Caso Junko Furuta

Jovem japonesa vítima de rapto, violação, tortura e assassinato.

Junko Furuta (古田 順子 Furuta Junko?) foi uma estudante japonesa de ensino médio que foi sequestrada, estuprada, torturada e, posteriormente, assassinada. Esse incidente ficou conhecido como Caso da colegial presa em concreto (女子高生コンクリート詰め殺人事件 Joshikôsei konkurito-zume satsujin-jiken?), por seu corpo ter sido descoberto em um tambor de concreto. O abuso foi perpetuado principalmente por quatro adolescentes (Hiroshi Miyano, Jô Ogura, Shinji Minato e Yasushi Watanabe) em um período de 44 dias, entre 25 de novembro de 1988 a 4 de janeiro de 1989.[1] O crime foi descrito como o pior caso de delinquência juvenil no Japão do pós-guerra.[2] As sentenças dos condenados variaram de detenção juvenil a 20 anos de prisão.

Caso Junko Furuta

Foto de Junko no anuário de sua escola, em 1 de janeiro de 1988.
Local do crime Distrito de Ayase, Adachi, Tóquio, Japão
Coordenadas 35º 47' N 139º 48' L
Data 25 de novembro de 19884 de janeiro de 1989
20:30 – Aproximadamente 18:00 (GMT +9)
Tipo de crime Assassinato por tortura, assassinato de menor, sequestro, rapto de menor, estupro de menor, estupro coletivo
Arma(s) Várias
Vítimas Junko Furuta (17 anos)
Mortos Junko Furuta (17 anos)
Réu(s)
  • Hiroshi Miyano
  • Nobuharu Minato (agora Shinji Minato)
  • Yasushi Watanabe
  • Jô Ogura (agora Jô Kamisaku)
Advogado de defesa Veredito

Todos os quatro se declararam culpados

Condenação

Juiz Ryuuji Yanase
Situação Cometer lesão corporal resultando em morte.
Consequência Todos os acusados se declararam culpados por lesão corporal resultando em morte.

Sentenças Miyano: Prisão por 20 anos. Minato: Prisão de 5 a 9 anos. Watanabe: Prisão de 5 a 7 anos. Ogura: 8 anos em detenção juvenil.

Litigação: pais de Minato foram obrigados por processo civil a pagar ¥50 milhões (US$ 370.000; $ 873.498 hoje) em compensação para pais de Furuta.

Criminosos editar

  • Hiroshi Miyano (宮野裕史 Miyano Hiroshi?). Principal culpado. Mudou seu nome para Hiroshi Yokoyama (横山裕史 Yokoyama Hiroshi?)
  • Jô Ogura (小倉譲 Ogura Jô?). Mudou seu nome para Jô Kamisaku (神作譲 Kamisaku Jô?)
  • Shinji Minato (湊伸治 Minato Shinji?)
  • Yasushi Watanabe (渡邊恭史 Watanabe Yasushi?)
  • Tetsuo Nakamura (中村哲夫 Nakamura Tetsuo?)
  • Kôichi Ihara (伊原孝一 Ihara Kôichi?)

Crime editar

Em 25 de novembro de 1988, Miyano e seu amigo Nobuharu Minato perambulavam por Misato, com a intenção de roubar e estuprar mulheres locais. Às 20h30, eles viram Furuta pedalando para casa depois que ela terminou seu trabalho de meio período. Sob as ordens de Miyano, Minato chutou Furuta de sua bicicleta e imediatamente fugiu do local. Miyano, fingindo ser um espectador inocente, se aproximou de Furuta e se ofereceu para levá-la para casa em segurança. Furuta não sabia que Miyano a levava a um armazém próximo, onde ele revelou suas conexões com a Yakuza (embora seu relacionamento com a máfia japonesa não seja algo considerado certo). Miyano ameaçou matá-la enquanto a estuprava no armazém e mais uma vez em um hotel próximo. Do hotel, Miyano ligou para Minato e seus outros amigos, Jô Ogura e Yasushi Watanabe, e se gabou sobre o estupro. Ogura supostamente pediu a Miyano para mantê-la, para que todos pudessem ter uma chance. O grupo tinha uma história de estupro coletivo e recentemente sequestrara e estuprara outra garota, embora ela tenha sido libertada depois,[3] e outros quatro rapazes raptaram Junko, uma jovem do terceiro ano do colegial de Misato, na prefeitura de Saitama, e a mantiveram em cativeiro por 44 dias em uma casa de propriedade dos pais de Kamisaku, localizada em Ayase, no distrito de Adachi, Tóquio.[4][5]

Por volta das 3:00 da manhã, Miyano levou Furuta para um parque próximo, onde Minato, Ogura e Watanabe estavam esperando. Eles disseram a ela que eles sabiam onde ela morava (de um caderno em sua mochila) e que a yakuza mataria sua família se ela tentasse escapar. Ela foi facilmente dominada pelos quatro garotos e levada para uma casa no distrito de Ayase em Adachi, onde foi estuprada em grupo. A casa, que pertencia aos pais de Minato, logo se tornou ponto de encontro regular de gangues.

Para evitar as buscas pela garota, um deles forçou Furuta a ligar para os seus pais e dizer a eles que ela havia fugido de casa, mas que estava com "um amigo" e que não estava em perigo. Kamisaku a obrigou, ainda, a fingir ser a namorada de um dos garotos enquanto seus pais estavam por perto. Junko tentou escapar diversas vezes, implorando para que os pais do jovem a ajudassem, mas eles nada fizeram, aparentemente por medo de retaliações de Yokoyama, que era era supostamente um líder de nível baixo da Yakuza à época e ameaçou usar seus contatos na organização para matar qualquer um que interferisse.

De acordo com os seus depoimentos, os quatro rapazes a estupraram, bateram nela com varas de metal e tacos de golfe, introduziram objetos estranhos (incluindo uma lâmpada de vidro e uma tesoura) em sua vagina, a fizeram comer baratas e beber a própria urina, inseriram fogos de artifício no seu ânus e os acenderam, obrigaram-na a masturbá-los, cortaram seus mamilos com alicates, deixaram cair halteres sobre o seu estômago e a queimaram com cigarros e fluido de isqueiro. Uma das queimaduras foi uma punição por tentar ligar para a polícia. Algum tempo após os primeiros atos de tortura, Junko teria ficado até mesmo incapaz de beber água, vomitando o líquido todas as vezes que tentava. Em certo ponto, suas feridas eram tão graves que, de acordo com um dos rapazes, Junko levava mais de uma hora para rastejar escada abaixo para usar o banheiro. Eles declararam que "possivelmente mais de cem pessoas" sabiam que Junko estava aprisionada lá, mas não ficou claro se elas apenas visitaram a casa enquanto ela estava mantida prisioneira ou se também abusaram dela. Em certo momento após o martírio, ela passou a implorar em diversas ocasiões que a matassem e "terminassem com tudo aquilo".

Em 4 de janeiro de 1989, após perderem uma partida de Mahjong Solitaire, os quatro bateram em Junko com halteres, colocaram fluido de isqueiro em suas pernas, braços, rosto e estômago e puseram fogo nela. Mais tarde naquele dia, ela morreu pelo choque. Os quatro garotos alegaram que não faziam ideia do quão grave era o estado de Junko e que acreditavam que ela "estava fingindo". No dia seguinte, esconderam seu corpo em um tambor de 55 galões preenchido com concreto e puseram o barril num terreno baldio.[6] O tanque foi recuperado em 29 de março.

Prisão e julgamento editar

Quatro criminosos foram detidos e julgados como adultos. A corte manteve suas identidades em sigilo devido à sua menoridade, conforme previsto na legislação japonesa. No entanto, a revista semanal Shūkan Bunshun amplamente divulgou seus nomes verdadeiros, alegando que "direitos humanos são desnecessários para monstros" [7]. Diante da enorme repercussão do crime, a mídia da época exaustivamente divulgou o nome real de Junko, bem como sua história e detalhes pessoais.

Os quatro rapazes alegaram ser culpados de "agressão física seguida de morte", mas não de homicídio. Kamisaku, devido ao seu papel no crime, foi julgado como sub-líder e passou oito anos em prisão juvenil antes de ser solto em agosto de 1999. Em julho de 2004, foi preso por agredir um conhecido que acreditava estar envolvido com sua namorada, usando seu envolvimento no assassinato como pretexto [3]. Kamisaku recebeu uma sentença de sete anos de prisão por esse espancamento.

Em julho de 1990, o líder do crime foi condenado em primeira instância a 17 anos de prisão. Um cúmplice recebeu seis anos, outro quatro, e outro dez anos de prisão. Líder e dois cúmplices apelaram para reduzir suas penas, mas a instância superior aumentou as sentenças de todos. O juiz principal, Ryūji Yanase, explicou que isso ocorreu devido à natureza do crime, seu impacto na família da vítima e na sociedade. O líder foi condenado a 20 anos, a pena máxima exceto prisão perpétua, enquanto os cúmplices tiveram suas penas aumentadas para nove e sete anos.

A família de um dos rapazes vendeu sua casa por cerca de 50 milhões de ienes para pagar uma compensação à família de Junko.

Mídia editar

O caso despertou atenção internacional para o sentenciamento e reabilitação de jovens criminosos, especialmente pelo fato dos rapazes terem sido punidos como adultos, e se tornou uma sensação em massa.

Pelo menos dois livros em japonês já foram escritos sobre o caso.

Um mangá escrito por Fujii Seiji e ilustrado por Kamata Youji foi lançado em 2004, contando em forma de crônicas os acontecimentos do crime.

Um filme explorador, Joshikōsei konkurīto-zume satsujin-jiken (女子高生コンクリート詰め殺人事件 Concrete-Encased High School Girl Murder Case?), sobre o incidente foi rodado pelo diretor Katsuya Matsumura em 1995. Yujin Kitagawa (membro da banda Yuzu) atuou no papel do principal culpado no filme.[7][8] Outro filme, (Concrete コンクリート?) AKA Schoolgirl in Cement, dirigido por Hiromu Nakamura, foi feito em 2004, baseado em um dos livros sobre o caso.

Em 2006, a banda japonesa Visual Kei/rock band the Gazette lançou uma música no seu álbum NIL chamada "Taion" (temperatura corporal); a música é um tributo a Junko.

"As Verdadeiras Histórias Modernas do Bizarro" de Waita Uziga incluem: "Estudante Dentro do Concreto", baseado no caso do assassinato de Junko Furuta.

Referências

  1. «裁判例結果詳細 | 裁判所 - Courts in Japan». courts.go.jp. Consultado em 25 de março de 2022 
  2. «古田順子の生い立ちや両親の現在~飯島愛コンクリート事件関与のデマも総まとめ». NewSee (em japonês). 10 de dezembro de 2019. Consultado em 1 de janeiro de 2020 
  3. Wijers-Hasegawa, Yumi, "Man who killed as child back in court", The Japan Times, 29 de julho, 2004.
  4. Schoolgirl Murder, [1] (in Japanese), Consultado em: 3 de julho, 2009.
  5. Utting, Gerald. "Sales tax creates tempest in a Tokyo teapot." Toronto Star. 3 de abril, 1989. A15. Consultado em 29 de setembro, 2009.
  6. "Rapist, Murderer Given 20-Year Sentence." The Daily Yomiuri. Sunday 13 de julho, 1991. Page 2. Consultado em from LexisNexis. Consultado em 29 de setembro, 2009.
  7. Joshikôsei konkuriito-dume satsujin-jiken. no IMDb.
  8. «Filme mit Beteiligung von Yujin Kitagawa» (em alemão). Consultado em 9 de março de 2008 

Ver também editar

Ligações externas editar

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