Caso da Cidade dos Meninos

O caso da Cidade dos Meninos refere-se às centenas de toneladas de produtos cancerígenos que foram deixadas na década de 1960 pelo governo federal do Brasil no bairro da Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias.[1]

Estudo sobre os riscos para a saúde relacionados a contaminação por pesticidas e métodos de remediação e políticas públicas voltadas à população da Cidade dos Meninos

Remontando à época do Governo Vargas, o orfanato que havia sido criado no local chegou a abrigar mais de 1.200 órfãos.[1] Contudo, no mesmo ano da inauguração do orfanato, o Ministério da Saúde e Educação instalou no mesmo local o Instituto de Malariologia em oito pavilhões que estavam desocupados.[1] O propósito era o de que, ao menos inicialmente, apenas pesquisas sobre malária fossem realizadas no local.[1] Três anos depois, todavia, as instalações passaram a ser usadas para produzir inseticidas organoclorados, como o HCH e o DDT – atualmente proibidos em todo o território nacional – para matar o mosquito que transmite a malária.[1]

Contexto editar

Inicialmente, a Cidade dos Meninos era um complexo composto por moradias e escolas, fixado no município de Duque de Caxias no estado do Rio de Janeiro, idealizado em 1943 por Darcy Vargas para amparar meninas carentes da região.[2] Em 1946, na presença de novos governantes, o complexo foi transferido para a Fundação Abrigo Cristo Redentor, passando a acolher apenas meninos e, posteriormente, aceitando ambos os sexos.[2] A região era uma zona endêmica da malária e por esse motivo, em 1949, Mário Pinotti, diretor do antigo Serviço Nacional de Malária do Ministério da Educação e Saúde, solicitou o uso de metade da Cidade dos Meninos para instalar o Instituto de Malariologia.[2] Ele conseguiu, inicialmente, oito pavilhões.[2] Naquele mesmo ano, um químico holandês chamado Henk Kemp, detentor do processo industrial de fabricação de hexaclorociclohexano (HCH) visitando a Cidade dos Meninos, sugeriu a Mário Pinotti que ali se produzisse o vulgarmente denominado "pó-de-broca".[2] Em 1960 a fábrica encerrou suas atividades devido a um funcionamento antieconômico, deixando cerca de 300 toneladas de material tóxico que foi disseminado na localidade.[2]

O solo contaminado, por exemplo, foi utilizado para aterrar a estrada principal que atravessa a Cidade dos Meninos, a contaminação era encontrada nos terrenos vizinhos a antiga Fábrica, o gado pastava em área contaminada produzindo leite contaminado.[2] Além disso, segundo depoimentos de moradores da Cidade dos Meninos, do fechamento da fábrica até o ano de 1989, o “pó de broca” era comercializado livremente nas feiras e utilizado para combater cupins, ratos e até piolhos, neste caso sendo aplicado diretamente no couro cabeludo das crianças.[2] O caso foi descoberto apenas em 1989 após denúncias e reportagens.[2]

Referências

  1. a b c d e «Cidade envenenada: a história esquecida de um desastre ambiental». Repórter Brasil. 2 de agosto de 2021. Consultado em 29 de maio de 2023 
  2. a b c d e f g h i Silva, Daianny Cristine Pereira da; Neves, Patrick Mondaini das; Fragoso, Viviane Muniz da Silva (20 de dezembro de 2022). «Contaminação por pesticidas organoclorados e seus efeitos na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro: Uma revisão bibliográfica». Revista Sustinere (2): 451–477. ISSN 2359-0424. doi:10.12957/sustinere.2022.61305. Consultado em 29 de maio de 2023