Caso Janaína dos Santos

O caso Janaína dos Santos refere-se ao crime de escravidão moderna - sequestro, tortura e cárcere privado - cometido contra Janaína dos Santos por sua prima e madrinha Francisca Danielly Mesquita Medeiros, que já havia sido candidata a deputada federal no Piauí nas eleições de 2018. O caso aconteceu em Teresina, capital do Piauí, e Francisca está presa preventivamente, após Janaína ter sido resgatada em 23 de maio de 2023. [1] [2] [3]

Caso Janaína dos Santos
Ficheiro:Teresina Bairro Ilhotas.JPG

Bairro Ilhotas, Teresina
Local do crime Teresina
Tipo de crime cárcere privado
Vítimas 01

"Foi sequestrada pela madrinha", disse o repórter que apresentou o caso no Domingo Espetacular de 28 de maio. [4]

Biografias editar

Vítima editar

Filha de Maria do Socorro e Valdemar, Janaína dos Santos tinha uma vida normal em Chapadinha, no Maranhão, onde vivia com os pais e seis irmãos mais novos e frequentava a escola. Ela tinha 12 anos de idade quando Francisca Danielly, que era sua madrinha e prima de sua mãe, visitou a família durante a Semana Santa e a convidou para passar alguns dias em Teresina. [1] [5]

Acusada editar

Nascida em Chapadinha, Francisca Danielly Mesquita Medeiros, mais conhecida como Danielly Medeiros, tem dois dois filhos, um deles com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela é fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, empresária da área de reciclagem e servidora pública e já havia sido candidata a deputada federal no Piauí nas eleições de 2018. Em 2020 ela tentou uma candidatura como vereadora em Teresina pelo PSD, mais foi considerada "inapta". [1] [2] [6]

Crime editar

Uma vez na casa da madrinha, que morava no bairro Ilhotas, no centro-sul de Teresina, Janaína passou a se obrigada a realizar todas as tarefas domésticas na casa sem qualquer remuneração e sem qualquer dia de descanso. Ela também sofria agressões físicas e psicológicas e era impedida de sair de casa e se relacionar com outras pessoas, além de nunca ter ido a um hospital, nem quando teve um problema renal, e nunca ter frequentado a escola. "Eu sentia tristeza, chorava sozinha, não gostava da minha vida", disse Janaína, que também relatou que havia tentado fugir algumas vezes e que numa destas ocasiões, ao ser pega, Francisca havia ameaçado arrancar seu coração. "O pior dia foi na segunda-feira [22 de maio], quando ela ameaçou arrancar meu coração. Ela quebrou um casco de cerveja, chegou bem perto de mim e disse que ia tirar meu coração", disse a vítima. [5]

Janaína também era a responsável por cuidar dos filhos da acusada, incluindo o menino com TEA, que ela levava para para tratamento médico no Centro Integrado de Reabilitação (Ceir). [7] [8]

Foi o namorado de Janaína, o mecânico Osmar Rodrigues, que ajudou a desvendar o crime libertar a vítima. Eles haviam se conhecido dois meses antes no caminho que Janaína fazia quando levava o menino autista para tratamento e quando Osmar deu a ela um telefone celular para poderem se comunicar, Francisca levou o aparelho de volta e mandou o mecânico se afastar da jovem. Osmar, que já conhecia a situação na qual Janaína vivia, temendo perder o contato com a namorada, procurou os familiares da vítima, a que contou toda a situação, e a polícia. [7] [8] [4]

Investigações e prisão editar

Ao saberem do caso, policiais comandados pelo delegado Odilo Sena foram até a casa de Francisca no dia 23 de maio onde encontraram a vítima. Janaína tinha então 27 anos e havia vivido 15 anos em regime análogo à escravidão. “Ao invés dela entregar essa criança de volta, ela veio pra Teresina e a transformou em uma ‘escrava’. O trabalho dela é cuidar de uma criança autista, cuidar de uma casa enorme. Não tinha direito a nada, o único direito dela é trabalhar”, disse o delegado, ainda afirmando que se tratava de uma "perversidade". [8]

No Domingo Espetacular Sena disse: "era um calabouço psicológico. Ela tinha a chave da casa e podia pedir ajuda, mas não conseguia, por terror e medo da madrinha". [4]

A mãe da vítima relatou ao Domingo Espetacular que quando havia procurado a menina, Francisca a havia ameaçado de prisão. "Fiquei com medo". Adelmo, pai da vítima, também disse que tinha ficado com medo e foi avisado pela acusada de que Janaína não queria mais contato com os pais. "Fiquei com medo, porque eles são poderosos. Eles tinham influência". [4]

O procurador-chefe do MPT-PI, Edno Moura, também acompanha o caso. "Foi uma situação que iniciou quando a mulher ainda era menor de idade, ou seja, trabalho infantil, cárcere privado de trabalhadora, jornada exaustiva, falta de pagamento pelo trabalho realizado ao longo dos 15 anos, cerceamento do direito à educação, maus tratos. Enfim, vamos apurar todas as ilicitudes", disse. [9]

Depoimento da acusada e prisão editar

Francisca negou os maus tratos e que Janaína vivesse em estado análogo à escravidão, mas no dia 26 de maio o juiz Valdemir Ferreira converteu a prisão temporária em preventiva, negando o pedido de um habeas corpus para prisão domiciliar. [4]

Referências

  1. a b c «Conheça a ex-candidata a deputada federal presa por manter afilhada em situação análoga à escravidão por 15 anos em Teresina». G1. 23 de maio de 2023. Consultado em 26 de maio de 2023 
  2. a b «Empresária é presa por escravizar afilhada por 15 anos no Piauí | Metrópoles». www.metropoles.com. 26 de maio de 2023. Consultado em 28 de maio de 2023 
  3. «Ex-candidata a deputada federal que manteve afilhada em cárcere por 15 anos tem prisão preventiva decretada». G1. 26 de maio de 2023. Consultado em 29 de maio de 2023 
  4. a b c d e R7.com (28 de maio de 2023). «Jovem é mantida em cárcere privado por 10 anos». R7.com. Consultado em 29 de maio de 2023 
  5. a b Gomes, Giovanna (26 de maio de 2023). «Mulher presa por manter afilhada em situação análoga à escravidão tem liberdade negada». Aventuras na História. Consultado em 28 de maio de 2023 
  6. «Poder360 | DANIELLY MEDEIROS». eleicoes.poder360.com.br. Consultado em 29 de maio de 2023 
  7. a b «Namorado foi 'anjo da guarda' de mulher mantida em situação análoga à de escrava por 15 anos; vítima nunca estudou e era ameaçada de morte». G1. 24 de maio de 2023. Consultado em 26 de maio de 2023 
  8. a b c «Jovem é mantida em situação análoga à escravidão há 15 anos por madrinha em Teresina; suspeita é presa». G1. 23 de maio de 2023. Consultado em 26 de maio de 2023 
  9. «Empresária suspeita de manter afilhada em cárcere privado e trabalho escravo seguirá presa». CidadeVerde.com (em inglês). Consultado em 26 de maio de 2023