. 203) “evita o recurso abusivo às sondagens e aos inquéritos por questionário”. [8].

Segundo Gil (2008, p. 147) permite informação em “quantidade e qualidade suficiente para evitar a perda de tempo e o constrangimento que caracterizam muitas das pesquisas em que os dados são obtidos diretamente das pessoas”. [9]

Desvantagens editar

Há limites e problemas no uso deste tipo de recolha de dados segundo Quivy & Campenhout (1998): [10].

Nem sempre é possível o acesso aos documentos. Em certos casos o investigador tem
efetivamente acesso aos documentos mas, por uma razão ou por outra (caráter confidencial,
respeito pela vontade de um interlocutor) não pode divulgar as informações. Os numerosos
problemas de credibilidade e de adequação dos dados às exigências da investigação obrigam
por vezes o investigador a renunciar a este método no decurso do seu trabalho. (p.204)

Bibliografia editar

Aires, Luísa (2015). Paradigma qualitativo e práticas de investigação educacional. Universidade Aberta.

Amado, J. (Coord.) (2014, 2.ª ed.). "Manual de investigação qualitativa em educação". Imprensa da Universidade de Coimbra.

CELLARD, A. A Análise Documental. In: POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 295-316.

Gil, A. (2008, p.147). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. Editora Atlas S.A.

Lakato & Marconi, (2003), Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª Edição. Editora Atlas S. A.

POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 295-316.

Quivy, R. & Campenhout, L. Manual de investigação em ciências sociais. Gradiva, 1998.

Referências

  1. CELLARD, A. A Análise Documental. In: POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 303.
  2. CELLARD, A. A Análise Documental. In: POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 299.
  3. a b CELLARD, A. A Análise Documental. In: POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 296.
  4. a b CELLARD, A. A Análise Documental. In: POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 297.
  5. a b Amado, J. (Coord.) (2014, 2.ª ed.). "Manual de investigação qualitativa em educação". Imprensa da Universidade de Coimbra.p.276.
  6. Lakato & Marconi, (2003), Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª Edição. Editora Atlas S. A.
  7. CELLARD, A. A Análise Documental. In: POUPART, J. et al. (Orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p.195.
  8. Quivy, R. & Campenhout, L. Manual de investigação em ciências sociais. Gradiva, 1998. p. 203.
  9. Gil, A. (2008, p.147). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. Editora Atlas S.A.p.147
  10. Quivy, R. & Campenhout, L. Manual de investigação em ciências sociais. Gradiva, 1998. p. 204.