A coroça era um gorro de papel ou cartão pintado em forma cónica que se punha aos condenados pela Inquisição espanhola e pela Inquisição portuguesa e que servia de complemento ao sambenito. A função de ambos era identificar o réu no auto de fé por ter atentado contra Deus e contra a sua Igreja, pelo que eram símbolos da infâmia.

Condenada pela Inquisição espanhola que leva uma coroça com desenhos de lumes o que significa que vai ser queimada na fogueira por heresia (gravado da série Os Caprichos de Francisco de Goya).
A Torre da Justiça em Edirne. A data é Tishá BeAv, 1666. Sabbatai Zevi anuncia que seu nome é Mehmed. Sobre sua cabeça está a espada de Osman.[1] A Torre da Justiça tem uma arquitetura única, simbolizando a natureza dupla da Coroça.

História

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As coroças, tal como os sambenitos, variavam segundo o delito e a sentença. Os condenados à morte (os relaxados ao braço secular) levavam uma coroça vermelha junto com um sambenito negro com chamas e, por vezes, também demónios, dragões ou serpentes, símbolos do Inferno. Os reconciliados com a Igreja católica, porque tinham reconhecido a sua heresia e se tinham arrependido, levavam uma coroça similar ao sambenito, amarela com duas cruzes diagonais pintadas sobre ele[2] ou com duas cruzes de Santiago com as chamas orientadas para abaixo, o que simbolizava que se tinham livrado da fogueira. Os sentenciados a receber chicotadas levavam uma corda ao pescoço com uns nós que indicavam as centenas de chicotadas que deviam receber.[3]

As diferentes coroças (ou "carapuças") e sambenitos estão descritas no seguinte relato da procissão da Cruz Branca que iniciou o auto de fé celebrado em Madrid em 1680:[4]

Depois deles vieram doze homens e mulheres, com cordas ao pescoço e velas na mão, com carapuças de papelão de três pés de altura, nas quais os crimes estavam escritos ou representados de várias maneiras. Seguiam-se outros 50, que também levavam velas na mão, vestidos com um sambenito amarelo ou um casaco verde sem mangas, com uma grande cruz vermelha de Santo André à frente e outra atrás. Eram criminosos que (porque ter sido esta a primeira vez que foram presos) se tinham arrependido dos seus crimes. Geralmente, são condenados a alguns anos de cadeia ou a usar o sambenito, o que é considerado o maior infortúnio que pode recair sobre uma família. Cada um desses criminosos era levado por dois familiares da Inquisição. Seguidamente, vinham mais vinte criminosos, de ambos os sexos, que tinham reincidido três vezes nos seus erros anteriores e que eram condenados às chamas. Os que tivessem dado mostras de arrependimento seriam estrangulados antes de serem queimados. Os restantes, por terem persistido obstinadamente nos seus erros, iam ser queimados vivos. Estes usavam sambenitos de pano, nos quais estavam pintados demónios e chamas, bem como nos seus capuzes.
A cerimónia durou até às nove horas da noite e, terminada a celebração da missa, o rei retirou-se e os criminosos que tinham sido condenados a serem queimados foram entregues ao braço secular e, sendo montados em jumentos, foram retirados pela porta chamada Foncaral e, perto deste lugar, à meia-noite foram todos executados.

Não se sabe ao certo se os reconciliados, que estavam obrigados a usar o sambenito durante o tempo que durasse a condenação, como sinal da sua infâmia, eram também obrigados a usar a coroça. O que parece certo é que, uma vez cumprida a sentença, não se penduravam na igreja paroquial junto com os sambenitos ad perpetuam rei memoriam.[2] A Inquisição considerava que tinha que perpetuar a lembrança da infâmia de um herege, infâmia essa que se estendia aos seus familiares e descendentes.[5]

Referências

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  1. ẒEBI B. MORDECAI
  2. a b Kamen 2011, p. 195.
  3. Pérez 2012, p. 147.
  4. Kamen 2011, p. 203.
  5. Pérez 2012, p. 145.

Bibliografia

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  • Kamen, Henry (2011) [1999]. La Uma revisão histórica (3ª edição). Barcelona: Crítica. ISBN 978-84-9892-198-4. 
  • Pérez, Joseph (2012) [2009]. Breve História da Inquisición em Espanha. Barcelona: Crítica. ISBN 978-84-08-00695-4.