Computação desplugada

conceito

A introdução do termo Computação Desplugada remete a Bell et al. (1998)[1], com o lançamento de um livro em formato digital denominado CS Unplugged... Off-line activities and games for all ages (Bell et. al. 1998). Para Bell et. al. (2009)[2], a Computação Desplugada tem como objetivo desenvolver habilidades necessárias à Ciência da Computação (compreensão de dados, complexidade de algoritmos, design de interface etc) através de atividades lúdicas desplugadas. Este tipo de atividade envolve a resolução de um problema para atingir um objetivo e, no processo, lidar com conceitos fundamentais da Ciência da Computação (CS).

Aplicações editar

Contando os pontos - Números Binários[3]

 
Atividade de computação desplugada Contando os pontos - Números Binários

Demonstrar como é feita a comunicação do computador por meio do sistema binário (0-1). Tudo o que vemos ou ouvimos no computador - palavras, imagens, números, filmes e até mesmo o som - são armazenados usando apenas estes dois numerais. Para esta atividade, são necessários cinco cartões, com pontos marcados de um lado e nada sobre o verso.

Quando um cartão está com a face para baixo, sem mostrar os pontos, este cartão é representado por um zero. Quando os pontos são exibidos, o cartão é representado por um. Este é o sistema numérico binário. Temos a sequência binária 01001. Equivalente em decimal o número 9.

Disciplinas e conteúdos relacionados:[3]

 
Atividade de computação desplugada Batalha Naval — Algoritmos de Busca

Batalha Naval — Algoritmos de Busca[3]

Essa atividade demonstra como os computadores fazem pesquisas de diferentes formas: busca linear, busca binária e busca por dispersão/espalhamento ("hashing").

A utilização do jogo faz com que pensem acerca das estratégias que estão usando para localizar os navios.

Disciplinas e conteúdos relacionados:[3]

  • Matemática: Números, Ordenação, Maior ou menor;
  • Computação: Organização de dados, Busca de dados.

Histórico editar

Se considerarmos que a computação precede o surgimento dos computadores, podemos dizer que a história da computação desplugada tem início quando as pessoas começaram a desenvolver métodos para processar informações. Civilizações antigas criaram e utilizaram sistemas que são consideradas computação desplugada, empregando técnicas de contagem e sistemas de numeração para realizar cálculos matemáticos simples. Confiava-se em métodos como contar nos dedos, usar bolas ou pedras para representar quantidades e efetuar operações matemáticas básicas[4]. À medida que as civilizações avançavam e o conhecimento matemático se expandia, surgiram técnicas mais avançadas de computação desplugada.

No século XVII, por exemplo, o matemático escocês John Napier desenvolveu os logaritmos, uma técnica que simplificou operações matemáticas complexas por meio de uma escala logarítmica[5]. Os logaritmos foram usados por cientistas e matemáticos por mais de três séculos antes dos computadores eletrônicos. No século XIX[6], o matemático britânico Charles Babbage concebeu a Máquina Analítica[7], uma máquina de calcular mecânica que introduziu conceitos como programabilidade e separação de instruções e dados, embora nunca tenha sido construída em sua totalidade.

Por outro lado, se associarmos o conceito de Computação Desplugada à troca de uma aula tradicional expositiva por atividades desplugadas, podemos dizer que a introdução da Computação Desplugada remete a Bell et al. (1998)[1][4]. A proposta foi bem recebida pelos professores da Educação Básica e pela própria Academia, a ACM (Association for Computing Machinery), por exemplo, recomendou que as propostas contidas no livro fizessem parte do currículo do CSTA (Computer Science Teachers Association) dos Estados Unidos da América.

Educação 5.0 e Computação Desplugada editar

O desenvolvimento tecnológico na sociedade contemporânea tem influenciado diretamente nas perspectivas de cada indivíduo sobre o presente e o futuro da população. Dentre os fatores relacionados às inovações da Era Digital, destacam-se novas estruturas sociais, onde ambientes automatizados, interconectados e em constante desenvolvimento se tornam cada vez mais presentes. Essa transformação está intrinsecamente ligada à Tecnologia da Informação (TI) e ao Pensamento Computacional (PC). Nesse contexto, a Educação 5.0, um modelo educativo recente oriundo do Japão, promete uma revolução positiva na vida das pessoas, colocando a tecnologia a favor do ser humano[8] [9].

A Educação 5.0 valoriza não apenas os conhecimentos digitais e tecnológicos, mas também as competências socioemocionais. Essas competências capacitam o indivíduo a utilizar a tecnologia de maneira saudável e produtiva, criando soluções relevantes para si e para a sociedade em geral. O uso de recursos digitais e ferramentas tecnológicas se torna cada vez mais essencial na sociedade digital, evidenciando a importância das competências digitais para o desenvolvimento no Século XXI[8].

Uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) revelou que o acesso à Internet está presente em 94% das escolas brasileiras que oferecem Ensino Fundamental e Médio. No entanto, pouco mais da metade delas (58%) possui computadores e conectividade à rede para uso dos alunos. Esses dados destacam a necessidade de enfrentar desafios como infraestrutura, formação docente e desinteresse sobre o tema[10].

Desenvolver o ensino de Computação na educação básica torna-se um desafio para os docentes da área, especialmente em instituições públicas carentes de computadores em bom estado e laboratórios de informática adequados para o ensino da disciplina[11]. Nesse cenário, a Computação Desplugada surge como uma alternativa viável, permitindo o ensino de Computação e suas bases sem a necessidade de um computador. Este método contempla o exercício do pensamento computacional, aplicável não apenas na Computação, mas também em diversas outras disciplinas, tornando-se interdisciplinar. Utilizando o raciocínio lógico, estrutura de algoritmos e reconhecimento de dados[12].

A Computação Desplugada se adapta à falta de computadores, proporcionando o ensino da Computação de forma prazerosa e promissora, mesmo em um país marcado por diferenças regionais e sociais evidentes. Ela possibilita o ensino da computação sem a dependência de computadores, por meio de atividades lúdicas que simulam o funcionamento do computador[11].

Referências Bibliográficas editar

  1. a b Bell, Tim, Ian H. Witten and Michael R. Fellows 1998, ‘Computer Science Unplugged: off-line activities and games for all ages’, Citeseer.
  2. Bell, Tim; Alexander, Jason; Freeman, Isaac; Grimley, Mick (2009). «Computer science unplugged: school students doing real computing without computers». New Zealand Journal of Applied Computing and Information Technology (1): 20–29. ISSN 1174-0175. Consultado em 4 de dezembro de 2023 
  3. a b c d UNICAMP. Computação Desplugada. Disponível em: http://desplugada.ime.unicamp.br/.
  4. a b «Os inventores mais importantes na criação do computador». eBiografia. 28 de setembro de 2021. Consultado em 4 de dezembro de 2023 
  5. brunacalarota (8 de dezembro de 2017). «John Napier e os Logaritmos.». História da Matemática. Consultado em 4 de dezembro de 2023 
  6. Sá, Robison. «História dos Logaritmos - Matemática». InfoEscola. Consultado em 4 de dezembro de 2023 
  7. «A Máquina Analítica e a pré-história dos computadores - Mentalidades Matemáticas». 28 de julho de 2020. Consultado em 4 de dezembro de 2023 
  8. a b Bobsin, Rafaela da Silva; Batista, Vithória Silveira; Fabrício, Vitória de Souza; Nunes, Natália Bernardo; Kologeski, Anelise Lemke (4 de setembro de 2020). «Praticando a Extensão para Promover Inclusão Digital com Computação Desplugada e Pensamento Computacional». Anais do Computer on the Beach (1): 576–580. ISSN 2358-0852. doi:10.14210/cotb.v11n1.p576-580. Consultado em 9 de dezembro de 2023 
  9. Felcher, Carla Denize Ott; Folmer, Vanderlei (19 de outubro de 2021). «EDUCAÇÃO 5.0: REFLEXÕES E PERSPECTIVAS PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO». Revista Tecnologias Educacionais em Rede (ReTER): e5/01–15. ISSN 2675-9950. Consultado em 9 de dezembro de 2023 
  10. NIC.br. «Conectividade nas escolas brasileiras aumenta após a pandemia, mas faltam dispositivos para acesso à Internet pelos alunos, revela TIC Educação 2022». CGI.br - Comitê Gestor da Internet no Brasil. Consultado em 9 de dezembro de 2023 
  11. a b PONTES, A. et al. Uso da Computação Desplugada para Ensino da Lógica Computacional nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental II do Município de Capitão Poço (Pará). [s.l: s.n.]. Disponível em: [1](https://lccp.ufra.edu.br/images/doc/CTDA-USO_DA_COMPUTA%C3%87%C3%83O_DESPLUGADA.pdf).
  12. Rodrigues, Suênia da Silva (2 de agosto de 2017). «Computação desplugada no ensino fundamental I: uma experiência metodológica numa escola pública na Paraíba.». repositorio.ufpb.br. Consultado em 9 de dezembro de 2023