Drave

aldeia em Arouca, Portugal

Drave é uma aldeia desabitada numa cova entre as Serra da Freita, Serra de São Macário e Serra da Arada, integrada no Geoparque de Arouca e situada na União das Freguesias de Covelo de Paivó e Janarde, Concelho de Arouca, Distrito de Aveiro, Diocese de Viseu.

Portugal Drave 
  aldeia  
vista geral de Drave (2003)
vista geral de Drave (2003)
vista geral de Drave (2003)
Localização
Drave está localizado em: Portugal Continental
Drave
Coordenadas 40° 51' 40" N 8° 07' 02" O
País Portugal
Distrito Aveiro
Concelho Arouca
Freguesia União das Freguesias de Covelo de Paivó e Janarde
Características geográficas
Área total 0,3 km²
População total 0 hab.
Densidade 0 hab./km²
Altitude máxima 652 m
Altitude mínima 606 m

É uma aldeia típica em que as casas são feitas de pedra, denominada pedra lousinha, sendo a sua cobertura de xisto. Os arruamentos são irregulares.

A aldeia é muito isolada e sem traços de modernidade: não é acessível de carro, e a aldeia mais próxima, Regoufe, fica a 4 quilómetros. Não tem electricidade, água canalizada, saneamento, gás, correio, telefone e a rede de telemóvel é escassa (apenas MEO). Também não há lojas, logo o dinheiro não tem utilidade, nem relógios na aldeia.

História editar

séc. XIV - A primeira referência a Drave data do reinado de D. Dinis;
1527 - o Cadastro da População do Reino regista as povoações de Drave, Regoufe e Covelo de Paivó na freguesia de São Martinho das Moitas no concelho de Lafões e Sul; Drave conta com dois vizinhos, oito pessoas;[1]
1758 - as Memórias Paroquiais referem a freguesia de Covelo de Paivó pertencente ao concelho e ducado de Lafões, do qual é donatário o duque de Lafões; a freguesia tem duas povoações, Covelo de Paivó e Regoufe e ainda uma póvoa a que chamam de Drave com três vizinhos, vinte e duas pessoas; [1]
séc. XVIII - Francisco Martins e Maria Martins constroem um casal em Drave;[2]
séc. XIX - Manuel Martins manda abrir o caminho da "voltinha" que faz comunicar de carro Drave com o território a Sul, passando pelo Muro Redondo e fazendo a ligação a Regoufe; constrói o solar da varanda e a casa da adega; [2]
1851 - a capela de Nossa Senhora da Saúde é mandada edificar por Manuel Martins da Costa;[2]
1917 - a freguesia de Covelo de Paivó é anexada ao concelho de Arouca, deixando de pertencer ao concelho de S. Pedro do Sul; [1]
1946 - primeiro encontro dos Martins da Drave: a reunião familiar reuniu mais de 500 descendentes e foi organizada pelo Padre João Nepomuceno de Almeida Martins;[2]
1992 - "Rumos da Consciência" - primeira grande actividade organizada pelos escuteiros na Drave;[3]
1993 - "Rumos do Homem Novo" - segunda grande actividade organizada pelos escuteiros na Drave;[3]
1993 - instalação de linha telefónica e de energia solar (funcionou até 2000);
1995 - o Corpo Nacional de Escutas, adquire algumas casas e terrenos para criar uma Base Nacional;[3]
1996 - despacho de abertura do processo de classificação pelo IPPAR;[1]
2000 - Joaquim Martins, o último habitante, deixa a aldeia;
2001 - "Rover 2001" - terceira grande actividade organizada pelos escuteiros na Drave;[3]
2002 - "Trilhos 2002" - Terceira edição do Trilhos que versou o Progresso dos Caminheiros e realizou-se na Drave com vista a relançar o centro escutista na Drave. (Trilhos 2000 na Serra da Lousã versando a liderança, Trilhos 2001 na Serra do Caramelo versando a Partida); 2003 - abertura do centro escutista "Base Nacional da IV";[3]
2009 - o Geoparque da Arouca é reconhecido pela UNESCO pelo seu excepcional património geológico, ficando desde então a fazer parte da Rede Global de Geoparques;[1]
2014 - lançamento de um documentário sobre a aldeia;

Geografia editar

 
A aldeia da Drave rodeada pelas Serras da Arada, Freita e S. Macário.

Drave encontra-se no centro da formação montanhosa outrora conhecida por monte Fuste, que divide as bacias hidrográficas, do Douro e Vouga, e é delimitada a norte pelo rio Arda, a este pelo rio Sul, a sul pelo rio Vouga e a oeste pelo rio Paiva. As escarpas abruptas mostram à superfície blocos de granito ou xisto característicos da zona. O lugar da Drave está implantado a cerca de 600 metros de altitude num vale encaixado, cercado por altas montanhas que o ensombram durante o inverno. Na envolvente as encostas mais suaves destacam-se pelo uso agrícola em socalcos, enquanto as encostas declivosas são ocupadas por um manto vegetal contínuo, dominado por espécies arbustivas e herbáceas rasteiras. Nesta paisagem única, a terra é fértil devido aos rios e ribeiras que descem as encostas. Em Drave o rio de Palhais corre do lado norte, o Ribeirinho e o ribeiro da Bouça percorrem o lado este e sul respectivamente, confluindo no fundo da povoação formando o rio da Drave, que se desenvolve num percurso de 5 km até encontrar o rio Paivó, um dos afluentes do rio Paiva. Nesta região o povoamento do vale, junto aos rios, é disperso e os núcleos estão quase desertificados. Os lugares de Covelo de Paivó, Regoufe e Drave pertencem à mesma freguesia, e Drave dista mais de 10 km da aldeia de Covelo de Paivó.[1]

 
Capela de N. Sra. da Saúde na aldeia da Drave

A povoação desenvolve-se ao longo da encosta formando um conjunto de traçado orgânico com cerca de vinte imóveis. Estes implantam-se ao longo dos eixos viários que circundam a vertente de forte inclinação, implantando-se em pequenas plataformas adaptadas ao terreno. Ao centro da aldeia situa-se a capela que se destaca pelo seu revestimento em cal e com o telhado revestido por telha cerâmica, que contrasta com os restantes imóveis onde se observa o xisto como material dominante. As casas de habitação têm vários anexos de apoio à agricultura como palheiros, currais, espigueiros e azenhas, estes imóveis manifestam uma unidade que lhes é conferida pelas coberturas em placas de xisto. O chamado solar da Drave é a casa, com balcão e dois pisos, que se individualiza devido ao facto do piso superior ser revestido a cal em contraste com o restante edificado que, sendo em xisto, se esbate na paisagem. Os dois espigueiros de dimensões generosas serviam toda a aldeia e localizam-se na zona mais baixa, à entrada do aglomerado.[1]

Festividades editar

Na Drave há uma festa anual, a Festa de Nossa Senhora da Saúde, que é no dia 15 de Agosto e que se continua a realizar todos os anos. A festa consta de uma Eucaristia, seguida de uma procissão e um piquenique e participam regularmente centenas de pessoas.

Família Martins editar

 
Solar dos Martins na aldeia da Drave

A família Martins, das quais há registos na Drave desde 1700, foi uma das famílias mais numerosas da aldeia, e também a última a deixá-la. O padre João Nepomuceno de Almeida Martins, em 1946, tomou a iniciativa de realizar a primeira reunião familiar que juntou mais de 500 parentes, e desde então esta reunião tem-se vindo a realizar de 2 em 2 anos, tendo já sido publicada a monografia da família.[2]

Base Nacional da IV do CNE editar

 
Equipa de Gestão e Staff 2015 da BNIV.

Em 2003 o Corpo Nacional de Escutas abriu na Drave a sua Base Nacional da IV, uma centro escutista para caminheiros (escuteiros entre os 18 e os 22 anos).
Com forte componente ambiental e espiritual, este centro é já uma referência mundial, pertencendo às redes SCENES e GOOSE.
O CNE adquiriu cerca de 1/3 da aldeia em 1995 e começou os trabalhos de reconstrução em 2001 durante uma actividade denominada ROVER 2001.
Hoje em dia este centro recebe anualmente milhares de caminheiros portugueses e estrangeiros que não só participam nas actividades de reconstrução e manutenção da aldeia, como também noutras actividades aproveitando o retiro e o isolamento que a aldeia proporciona.
A BNIV é gerido por uma equipa de gestão e por uma equipa de staff que acompanham permanentemente a aldeia e que organizam anualmente actividades como o EPHATA, o TALITHA KUM, o SOL A SOL, e o DRAVIM entre outras.[3] Em 2016 o centro passou a ser designado como Drave Scout Centre.

Filmes editar

Em 2014 foi editado o documentário "Uma Montanha do Tamanho do Homem" sobre a Drave. O filme tem 93 minutos e foi lançado directamente numa edição especial em dvd e blu-ray no dia 10 de Dezembro, tendo havido uma ante-estreia na própria aldeia no dia 25 de Outubro para uma audiência de cerca de 300 pessoas. A primeira edição do filme esgotou em apenas 3 semanas, tendo estado durante todo esse tempo no número 1 do top da loja Fnac online. A segunda edição foi lançada em Março de 2015 e o filme foi adquirido e exibido pela RTP em 2016.

Livros editar

  • "Flora e Fauna - Drave" de Corpo Nacional de Escutas, 2013
  • "Drave: O rosto das Palavras" de Maria José Castro e Rui de Carvalho, 2001
  • "Monografia e árvore genealógica dos Martins da Drave" de João Nepomuceno de Almeida Martins, 1996
  • "Antropologia e Realidade Portuguesa. Drave: um passado sem futuro?" de Claúdia C. Silva, Eugénia C. Almeida, Maria Júlia Morais e Maria Madalena Soares, 1989

Músicas editar

Referências

  1. a b c d e f g Drave no Sistema de Informação do Património Arquitectónico
  2. a b c d e "Monografia e árvore genealógica dos Martins da Drave" de João Nepomuceno de Almeida Martins, 1996
  3. a b c d e f Página Oficial da BNIV

Ligações externas editar

 
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Página Oficial da BNIV
Página Oficial do Documentário "Uma Montanha do Tamanho do Homem"
Drave no Sistema de Informação do Património Arquitectónico