Base de Schauder

base de um espaço vetorial

O conceito de base de Schauder é semelhante ao de base usual ou base de Hamel, porém diferencia-se pelo fato de bases de Hamel representarem os elementos de um espaço vetorial através de combinações lineares finitas (aplicando-se portanto a espaços de dimensão finita), enquanto as bases de Schauder podem descrever os elementos de um espaço de dimensão infinita. Em dimensão finita as bases de Schauder coincidem com as bases de Hamel.

Definições editar

Seja   um espaço vetorial normado infinito-dimensional. Uma sequência   em   é chamada de base de Schauder de   se para todo   existir uma única sequência de escalares  , chamadas as coordenadas de  , tal que  .[1]

Dizemos que uma sequência   é uma sequência básica em um espaço de Banach   se   é uma base de Schauder para  .

Propriedades editar

A convergência na definição de base de Schauder deve ser entendida com relação à topologia da norma.

Por se tratar de uma soma infinita, é importante observar que a ordem dos elementos é relevante em bases de Schauder. Nada garante que, ao permutarmos os elementos de  , a série infinita que define cada elemento do espaço em termos da base continue convergindo, e portanto que sequência na nova ordenação continue sendo uma base. No caso especial em que possua essa propriedade (convergência incondicional), a base de Schauder será chamada de base Incondicional.[2]

Algumas Consequências Relevantes editar

  • Toda base de Schauder de um espaço normado é linearmente independente.
  • Teorema de Mazur: Todo espaço de Banach   de dimensão infinita contém um subespaço fechado de X de dimensão infinita com uma base de Schauder.

Exemplos de Espaços com/sem Bases de Schauder editar

Exemplo 1: Consideremos os espaços de sequência   e  , para  . Seja   a sequência contida em   e  , para  , tal que para cada     onde   e   se  . A sequência   é uma base de Shauder para os espaços   e  , para  .[3]

Exemplo 2:   não possui uma base de Schauder, uma vez que não é um espaço separável.

Separabilidade editar

Seja   um espaço de Banach. Se   possui uma base de Schauder, então   é um espaço separável.

Demonstração: Seja   um espaço de Banach. Considere   uma base de Schauder de   tal que   e considere  

Seja  , e  , com   as coordenadas de  . Então, para todo  , existe   tal que  

Uma vez que  , e   é denso em  , existe   tal que  .

Assim, temos que

 

Logo, provamos que   contém um subconjunto enumerável denso em  , e portanto   é separável.

Bases de Schauder Incondicionais editar

Uma base de Schauder   de um espaço de Banach   é dita incondicional se, para todo  ,  , converge incondicionalmente, isto é, se a série   converge qualquer que seja a permutação   dos índices.

Exemplos editar

  • As bases canônicas dos espaços de sequências   e  ,   são bases incondicionais.
  • Todo sistema ortonormal maximal em um espaço de Hilbert separável   é uma base incondicional em  .
  • O sistema de Haar é uma base de Schauder incondicional em  ,  . O espaço  , por sua vez, não possui base incondicional.[4][5]

O "Problema da Base Incondicional" editar

Sabemos que todo espaço de Banach   de dimensão infinita contém um subespaço fechado de dimensão também infinita com uma base de Schauder. É natural questionarmos então se todo espaço de dimensão infinita contém algum subespaço fechado de dimensão infinita com base incondicional. Esse era o chamado Problema da Base Incondicional, formulado desde o início da década de 50, e solucionado somente em 1993 por Timothy Gowers e Bernard Maurey,[6] introduzindo o conceito de espaços hereditariamente indecomponíveis (e construindo um caso particular de espaço, chamado Espaço GM, que provaram ser desse tipo). Um bom apanhado histórico e conceitual do Problema da Base Incondicional pode ser encontrado em[7]

Bases Limitadamente Completas e Bases Contráteis editar

Base Limitadamente Completa editar

Uma base   de um espaço de Banach   é limitadamente completa se, para toda sequência   de escalares tais que as somas parciais   são limitadas em  , então a sequência   converge em  .[4]

Base Contrátil editar

Seja   uma base de Schauder de um espaço de Banach  , e   a sequência dos funcionais coordenadas de  . Dizemos que   é uma base contrátil se  , em que   é o espaço dual de  .[4]

Exemplos editar

  • A base canônica do espaço  ,  , é limitadamente completa.
  • A base canônica do espaço  , no entanto, não é limitadamente completa.
  • Ambas as bases canônicas de   e   são contráteis.

Conexão com Espaços Reflexivos editar

Robert C. James, em 1957, caracterizou reflexividade em espaços de Banach relacionando o conceito com aquele de bases de Schauder através do teorema que é conhecido como Teorema de James:

Teorema: Seja   um espaço de Banach. Se X possui uma base  , então   é reflexivo se, e somente se,   é contrátil e limitadamente completa.


Em 1967, M. Zippin provou os seguintes resultados relacionados ao mesmo tema:

Teorema: Seja   um espaço de Banach com base  . Se todas as bases de   são contráteis, então   é um espaço reflexivo.

Teorema: Seja   um espaço de Banach com base  . Se todas as bases de   são limitadamente completas, então   é um espaço reflexivo.


Conceitos Relacionados editar

Base de Hamel editar

Dizemos que  ,   é uma base de Hamel de um espaço vetorial   se, para todo  , existe uma única combinação de escalares   tal que  .

Referências

  1. Fabian, Erwin; Habala, Petr; Hájek, Petr; Santalucía, Vicente; Pelant, Jan; Zizler, Václav (2001). Functional Analysis and Infinite-Dimensional Geometry. [S.l.]: Springer-Verlag. ISBN 978-1-4419-2912-9 
  2. Lindenstrauss, Joram; Zafriri, Lior (1977). Classical Banach Spaces I, II. [S.l.]: Springer-Verlag. ISBN 3-540-60628-9 
  3. Júnior, Nelson (2008). Bases de Schauder em Espaços de Banach. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado (UFRJ). 24 páginas 
  4. a b c {cite "Lindenstrauss"}.
  5. Singers, Ivan (1970). Bases in Banach Spaces I. [S.l.]: Springer-Verlag 
  6. Gowers, W. Timothy; Maurey, Bernard (6 de maio de 1992). «The unconditional basic sequence problem». arXiv:math/9205204  
  7. Pietsch, Albrecht (2007). History of Banach Spaces and Linear Operators. [S.l.]: Birkhauser 
  • de Oliveira, César (2008), Introdução à Análise Funcional, ISBN 978-85-244-0453-5, IMPA .
  • Kreyszig, Erwin (1989), Introductory Functional Analysis with Applications, ISBN 978-0471504597, Wiley .
  • Botelho, Geraldo; Pellegrino, Daniel; Teixeira, Eduardo (2015), Fundamentos de Análise Funcional, ISBN 9788583370680, Textos Universitários, SBM .