Concílio Quinissexto

Concílio de Trullo (Concílio Quinissexto) | |
---|---|
Data | 692 |
Aceite por | Ortodoxos; Igreja Católica Oriental |
Concílio anterior | Terceiro Concílio de Constantinopla |
Concílio seguinte | Segundo Concílio de Niceia |
Convocado por | Imperador Justiniano II |
Presidido por | Justiniano II |
Afluência | 215 (todos orientais) |
Tópicos de discussão | Disciplina |
Documentos | Base da Lei Canônica ortodoxa |
Todos os Concílios Ecuménicos Católicos Portal do Cristianismo |
O Concílio Quinissexto foi um concílio da igreja realizado em 692 d.C. em Constantinopla sob Justiniano II. Ele é também conhecido como Concílio de Trullo pois ele foi realizado na mesma sala com domo onde o Terceiro Concílio de Constantinopla (o sexto concílio ecumênico) tinha se realizado. Tanto o Segundo Concílio de Constantinopla (o quinto ecumênico) quanto Terceiro não emitiram nenhum cânone sobre a disciplina e este concílio teve como objetivo resolver esta questão, "completando" assim o trabalho de ambos. Por isso o nome "Quinissexto" (em latim: Concilium Quinisextum; Penthekte Synodos em grego koiné), ou seja, o "Concílio Quinto-Sexto". Compareceram 215 bispos, todos do oriente. Basílio de Gortina, da Ilíria, porém, pertencia ao patriarcado de Roma e se intitulava um legado papal, embora não haja evidência hoje em dia de que ele tinha o direito de utilizar este título[1].
HistóriaEditar
Muitos dos cânones do concílio reiteravam as decisões de outros já aprovados anteriormente. Diversas regulamentações passadas ali foram tentativas de eliminar alguns festivais e práticas que, em muitos casos, tinham origens pagãs. Como resultado, os documentos sobre os procedimentos do concílio são importantes para a compreensão atual de como eram as práticas religiosas pré-cristãs no Império Romano do Oriente.
Além de relatar decisões anteriores e de tentar eliminar as práticas pagãs, muitas das novas regulamentações estavam direcionadas a resolver diferenças entre a Igreja no ocidente e no oriente sobre os ritos e a disciplina clerical. Sendo realizado sob os auspícios bizantinos e com bispos exclusivamente orientais, os regulamentos são majoritariamente sobre os costumes da Igreja de Constantinopla e a prática ritual ortodoxa (e Católicos Orientais)[1].
Novas práticas na Igreja ocidental que conseguiram alguma atenção nos outros patriarcados foram condenadas. Entre elas, a prática de celebrar a missa em dias de semana na Quaresma (em vez das Liturgias pré-santificadas da Igreja Ortodoxa), a de jejuar aos sábados durante o ano todo; de omitir o "Aleluia" na Quaresma e o costume de mostrar Jesus como um cordeiro. Disputas maiores apareceram nas atitudes diferentes no ocidente e no oriente sobre o celibato para padres e diáconos. O concílio afirmou o direito de homens casados de se tornarem padres (não bispos) e prescreveu a excomunhão para todos os que tentassem separar o clérigo de sua esposa e para qualquer um que a abandonasse[2].
Além disto, este concílio aprovou a inclusão do Livro de Tobias no cânon bíblico da Igreja Ortodoxa, algo que já tinha acontecido no ocidente desde o Concílio de Roma em 381 - 382[3]
RepercussãoEditar
O papa Sérgio I protestou contra o concílio e se recusou a assinar os cânones. Justiniano II reagiu enviando uma delegação militar a Roma para forçar o papa a assinar. O exército imperial, em Ravena, composto majoritariamente de itálicos, correu para acudir o pontífice romano, marchando também até Roma. Enquanto isso, na Hispânia visigoda, o concílio foi ratificado pelo XVIII Concílio de Toledo a pedido do rei, Vitiza, que foi então vilipendiado por cronistas posteriores por esta decisão. Fruela I de Astúrias reverteu a decisão de Toledo durante o seu reinado (757 - 768)[4].
A Igreja Ortodoxa considera atualmente que o Concílio Quinissexto é parte integrante dos Quinto e Sexto Concílios Ecumênicos, adicionando seus cânones a eles. No ocidente, Beda (em De sexta mundi aetate) chamou-o de um sínodo "reprovável". Paulo, o Diácono, chamou-o de "errático"[5].
Os 102 regulamentos deste concílio jamais foram aceitos no ocidente[2], apesar de Justiniano ter tentado obter a aprovação novamente do papa João VII, que não o aprovou, mas também não condenou o texto[6]. Actualmente, o Concílio Quinissexto é considerado pela Igreja Católica como um concílio regional, cujas decisões vigoram apenas nas Igrejas católicas de rito oriental.
Ver tambémEditar
Referências
- ↑ a b Ostrogorsky, George; Hussey, Joan (trad.) (1957). History of the Byzantine state (em inglês). New Brunswick, N.J.: Rutgers University Press. pp. 122–23. ISBN 0813505992
- ↑ a b "Council in Trullo" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
- ↑ Notas de rodapé na Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 661
- ↑ Collins 1989, p. 19
- ↑ Paulo, o Diácono, Hist. Lang., VI, p. 11.
- ↑ "Pope John VII" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
Ligações externasEditar
- Nicene and Post-Nicene Fathers. Council in Trullo (em inglês). [S.l.: s.n.]
BibliografiaEditar
- Concilium Constantinopolitanum a. 691/2 in Trullo habitum. H. Ohme (ed.) Acta conciliorum oecumenicorum, Series Secunda II: Concilium Universale Constantinopolitanum Tertium, Pars 4. ISBN 978-3-11-030853-2. Berlin/Boston Oktober 2013.
- Collins, Roger (1989). The Arab Conquest of Spain (em inglês). Oxford: Blackwell Publishing. pp. 710–97. ISBN 0 631 15923 1
- George Nedungatt: The council of Trullo revisited: Ecumenism and the canon of the councils, dans Theological Studies, Vol.71, Sept. 2010, pp.651-676.