Creatina

composto químico

A creatina é um composto de aminoácidos com a fórmula nominal (H2N)(HN)CN(CH3)CH2CO2H. Ela existe em vários tautômeros em soluções (entre os quais estão a forma neutra e várias formas zwitteriônicas). A creatina é encontrada em vertebrados, onde facilita a reciclagem de trifosfato de adenosina (ATP), principalmente nas fibras musculares e no cérebro. A reciclagem é realizada pela conversão de difosfato de adenosina (ADP) de volta em ATP por meio da doação de grupos fosfato. A creatina também atua como um tampão.[3]

Creatina
Creatina
Nomes
Nome IUPAC ácido 2-(carbamimidoil-metil-amino)acético
Outros nomes ácido (α-metilguanido)acético
Creatina
Kreatina
ácido metilguanidinoacético
N-amidinosarcosina
Identificadores
Número CAS 57-00-1
PubChem 586
Número EINECS 200-306-6
DrugBank DB00148
SMILES
Propriedades
Fórmula química C4H9N3O2
Massa molar 131.122 g mol-1
Densidade 1,33 g·cm−3 [1]
Ponto de fusão 303 °C (mono-hidrato, decomp.)[2]
Solubilidade em água 17 g·l-1[2]
Riscos associados
Frases R R36/37/38
Frases S S26, S37
Compostos relacionados
Aminoácidos relacionados Glicina (ácido 2-aminoacético)
Glicociamina (ácido 2-guanidinoacético)
Fosfocreatina (N-metil-N-(fosfonocarbamimidoil)glicina)
Compostos relacionados Guanidina (C(NH2)2NH)
Creatinina (lactama)
Éster metílico de creatina
Página de dados suplementares
Estrutura e propriedades n, εr, etc.
Dados termodinâmicos Phase behaviour
Solid, liquid, gas
Dados espectrais UV, IV, RMN, EM
Exceto onde denotado, os dados referem-se a
materiais sob condições normais de temperatura e pressão.

Referências e avisos gerais sobre esta caixa.
Alerta sobre risco à saúde.

A creatina não é essencial, ou seja, não depende da ingestão pois pode ser produzida pelo organismo humano. Contudo a suplementação desse composto pode elevar as concentrações musculares, o que é proposto como agente ergogênico.[4] Para isso, a dosagem diária não deve ser inferior a 3 gramas.[5]

História

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A creatina foi identificada pela primeira vez em 1832, quando Michel Eugène Chevreul a isolou do extrato aquoso basificado do músculo esquelético. Posteriormente, ele nomeou o precipitado cristalizado em homenagem à palavra grega para carne, κρέας (kreas). Em 1928, foi demonstrado que a creatina existia em equilíbrio com a creatinina.[6] Estudos realizados na década de 1920 mostraram que o consumo de grandes quantidades de creatina não resultava em sua excreção. Esse resultado apontou para a capacidade do corpo de armazenar creatina, o que, por sua vez, sugeriu seu uso como suplemento alimentar.[7]

Em 1912, os pesquisadores da Universidade de Harvard, Otto Folin e Willey Glover Denis, encontraram evidências de que a ingestão de creatina pode aumentar drasticamente o conteúdo de creatina no músculo.[8][9] No final da década de 1920, após descobrirem que os estoques intramusculares de creatina podiam ser aumentados pela ingestão de creatina em quantidades maiores do que o normal, cientistas descobriram a fosfocreatina (fosfato de creatina) e determinaram que a creatina desempenha um papel fundamental no metabolismo do músculo esquelético. Ela é formada naturalmente em vertebrados.[10]

A descoberta da fosfocreatina[11][12] foi relatada em 1927.[13][14] Na década de 1960, demonstrou-se que a creatina quinase (CK) fosforila o ADP usando fosfocreatina (PCr) para gerar ATP. Consequentemente, o ATP – e não o PCr – é consumido diretamente na contração muscular. A CK usa a creatina para "tamponar" a relação ATP/ADP.[15]

Exercícios e esportes

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Já é bem explorado e inúmeros estudos mostram as vantagens da suplementação de creatina para o aumento da força muscular, massa magra e performance no exercício.[16][17][18] A suplementação de creatina visando o ganho de desempenho em exercícios físicos anaeróbicos se mostra eficiente e segura a curto prazo.[19] Podendo aumentar entre 5% a 15% a força máxima nos exercícios que combinam alta intensidade e curta duração.[20][21] [22] Já atividades físicas que demandam mais respiração aeróbica, como nado e corrida, a creatina não demonstra melhoras em termos de performance física.[22]

Estudos

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Desempenho cognitivo

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Recentemente, alguns estudos vêm relatando e testando evidências que a suplementação de creatina também pode ser benéfica para a saúde cerebral. Melhorando função cerebral, processamento cognitivo e recuperação de uma lesão cerebral.[23] A creatina fornece o grupo N-fosforil da fosforilcreatina (PCr) para o difosfato de adenosina (ADP), ressintetizando trifosfato de adenosina (ATP) e transfere energia da mitocôndria para o citosol como "tampão espacial" fazendo assim o fornecimento rápido de energia. Esses mecanismos facilitam a homeostase do ATP no momento de turnover energético, mantendo reduzida a concentração de ADP e diminuindo a passagem de Ca²± do retículo sarcoplasmático e mantendo mais eficiente assim a produção da força muscular.[24][25][26] A creatina pode eliminar espécies de radicais no ambiente acelular ou atenuar a formação de espécies reativas de oxigênio por se acoplar com o ATP mitocondrial.[27] Esses efeitos antioxidantes diretos e indiretos podem se relacionar com os efeitos terapêuticos nas doenças neurodegenerativas.[28]

Papel metabólico

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A creatina age no organismo a partir de sua forma fosforilada (fosfocreatina ou fosfato de creatina). Através da enzima creatina cinase (ou creatina quinase) ocorre a transferência do grupo fosforila (PO32-) da fosfocreatina para o ADP, produzindo assim ATP. Também age como "tampão espacial", transportando a energia útil armazenada na forma de compostos fosforilados com alto potencial químico de hidrólise (energia de Gibbs ou energia livre) gerados na mitocôndria para o citoplasma.[carece de fontes?]

Distribuição

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Em humanos, geralmente metade da creatina armazenada é originada dos alimentos (principalmente da carne e peixe). Entretanto, a síntese endógena de creatina no fígado é suficiente para as atividades normais do dia-a-dia. Em função disso, apesar de os vegetais não conterem creatina, os vegetarianos e veganos não sofrem por sua deficiência.[29]

No Brasil

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Em 2005, a venda de creatina como suplemento alimentar foi proibida pela ANVISA em todo Brasil.[30] Entretanto, esta proibição foi revogada em abril de 2010, com a publicação de uma nova regulamentação de alimentos para atletas, onde há uma recomendação clara para o uso do suplemento à base de creatina apenas para atletas que praticam exercícios de alta intensidade. A Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (ABENUTRI) produz anualmente uma classificação das marcas de creatinas por teor e rotulagem. Algumas marcas famosas até entraram com ações judiciais para impedir que os resultados de seus testes fossem divulgados.[31]

Em Portugal

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A creatina pode ser encontrada sob o formato de monohidrato de creatina e é um produto autorizado pela ASAE. É sobretudo utilizada para o aumento muscular.[carece de fontes?]

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Creatine».

Referências

  1. Base de dados Creatina por AlfaAesar, consultado em 31. Mai 2007 ..
  2. a b Römpp CD 2006, Georg Thieme Verlag 2006.
  3. Barcelos, R. P.; Stefanello, S. T.; Mauriz, J. L.; Gonzalez-Gallego, J.; Soares, F. a. A. «Creatine and the Liver: Metabolism and Possible Interactions». Mini-Reviews in Medicinal Chemistry (em inglês) (1): 12–18. doi:10.2174/1389557515666150722102613. Consultado em 16 de abril de 2025 
  4. Machado, M.; Sampaio-Jorge, F.; TeixeiraFerreira, A.; Knifis, F (2007). «Ck sérica é modulada por exercício mas não por suplementação de creatina» (PDF). Motricidade. Consultado em 8 de julho de 2015 
  5. Lucas, Bruno (22 de abril de 2021). «Quer saber a Melhor Creatina 2022 que Funciona? Veja já!». ReviewTudo. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  6. Cannan, Robert Keith; Shore, Agnes (1 de janeiro de 1928). «The creatine-creatinine equilibrium. The apparent dissociation constants of creatine and creatinine». Biochemical Journal (4): 920–929. ISSN 0006-2936. PMC 1252207 . PMID 16744118. doi:10.1042/bj0220920. Consultado em 16 de abril de 2025 
  7. Forsythe, C. E.; Ballard, K. D.; Volek, J. S. (2008). «Overview of Creatine Metabolism». Essentials of Creatine in Sports and Health: 1–23. ISBN 978-1-59745-573-2 
  8. Folin, Otto; Denis, W. (1 de julho de 1912). «PROTEIN METABOLISM FROM THE STANDPOINT OF BLOOD AND TISSUE ANALYSIS: THIRD PAPER. FURTHER ABSORPTION EXPERIMENTS WITH ESPECIAL REFERENCE TO THE BEHAVIOR OF CREATINE AND CREATININE AND TO THE FORMATION OF UREA». Journal of Biological Chemistry (em inglês) (1): 141–162. ISSN 0021-9258. doi:10.1016/S0021-9258(18)88723-3. Consultado em 16 de abril de 2025 
  9. Antonio, Jose (8 de fevereiro de 2021). «Common questions and misconceptions about creatine supplementation: what does the scientific evidence really show?». Journal of the International Society of Sports Nutrition (1). 13 páginas. PMC 7871530 . PMID 33557850. doi:10.1186/s12970-021-00412-w. Consultado em 16 de abril de 2025 
  10. Brosnan, John T.; da Silva, Robin P.; Brosnan, Margaret E. (1 de maio de 2011). «The metabolic burden of creatine synthesis». Amino Acids (em inglês) (5): 1325–1331. ISSN 1438-2199. doi:10.1007/s00726-011-0853-y. Consultado em 16 de abril de 2025 
  11. Saks, V. (2007). Molecular system bioenergetics: energy for life. Weinheim: Wiley-VCH. p. 2. ISBN 978-3-527-31787-5 
  12. Ochoa, S. (1989). «David Nachmansohn». National Academies Press. Sherman EJ, National Academy of Sciences. 58: 357–404. ISBN 978-0-309-03938-3 
  13. Eggleton, Philip; Eggleton, Grace Palmer (1 de janeiro de 1927). «The Inorganic Phosphate and a Labile Form of Organic Phosphate in the Gastrocnemius of the Frog». Biochemical Journal (1): 190–195. ISSN 0006-2936. PMC 1251888 . PMID 16743804. doi:10.1042/bj0210190. Consultado em 16 de abril de 2025 
  14. Fiske, Cyrus H.; Subbarow, Y. (22 de abril de 1927). «The Nature of the "Inorganic Phosphate" in Voluntary Muscle». Science (1686): 401–403. doi:10.1126/science.65.1686.401. Consultado em 16 de abril de 2025 
  15. Wallimann, T. (2007). «Introduction – Creatine: Cheap Ergogenic Supplement with Great Potential for Health and Disease». Creatine and Creatine Kinase in Health and Disease: 1–16. ISBN 978-1-4020-6486-9 
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  30. «Agência sensibiliza produtores de alimentos para atletas». Anvisa. 30 de janeiro de 2009. Consultado em 16 de abril de 2025. Arquivado do original em 30 de janeiro de 2009 
  31. «Teste reprova 25 marcas de creatina. Confira se a sua está entre elas». Metrópoles. 16 de maio de 2024. Consultado em 12 de julho de 2024