Corumbella é um gênero fóssil dos cnidários da biota Ediacarana pertencente a família monotípica Corumbellidae, cujo único representante é a Corumbella werneri (Hahn et al, 1982), uma espécie extinta, reconhecida como um dos mais antigos cifozoários (cerca de 543 Ma), sendo registrada até o momento apenas nas Américas.[1][2][3] Inicialmente, foi documentada na pedreira calcária Saladeiro, situada nos limites dos municípios de Corumbá e Ladário, em Mato Grosso do Sul.[4]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCorumbella
Ocorrência: Ediacarano, cerca de 545 Ma
Fóssil de C. werneri
Fóssil de C. werneri
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Cnidaria
Classe: Scyphozoa
Género: † Corumbella
Espécie: † C. werneri
Nome binomial
† Corumbella werneri
(Hahn et al., 1982)

Em Corumbá, Corumbella ocorre na mesma formação que o fóssil Cloudina, porém, diferentemente deste, os fósseis de C. werneri não ocorrem em carbonato, mas em margas e folhelhos. Outros registros também foram observados nos arenitos de Great Basin (membro inferior da Formação Wood Canyon, EUA,[1] nos grainstones e mudstones do Grupo Itapucumi, Paraguai,[5][2] e mais recentemente, no Grupo Bambuí, Brasil.[6]

Taxonomia

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Morfologia

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Corumbella apresenta uma seção transversal circular que grada ao longo de sua carapaça para uma geometria poliédrica piramidal,[7][3] culminando em uma região oral, com anéis dispostos de forma angular ao longo da borda lateral, nas faces. A linha mediana é marcada pela confluência alternada de anéis poligonais na região de apótema das faces,[8][7][3] apresentando espessamentos internos.[9]

Os anéis poligonais de Corumbella encontram-se organizados continuamente, com diferentes graus de imbricação, ao longo do tubo. O arranjo dos anéis em alguns espécimes maiores de Corumbella corrobora a articulação da carapaça,[3] evidenciada em coronados, mas não em conulários.[7] Estudos de micromorfologia e ultraestrutura dos exoesqueletos de Corumbella têm revelado afinidades evolutivas desse fóssil com coronados e conulários.[2][9][3][10]

A microestrutura de placas poligonais dos exoesqueletos de Corumbella do Grupo Itapucumi são morfologicamente compatíveis com a microestrutura resultante da interação entre quitina e cálcio em esqueletos de organismos biomineralizadores, tais como os Bryozoa.[11] Neste sentido, há um forte indicativo de esqueleto organo-mineralizado para Corumbella.

Filogenética

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A partir das análises filogenéticas aplicadas nos estudos de Corumbella e outros cifozoários a matriz previamente construída por Van Iten[12] foi atualizada e incrementada com novos caracteres. Caracteres foram atualizados para englobar o fóssil de C. werneri. Ainda, foram adicionados seis novos caracteres pertencentes a coronados e Corumbella na matriz.[13] Devido à falta de amostras do registro fóssil, ainda é incerto se Corumbella werneri possuía uma forma de vida medusóide, assim caracteres relacionados a este traço foram considerados como de estado desconhecido(?). Baseado nos resultados Corumbella é interpretada como grupo irmão de Conulatae. Junto com conulários, Corumbella forma Paleoscyphozoa: um grupo irmão de Coronatae.

Cladograma da relação entre Cnidaria

Anthozoa

Strauromedusae

Conulatae

Corumbella

Coronatae

Semaeostomeae

Rhizostomeae

Cubozoa

Limnomedusae

Actinulida

Narcomedusae

Trachymedusae

Leptothecata

Siphonophorae

Anthothecata

(Comprimento= 125 passos, Índice de Consistência= 0.77, Índice de Retenção= 0.74)


Referências

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  1. a b Hagadorn, W.; Waggoner, B. (2000). «Ediacaran fossils from the southwestern Great Basin, United States». Journal of Paleontology. 74 (2): 349-359. doi:10.1666/0022-3360(2000)074<0349:EFFTSG>2.0.CO;2 
  2. a b c Warren, L.V.; Pacheco, M.L.A.F.; Fairchild, T.R.; Simoes, M.G.; et al. (2012). «The dawn of animal skeletogenesis: Ultrastructural analysis of the Ediacaran metazoan Corumbella werneri».  Geology. 40 (3): 691-694. doi:10.1130/G33005.1 
  3. a b c d e Pacheco, M.L.A.F.; Galante, D.; Leme, J.de M.; Bidola, P.; Hagadorn, W.; et al. (2015). «Insights into the Skeletonization, Lifestyle, and Affinity of the Unusual Ediacaran Fossil Corumbella». PLoS ONE. 10 (3): e0114219. doi:10.1371/journal.pone.0114219 
  4. Hahn, G.; Hahn, R.; Leonardos, O.H.; Pflug, H.D.; Walde, D.H.G. (1982). «Körperlich erhaltene Scyphozoen-Reste aus dem Jungprakambrium Brasiliens». Geologica et Paleontologica. 16: 1-18 
  5. Warren, L.V.; Fairchild, T.R.; Gaucher, C.; Boggiani, P.C.; Poiré, D.G.; Anelli, L.E.; Inchausti, C.G. (2011). «Corumbella and in situ Cloudina in association with thrombolites in the Ediacaran Itapucumi Group, Paraguay». Terra Nova. 23 (6): 382-389. doi:10.1111/j.1365-3121.2011.01023.x 
  6. Warren, L.V.; Quaglio, F.; Riccomini, C.; Simoes, M.G. (2014). «The puzzle assembled: Ediacaran guide fossil Cloudina reveals an old proto-Gondwana seaway».  Geology. 42 (5): 391-394. doi:10.1130/G35304.1 
  7. a b c Pacheco, M.L.A.F.; Leme, J.; Machado, A.F. (2011). «Taphonomic analysis and geometric modeling for the reconstitution of the Ediacaran metazoan Corumbella werneri (Hahn et al., 1982), (Tamengo Formation, Corumba Basin, Brasil)». Journal of Taphonomy. 9 (4): 269-283 
  8. Babcock, L.E.; Grunow, A.M.; Sadowski, G.R.; Stephen, A.L.; Walde, D.H.G. (2005). «Corumbella, an Ediacaran-grade organism from the Late Neoproterozoic of Brazil». Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. 220 (1-2): 7-18. doi:10.1016/j.palaeo.2003.01.001 
  9. a b Van Iten, H.; Marques, A.C.; Leme, J.; Pacheco, M.L.A.F. (2014). «Origin and early diversification of the phylum Cnidaria Verrill: Major developments in the analysis of the taxon's Proterozoic-Cambrian history». Palaeontology. 57 (4): 677-690. doi:10.1111/pala.12116 
  10. Mendoza-Becerril, M. A.; Maronna, M.M.; Pacheco, M.L.A.F.; Simoes, M.G.; Leme, J.; Miranda, L.S.; Morandini, A.C.; Marques, A.C. (2016). «An evolutionary, comparative analysis of the medusozoan (Cnidaria) exoskeleton».  Zoological Journal of the Linnean Society. 178 (2). doi:10.1111/zoj.12415 
  11. Taylor, P.D.; James, N.P.; Phillips, G. (2014). «Mineralogy of cheilostome bryozoans across the Eocene–Oligocene boundary in Mississippi, USA».   Palaeobiodiversity and Palaeoenvironments. 94 (3): 425-438. doi:10.1007/s12549-014-0153-0 
  12. Van Iten, H.; Leme, J.; Simoes, M.G.; Marques, A.C.; Collins, A.G. (2006). «Reassessment of the phylogenetic position of Conulariids (?Ediacaran-Triassic) within the subphylum Medusozoa (phylum Cnidaria)» (PDF). Journal of Systematic Palaeontology. 4 (2): 109-118. doi:10.1017/51477201905001793 
  13. Sampaio, G. (2018). Paleobiologia de Corumbella werneri (Ediacarano, Grupo Corumbá): implicações paleoecológicas e evolutivas (PDF) (Dissertação de Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais). UFSCar