Creatina
A creatina é um composto de aminoácidos com a fórmula nominal (H2N)(HN)CN(CH3)CH2CO2H. Ela existe em vários tautômeros em soluções (entre os quais estão a forma neutra e várias formas zwitteriônicas). A creatina é encontrada em vertebrados, onde facilita a reciclagem de trifosfato de adenosina (ATP), principalmente nas fibras musculares e no cérebro. A reciclagem é realizada pela conversão de difosfato de adenosina (ADP) de volta em ATP por meio da doação de grupos fosfato. A creatina também atua como um tampão.[3]
Creatina | |||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
![]() | |||||||||||||
![]() | |||||||||||||
Nomes | |||||||||||||
Nome IUPAC | ácido 2-(carbamimidoil-metil-amino)acético | ||||||||||||
Outros nomes | ácido (α-metilguanido)acético Creatina Kreatina ácido metilguanidinoacético N-amidinosarcosina | ||||||||||||
| |||||||||||||
| |||||||||||||
| |||||||||||||
| |||||||||||||
Página de dados suplementares | |||||||||||||
Estrutura e propriedades | n, εr, etc. | ||||||||||||
Dados termodinâmicos | Phase behaviour Solid, liquid, gas | ||||||||||||
Dados espectrais | UV, IV, RMN, EM | ||||||||||||
Exceto onde denotado, os dados referem-se a materiais sob condições normais de temperatura e pressão. Referências e avisos gerais sobre esta caixa. Alerta sobre risco à saúde. |
A creatina não é essencial, ou seja, não depende da ingestão pois pode ser produzida pelo organismo humano. Contudo a suplementação desse composto pode elevar as concentrações musculares, o que é proposto como agente ergogênico.[4] Para isso, a dosagem diária não deve ser inferior a 3 gramas.[5]
História
editarA creatina foi identificada pela primeira vez em 1832, quando Michel Eugène Chevreul a isolou do extrato aquoso basificado do músculo esquelético. Posteriormente, ele nomeou o precipitado cristalizado em homenagem à palavra grega para carne, κρέας (kreas). Em 1928, foi demonstrado que a creatina existia em equilíbrio com a creatinina.[6] Estudos realizados na década de 1920 mostraram que o consumo de grandes quantidades de creatina não resultava em sua excreção. Esse resultado apontou para a capacidade do corpo de armazenar creatina, o que, por sua vez, sugeriu seu uso como suplemento alimentar.[7]
Em 1912, os pesquisadores da Universidade de Harvard, Otto Folin e Willey Glover Denis, encontraram evidências de que a ingestão de creatina pode aumentar drasticamente o conteúdo de creatina no músculo.[8][9] No final da década de 1920, após descobrirem que os estoques intramusculares de creatina podiam ser aumentados pela ingestão de creatina em quantidades maiores do que o normal, cientistas descobriram a fosfocreatina (fosfato de creatina) e determinaram que a creatina desempenha um papel fundamental no metabolismo do músculo esquelético. Ela é formada naturalmente em vertebrados.[10]
A descoberta da fosfocreatina[11][12] foi relatada em 1927.[13][14] Na década de 1960, demonstrou-se que a creatina quinase (CK) fosforila o ADP usando fosfocreatina (PCr) para gerar ATP. Consequentemente, o ATP – e não o PCr – é consumido diretamente na contração muscular. A CK usa a creatina para "tamponar" a relação ATP/ADP.[15]
Exercícios e esportes
editarJá é bem explorado e inúmeros estudos mostram as vantagens da suplementação de creatina para o aumento da força muscular, massa magra e performance no exercício.[16][17][18] A suplementação de creatina visando o ganho de desempenho em exercícios físicos anaeróbicos se mostra eficiente e segura a curto prazo.[19] Podendo aumentar entre 5% a 15% a força máxima nos exercícios que combinam alta intensidade e curta duração.[20][21] [22] Já atividades físicas que demandam mais respiração aeróbica, como nado e corrida, a creatina não demonstra melhoras em termos de performance física.[22]
Estudos
editarDesempenho cognitivo
editarRecentemente, alguns estudos vêm relatando e testando evidências que a suplementação de creatina também pode ser benéfica para a saúde cerebral. Melhorando função cerebral, processamento cognitivo e recuperação de uma lesão cerebral.[23] A creatina fornece o grupo N-fosforil da fosforilcreatina (PCr) para o difosfato de adenosina (ADP), ressintetizando trifosfato de adenosina (ATP) e transfere energia da mitocôndria para o citosol como "tampão espacial" fazendo assim o fornecimento rápido de energia. Esses mecanismos facilitam a homeostase do ATP no momento de turnover energético, mantendo reduzida a concentração de ADP e diminuindo a passagem de Ca²± do retículo sarcoplasmático e mantendo mais eficiente assim a produção da força muscular.[24][25][26] A creatina pode eliminar espécies de radicais no ambiente acelular ou atenuar a formação de espécies reativas de oxigênio por se acoplar com o ATP mitocondrial.[27] Esses efeitos antioxidantes diretos e indiretos podem se relacionar com os efeitos terapêuticos nas doenças neurodegenerativas.[28]
Papel metabólico
editarA creatina age no organismo a partir de sua forma fosforilada (fosfocreatina ou fosfato de creatina). Através da enzima creatina cinase (ou creatina quinase) ocorre a transferência do grupo fosforila (PO32-) da fosfocreatina para o ADP, produzindo assim ATP. Também age como "tampão espacial", transportando a energia útil armazenada na forma de compostos fosforilados com alto potencial químico de hidrólise (energia de Gibbs ou energia livre) gerados na mitocôndria para o citoplasma.[carece de fontes]
Distribuição
editarEm humanos, geralmente metade da creatina armazenada é originada dos alimentos (principalmente da carne e peixe). Entretanto, a síntese endógena de creatina no fígado é suficiente para as atividades normais do dia-a-dia. Em função disso, apesar de os vegetais não conterem creatina, os vegetarianos e veganos não sofrem por sua deficiência.[29]
No Brasil
editarEm 2005, a venda de creatina como suplemento alimentar foi proibida pela ANVISA em todo Brasil.[30] Entretanto, esta proibição foi revogada em abril de 2010, com a publicação de uma nova regulamentação de alimentos para atletas, onde há uma recomendação clara para o uso do suplemento à base de creatina apenas para atletas que praticam exercícios de alta intensidade. A Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (ABENUTRI) produz anualmente uma classificação das marcas de creatinas por teor e rotulagem. Algumas marcas famosas até entraram com ações judiciais para impedir que os resultados de seus testes fossem divulgados.[31]
Em Portugal
editarA creatina pode ser encontrada sob o formato de monohidrato de creatina e é um produto autorizado pela ASAE. É sobretudo utilizada para o aumento muscular.[carece de fontes]
Notas
editarReferências
- ↑ Base de dados Creatina por AlfaAesar, consultado em 31. Mai 2007 ..
- ↑ a b Römpp CD 2006, Georg Thieme Verlag 2006.
- ↑ Barcelos, R. P.; Stefanello, S. T.; Mauriz, J. L.; Gonzalez-Gallego, J.; Soares, F. a. A. «Creatine and the Liver: Metabolism and Possible Interactions». Mini-Reviews in Medicinal Chemistry (em inglês) (1): 12–18. doi:10.2174/1389557515666150722102613. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Machado, M.; Sampaio-Jorge, F.; TeixeiraFerreira, A.; Knifis, F (2007). «Ck sérica é modulada por exercício mas não por suplementação de creatina» (PDF). Motricidade. Consultado em 8 de julho de 2015
- ↑ Lucas, Bruno (22 de abril de 2021). «Quer saber a Melhor Creatina 2022 que Funciona? Veja já!». ReviewTudo. Consultado em 14 de agosto de 2022
- ↑ Cannan, Robert Keith; Shore, Agnes (1 de janeiro de 1928). «The creatine-creatinine equilibrium. The apparent dissociation constants of creatine and creatinine». Biochemical Journal (4): 920–929. ISSN 0006-2936. PMC 1252207 . PMID 16744118. doi:10.1042/bj0220920. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Forsythe, C. E.; Ballard, K. D.; Volek, J. S. (2008). «Overview of Creatine Metabolism». Essentials of Creatine in Sports and Health: 1–23. ISBN 978-1-59745-573-2
- ↑ Folin, Otto; Denis, W. (1 de julho de 1912). «PROTEIN METABOLISM FROM THE STANDPOINT OF BLOOD AND TISSUE ANALYSIS: THIRD PAPER. FURTHER ABSORPTION EXPERIMENTS WITH ESPECIAL REFERENCE TO THE BEHAVIOR OF CREATINE AND CREATININE AND TO THE FORMATION OF UREA». Journal of Biological Chemistry (em inglês) (1): 141–162. ISSN 0021-9258. doi:10.1016/S0021-9258(18)88723-3. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Antonio, Jose (8 de fevereiro de 2021). «Common questions and misconceptions about creatine supplementation: what does the scientific evidence really show?». Journal of the International Society of Sports Nutrition (1). 13 páginas. PMC 7871530 . PMID 33557850. doi:10.1186/s12970-021-00412-w. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Brosnan, John T.; da Silva, Robin P.; Brosnan, Margaret E. (1 de maio de 2011). «The metabolic burden of creatine synthesis». Amino Acids (em inglês) (5): 1325–1331. ISSN 1438-2199. doi:10.1007/s00726-011-0853-y. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Saks, V. (2007). Molecular system bioenergetics: energy for life. Weinheim: Wiley-VCH. p. 2. ISBN 978-3-527-31787-5
- ↑ Ochoa, S. (1989). «David Nachmansohn». National Academies Press. Sherman EJ, National Academy of Sciences. 58: 357–404. ISBN 978-0-309-03938-3
- ↑ Eggleton, Philip; Eggleton, Grace Palmer (1 de janeiro de 1927). «The Inorganic Phosphate and a Labile Form of Organic Phosphate in the Gastrocnemius of the Frog». Biochemical Journal (1): 190–195. ISSN 0006-2936. PMC 1251888 . PMID 16743804. doi:10.1042/bj0210190. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Fiske, Cyrus H.; Subbarow, Y. (22 de abril de 1927). «The Nature of the "Inorganic Phosphate" in Voluntary Muscle». Science (1686): 401–403. doi:10.1126/science.65.1686.401. Consultado em 16 de abril de 2025
- ↑ Wallimann, T. (2007). «Introduction – Creatine: Cheap Ergogenic Supplement with Great Potential for Health and Disease». Creatine and Creatine Kinase in Health and Disease: 1–16. ISBN 978-1-4020-6486-9
- ↑ Gualano, Bruno; Roschel, Hamilton; Lancha, Antonio Herbert; Brightbill, Charles E.; Rawson, Eric S. (agosto de 2012). «In sickness and in health: the widespread application of creatine supplementation». Amino Acids (em inglês) (1): 519–529. ISSN 0939-4451. doi:10.1007/s00726-011-1132-7. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Dolan; Artioli; Pereira; Gualano (23 de outubro de 2019). «Muscular Atrophy and Sarcopenia in the Elderly: Is There a Role for Creatine Supplementation?». Biomolecules (em inglês) (11). 642 páginas. ISSN 2218-273X. PMC 6921011 . PMID 31652853. doi:10.3390/biom9110642. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Dolan, Eimear; Gualano, Bruno; Rawson, Eric S. (2 de janeiro de 2019). «Beyond muscle: the effects of creatine supplementation on brain creatine, cognitive processing, and traumatic brain injury». European Journal of Sport Science (em inglês) (1): 1–14. ISSN 1746-1391. doi:10.1080/17461391.2018.1500644. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Carvalho, Ana Paula Perillo Ferreira; Molina, Guilherme Eckhardt; Fontana, Keila Elizabeth (agosto de 2011). «Suplementação com creatina associada ao treinamento resistido não altera as funções renal e hepática». Revista Brasileira de Medicina do Esporte (4): 237–241. ISSN 1517-8692. doi:10.1590/s1517-86922011000400004. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Bemben, M.; Lamont, H. (2005). «Creatine Supplementation and Exercise Performance». doi:10.2165/00007256-200535020-00002. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Lanhers, C.; Pereira, Bruno; Naughton, G.; Trousselard, M.; Lesage, F.; Dutheil, F. (2015). «Creatine Supplementation and Lower Limb Strength Performance: A Systematic Review and Meta-Analyses». Sports Medicine. doi:10.1007/s40279-015-0337-4. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ a b Bird, Stephen P. (dezembro de 2003). «Creatine supplementation and exercise performance: a brief review». Journal of Sports Science & Medicine (4): 123–132. ISSN 1303-2968. PMC 3963244 . PMID 24688272. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Roschel, Hamilton; Gualano, Bruno; Ostojic, Sergej M.; Rawson, Eric S. (10 de fevereiro de 2021). «Creatine Supplementation and Brain Health». Nutrients (em inglês) (2). 586 páginas. ISSN 2072-6643. PMC 7916590 . PMID 33578876. doi:10.3390/nu13020586. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Wallimann, T; Wyss, M; Brdiczka, D; Nicolay, K; Eppenberger, H M (1 de janeiro de 1992). «Intracellular compartmentation, structure and function of creatine kinase isoenzymes in tissues with high and fluctuating energy demands: the 'phosphocreatine circuit' for cellular energy homeostasis». Biochemical Journal (em inglês) (1): 21–40. ISSN 0264-6021. doi:10.1042/bj2810021. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Wallimann, T; Turner, D C; Eppenberger, H M (1 de novembro de 1977). «Localization of creatine kinase isoenzymes in myofibrils. I. Chicken skeletal muscle.». Journal of Cell Biology (em inglês) (2): 297–317. ISSN 0021-9525. doi:10.1083/jcb.75.2.297. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Sahlin, Kent; Harris, Roger C. (maio de 2011). «The creatine kinase reaction: a simple reaction with functional complexity». Amino Acids (em inglês) (5): 1363–1367. ISSN 0939-4451. doi:10.1007/s00726-011-0856-8. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Sestili, Piero; Martinelli, C.; Colombo, E.; Barbieri, E.; Potenza, L.; Sartini, S.; Fimognari, C. (maio de 2011). «Creatine as an antioxidant». Amino Acids (em inglês) (5): 1385–1396. ISSN 0939-4451. doi:10.1007/s00726-011-0875-5. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ Beal, M. Flint (maio de 2011). «Neuroprotective effects of creatine». Amino Acids (em inglês) (5): 1305–1313. ISSN 0939-4451. doi:10.1007/s00726-011-0851-0. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ «Creatine supplement What is Creatine». Creatine Journal (em inglês). Consultado em 16 de abril de 2025. Arquivado do original em 22 de janeiro de 2025
- ↑ «Agência sensibiliza produtores de alimentos para atletas». Anvisa. 30 de janeiro de 2009. Consultado em 16 de abril de 2025. Arquivado do original em 30 de janeiro de 2009
- ↑ «Teste reprova 25 marcas de creatina. Confira se a sua está entre elas». Metrópoles. 16 de maio de 2024. Consultado em 12 de julho de 2024