Banho de cheiro

mistura milagrosa de ervas aromáticas e essências para ritual de purificação e celebração
 Nota: Não confundir com Banho de Cheiro.

O banho de cheiro é uma mistura ritualística de purificação e de comemoração, infusão a base de ervas aromáticas e essências vegetais maceradas (essência floral) considerada popularmente encantada (milagrosa) na região norte do Brasil,[1] usada desde o século XIX para a atração de aspectos positivos (emocional, financeiro, espiritual);[2] uso em especial nas celebrações: da festa junina,[3] festa religiosa (Círio de Nazaré) e, do reveion no estado do Pará.[4]

Banho de cheiro
Características
Classificação mistura
xamanismo
(Essência floral
Medicamento fitoterápico)
Fabricação/Uso Maceração, infusão
Localização
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Uma infusão que mistura folhas maceradas com raízes e galhos aromáticos ralados, onde os os ingredientes mais conhecidos são: arruda, lavanda, patchouli, cumaru, alecrim, baunilha, manjerona, açucena, louro amarelo, jasmim, priprioca, manjericão e, pataqueira.[3][5]

Uso editar

É uma prática ritualística muito popular na região norte do Brasil para atrair felicidade, prospreridade e, saúde,[2] ao praticante no ano vindouro.[1] O banho é comercializado na maior feira da América Latina,[6][7][8] na banca das "erveiras" do Mercado do Ver-o-peso (situado na cidade brasileira de Belém do Pará),[1][4] como um "kit de ano novo" formado por duas garrafas, uma com o banho de descarrego (proteção das energia negativas) e outra com o banho de cheiro (carregado de energias positivas).[1]

O uso do "kit de ano novo", primeiramente pega-se a garrafa de descarrego e dilúa em balde de água, para então ser usado por toda a família. Após um banho normal, joga-se o preparo do baldo no corpo do pescoço para baixo, sem exagerar.[1] Em seguida a pessoa sai de casa ao vento, para este levar a ruindade.[1] Ao voltar a casa, repete-se o processo (toma outro banho) para afastar o mau-olhado, preparando-se para o banheiro cheiroso, próximo a meia-noite do reveion. Após o banho com a garrafa de atração, deve secar-se naturalmente.[1]

O banho de cheiro pode ser considerado um "remédio para alma", além de caracterizar um importante elemento da cultura e do imaginário tradicional paraense. São exemplos de banhos de cheiro comercializados no mercado do Ver-O-Peso: ‘Chega-te a mim’; ‘amansa corno’; ‘joga-te aos meus pés’; ‘faz querer quem não me quer’.[9]

A feira do Ver-o-Peso conta com aproximadamente 60 barracas de ervas de cheiro comandada pelas erveiras, onde esta tradição passa de mãe para filha.[3]

Saber tradicional editar

O saber tradicional é um produto histórico resultado do modo de vida de uma população tradicional (intelecto coletivo ou intelecto cultural), de acordo com o relacionamento com a biodiversidade em que está inserida.[10] Este saber se reconstrói na transmissão oral entre as gerações e, possui uma vísivel aplicação prática na sociedade.[10]

Referências editar

  1. a b c d e f g Rezende, Thais (31 de dezembro de 2012). «Banho de cheiro do Ver-o-Peso atrai sorte e amor para o Ano Novo». G1 Pará. Consultado em 26 de abril de 2023 
  2. a b Fernandes, Caroline (2008). Tema Identidade. «História de vendedoras: arte e visualidade no Brasil» (PDF). Encontro da Associação Nacional de História (Anpuh Rio). Revista Brasileira de História da Anpuh-Rio: 7. Consultado em 25 de novembro de 2021 
  3. a b c Belém, Agência. «Ver-o-Peso mantém a tradição do banho de cheiro no Dia de São João». Agência Belém de Notícias. Consultado em 26 de abril de 2023 
  4. a b admin (13 de julho de 2017). «Priprioca: tipicamente brasileira, considerada como a raiz que vale ouro». Coisas da Roça. Consultado em 25 de novembro de 2021 
  5. Fernandes, Caroline (2008). Tema Identidade. «História de vendedoras: arte e visualidade no Brasil» (PDF). Encontro da Associação Nacional de História (Anpuh Rio). Revista Brasileira de História da Anpuh-Rio: 7. Consultado em 25 de novembro de 2021 
  6. «Reforma do Ver-o-Peso é urgente e necessária ao turismo e cultura de Belém». Rede Pará. Consultado em 3 de março de 2021 
  7. Daniel Ribeiro. «Mercado Ver-o-Peso, em Belém, ganha vida de madrugada». UOL Viagem. Consultado em 11 de agosto de 2013 
  8. Mayara Maciel (3 de junho de 2015). «Plantas Aromáticas do Ver-o-Peso». Museu Goeldi. Consultado em 11 de julho de 2015 
  9. Maués, Paula Haber (2014). O valor que o Ver-O-Peso tem. Programa de Pós Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS Mestrado em Museologia e Patrimônio. Consultado em 03 de maio de 2023.
  10. a b Costa, Nivia Maria Vieira Costa; Melo, Lana Gabriela Guimarães; Costa, Norma Cristina Vieira (10 de fevereiro de 2018). «A Etnofísica da Carpintaria Naval em Bragança - Pará - Brasil». Amazônica - Revista de Antropologia (1): 414–436. ISSN 2176-0675. doi:10.18542/amazonica.v9i1.5497. Consultado em 26 de julho de 2023. Resumo divulgativo 

Ver também editar