Apito de cachorro

linguagem codificada ou sugestiva em mensagens políticas para atrair o apoio de um determinado grupo sem provocar oposição
(Redirecionado de Dog whistle)

Apito de cachorro, ou política do dog whistle, é uma mensagem política empregando linguagem em código que parece significar uma coisa para a população em geral, mas tem um significado mais específico e diferente para um subgrupo-alvo.

Vídeo realizado por Roberto Alvim enquanto exercia o cargo de Secretário Especial da Cultura do Brasil onde ele utiliza um cenário e discurso parecidos com aqueles utilizados pelo ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels.[1]

A expressão é tradução literal do inglês, dog-whistle politics. A analogia com os apitos de cachorro é feita pois suas frequências se situam acima da capacidade de audição humana, mas podem ser ouvidas pelos cães.[2]

Origem editar

Segundo William Safire, o termo "apito de cachorro" em referência à política pode ter sido derivado de seu uso no campo das pesquisas de opinião. Ele cita Richard Morin, diretor de pesquisas do The Washington Post, como tendo escrito em 1988:

Ele especula que os trabalhadores de campanhas eleitorais adaptaram a frase para as pesquisas políticas.[3]

Em seu livro de 2006, "Voting for Jesus: Christianity and Politics in Australia", a acadêmica Amanda Lohrey escreve que o objetivo do apito de cachorro é atrair o maior número possível de eleitores enquanto aliena o menor número possível. Ela usa como exemplo os políticos que escolhem palavras amplamente atraentes, como "valores familiares", que têm ressonância extra para os cristãos, enquanto evitam a moralização cristã aberta que pode ser desencorajador para os eleitores não-cristãos.[4]

O teórico político australiano Robert E. Goodin argumenta que o problema com o apito de cachorro é que ele mina a democracia, porque se os eleitores têm entendimentos diferentes sobre o que eles estavam apoiando durante uma campanha, o fato de que eles pareciam apoiar a mesma coisa é "democraticamente sem sentido" e não dá ao apitador um mandato político.[5]

Exemplos editar

Mesmo o "apito de cachorro" ter como objetivo não ser descoberto nem divulgado, alguns casos tornam-se exemplos do uso da técnica.

Estados Unidos editar

Nos Estados Unidos alguns casos são exemplos do apito de cachorro:

  • Em 2012, a campanha de Barack Obama publicou um anúncio em Ohio que dizia que Mitt Romney "não era um de nós". A jornalista do Washington Post Karen Tumulty escreveu: "ironicamente, ecoa um slogan que tem sido usado como código racial pelo menos no último meio século", por políticos segregacionistas.[6]
  • Em 2020, durante as manifestações contra a morte de George Floyd, Donald Trump utilizou-se do seu Twitter oficial para manifestar sua insatisfação com os atos violentos que estavam ocorrendo nas manifestações. Em uma parte do seu tweet, Trump escreveu: "When the looting starts, the shooting starts" (em uma tradução literal: "quando o saque começa, o tiroteio começa"). A frase estaria de acordo com o a situação se não estivesse parafraseado o delegado Walter E. Headley, chefe da polícia de Miami, Flórida que utilizou-se da frase como forma de repressão a protestos por direitos civis e da comunidade negra, em 1967.[7]

Brasil editar

 
Manifestantes da Ação Integralista Brasileira realizando o anauê
  • Em 2020, o Secretário Especial da Cultura do Brasil, Roberto Alvim utilizou-se em um discurso de elementos presentes no cenário típico de discurso do ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels. As principais semelhanças percebidas por jonarlistas foram: a foto de Jair Messias Bolsonaro ao centro da imagem, que remete à foto de Hitler nos discursos de Goebbels; O cenário simples com apenas dois itens representativos em destaque sendo eles uma Cruz de Caravaca e uma bandeira do Brasil, assim expondo apenas itens de ideias nacionalistas como a religiosidade e a pátria; A fala do secretário remete ao discurso de Goebbels onde apontava "o novo rumo da arte nazista"; A música de fundo do vídeo trata-se da Ópera de Lohengrin composta por Richard Wagner ídolo nazista de Hitler.[1]
  • Também em 2020, o presidente Jair Bolsonaro ergueu um copo de leite e brindou com presentes na mesa durante uma transmissão aovivo.[8] O ato foi considerado por pesquisadores como uma referencia à movimentos de supremacia branca que constantemente se utilizam do leite como forma de representar a pureza branca, juntamente com afirmações como "tomar branco para tornar-se branco" assim sendo um apito de cachorro para este grupo.[9] O presidente justificou o ato como sendo uma homenagem à Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). Dias mais tarde, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos gravou um vídeo repetindo o gesto, porém desta vez afirmando que "entedendores, entenderão".[10]
  • Em 2021, um assessor do presidente Jair Bolsonaro chamado Filipe Martins, utilizou-se do símbolo de "ok" durante uma reunião, postado ao fundo do presidente enquanto o mesmo falava. O gesto foi interpretado como um ato racista pois o gesto também é conhecido como um símbolo supremacista branco. O assessor tentou desvincilhar-se das acusações afirmando que estava arrumando seu microfone no paletó.[11]

Referências

  1. a b «Discurso de Goebbels, ópera de Wagner e cruz medieval: os símbolos do vídeo que derrubou Roberto Alvim». GZH. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  2. Safire, William (2008). Safire's Political Dictionary Revised ed. New York: Oxford University Press. p. 190. ISBN 978-0-19-534334-2 
  3. Safire, William (2008). Safire's Political Dictionary Revised ed. New York: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-534334-2 
  4. Lohrey, Amanda (2006). Voting for Jesus: Christianity and Politics in Australia. Melbourne: Black Inc. pp. 48–58. ISBN 1-86395-230-6 
  5. Goodin, Robert E. (2008). Innovating Democracy: Democratic Theory and Practice after the Deliberative Turn Reprint ed. [S.l.]: Oxford University Press. pp. 224–228. ISBN 978-0-19-954794-4 
  6. Tumulty, Karen (22 de outubro de 2012). «Obama's 'not one of us' attack on Romney echoes racial code». The Washington Post 
  7. Culver, Jordan. «Trump says violent Minneapolis protests dishonor George Floyd's memory, Twitter labels 'shooting' tweet as 'glorifying violence'». USA TODAY (em inglês). Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  8. «Entenda: por que o copo de leite na live de Bolsonaro provocou controvérsia». Sonar - A Escuta das Redes - O Globo. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  9. «Do 'white power' ao copo de leite, entenda símbolos ligados à extrema direita». Folha de S.Paulo. 25 de março de 2021. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  10. «Vídeo: "Entendedores entenderão", diz Allan dos Santos sobre o leite do nazismo». Revista Fórum. 30 de maio de 2020. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  11. «Por que gesto de 'OK' de assessor de Bolsonaro está em lista de símbolos de ódio nos EUA». G1. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
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