Tajura (em árabe: تاجوراء‎; romaniz.:Tājūrā) é uma cidade-oásis da Líbia,[1] situada no distrito de Trípoli. Entre 1983 e 1987, foi capital do distrito de Tajura, e entre 2001 e 2006/2007, foi capital do distrito de Tajura e Arba.[2] Ela teve papel relevante na história de Trípoli, situada a poucos quilômetros a oeste, sobretudo durante o período de ocupação pelo Império Otomano. Desde a década de 1980, abriga um Centro de Pesquisa Nuclear, criado em parceria com a União Soviética e que há anos é supervisionado pela Agência Internacional de Energia Atômica. Desde 2000, há um Centro de Pesquisa em Biotecnologia criado em parceria com a UNESCO e desde 2011, Tajura foi palco de inúmeros conflitos oriundos da Guerra Civil Líbia daquele ano e dos conflitos subsequentes deflagados após a morte de Muamar Gadafi.

Tajura

تاجوراء

  Cidade  
Mesquita de Murade Aga em Tajura
Mesquita de Murade Aga em Tajura
Mesquita de Murade Aga em Tajura
Localização
Tajura está localizado em: Líbia
Tajura
Localização de Tajura
Coordenadas 32° 52' 54" N 13° 20' 23" E
País  Líbia
Região Tripolitânia
Distrito Trípoli
Oásis de Tajura em 1913

História editar

Em Tajura foram escavados um mosaico no qual há uma representação de Netuno e uma estátua de pequenas proporções.[3] Tajura é habitada por berberes sobretudo oriundos dos huaras, um importante ramo tribal.[4] Desde a Antiguidade, também foi habitada por judeus. Em 1510, quando Trípoli foi capturada pela Espanha, Tajura permaneceu sob controle dos muçulmanos e os judeus da cidade não precisaram ser exilados como seus conterrâneos de Trípoli.[5] Em 1531, o Império Otomano tinha base em Tajura e Barba Ruiva usou-a para operações contra os cristãos em Trípoli. Nessa época estabeleceu-se ali Raxide, príncipe do Reino Haféssida, que após rebelar-se contra seu irmão Amade, procurou ajuda dos turcos em Argel.[6]

Tajura se torna então centro de refugiados políticos e tribais do território haféssida que tinham a intenção de lutar, sob comando turco, contra os haféssidas e cristãos. Em 1536, Caramane, o oficial turco de Tajura, tentou capturar Trípoli; construiu um forte nas imediações e se preparou para bloquear os cavaleiros dentro das muralhas até se renderem, mas um surto de praga obrigou-o a levantar o cerco. Após o Cerco de Trípoli de 1551, o capitão paxá Sinane, que liderou o ataque, confiou o governo da cidade recém-capturada para Murade, oficial que administrou Tajura desde 1539.[6] Sob Jafar Paxá (r. 1586–1631), Iáia Suaidi rebelou-se contra a autoridade turca, capturou Misurata e Tajura e sitiou Trípoli, mas sua revolta foi suprimida.[7] Em 1911, na Guerra Ítalo-Turca de 1911-1912, o oásis foi bombardeado por tropas italianas lideradas por Giulio Gavotti.[8]

Na década de 1930, os italianos escolherem as planícies de Tajura, as colinas de Homs, os montes de Taruna e as planícies de Jafara para se assentarem.[9] Tajura é sede do Centro de Pesquisa Nuclear. Em 1979, como resultado da cooperação nuclear soviete-líbia, concluiu reator de pesquisa de 10 MW nessa cidade. Na década de 1980, foi feita a conversão não declarada em escala laboratorial de urânio. Um técnico estrangeiro participou no projeto para criar programa para produzir centrífugas de gás para enriquecer urânio. Entre 1984-1990, o país produziu dúzias de óxido e urânio metálico, alguns deles irradiados no reator de Tajura para produzir radioisótopos; em 8 de março de 2004, a Rússia, Estados Unidos e Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) removeram 16 quilos de urânio enriquecido[10] e em 2011 a AIEA realizou uma inspeção em Tajura e num armazém em Saba que armazena bolo amarelo.[11] Em 2000, foi lançado projeto no âmbito da cooperação entre a UNESCO e a Líbia que resultou na criação do Centro de Pesquisa em Biotecnologia (CPB) em Tajura.[12]

Guerra Civil Líbia editar

Em fevereiro de 2011, na Guerra Civil Líbia, manifestantes protestaram contra Muamar Gadafi em Tajura.[13] Judith Drotar, um dos milhares de expatriados estrangeiros que fugiram do país, afirmou que havia snipers em telhados de residências da cidade [14] e um jornal que antes apoiava o governo relatou que mercenários africanos estavam disparando contra civis desarmados; a CNN apurou a afirmação, mas não confirmou-a.[15] Em março, autoridades líbias afirmaram que uma base militar na cidade foi atacada e que Gadafi bombardeou área residencial, matando muitos civis.[16][17] Civis também disseram que a polícia especial invadiu casas e capturou vários jovens.[18]

Em 22 de agosto, o porta-voz Bani afirmou que insurgentes de Zauia receberam reforços de Misurata e Zlitene, que aportaram em Tajura.[19] Gadafi instou seus apoiadores a marcharem para expurgar "oficiais dos colonizadores" (referência a insurgentes apoiados pela OTAN), pois destruiriam Trípoli.[11] Além disso, deu entrada no hospital para tratamento cardíaco em Tajura, mas não se sabe se foi para tratamento médico ou se para conseguir abrigo.[20] Os confrontos em agosto em Tajura acarretaram a morte de ao menos 123 insurgentes.[21]

Em 2013, membros do Estado Islâmico atacaram com explosivos mausoléu do século XVI.[22] Em novembro, o primeiro-ministro Ali Zidan (2012–2014) se envolveu nos confrontos deflagados em Tajura entre milícias locais e milícias de Misurata.[23] Em agosto de 2014, um chefe de polícia de Trípoli, Maomé Suissi, dirigiu-se a Tajura para reunião do conselho municipal, mas ao retornar foi atacado e morto.[24] Em 4 de dezembro, um grupo de mais de 100 refugiados, a maioria deles gambianos, partiu da África em direção a Europa a partir de Tajura;[25] Sábrata, Zauia, Trípoli, Tajura e Garabuli são alguns dos principais pontos no litoral líbio onde refugiados são traficados à Europa dentro de contêineres da China e Turquia.[26] Em agosto de 2016, uma brigada tajurana dirigiu-se a Sirte para defendê-la dos combatentes do Estado Islâmico.[27] Em 24 de junho de 2017, a Agência de Controle de Imigração em Tajura disse que locais encontraram 5 corpos do que pensaram ser imigrantes ilegais.[28]

Referências

Bibliografia editar

  • Abun-Nasr, Jamil M. (1987). A History of the Maghrib in the Islamic Period. Cambridge: Cambridge University Press 
  • Gianni, Letizia; Gerardi, Amedeo (2003). Libia - Tripoli, Bengasi, Ghadames, l'Akakus, il Deserto del Fezzan, Leptis, Sabratah, Cirene. Milão: Touring Club Italiano 
  • Ha-Cohen, Mordecaï (1993). The Book of Mordechai: A Study of the Jews of Libya. Londres: Darf Publishers 
  • Ziadeh, Nicola A. (1958). Sanūsīyah: A Study of a Revivalist Movement in Islam. Leida: Brill Archive